[26 de novembro de 2008]

Sites de Redes Sociais como Planos de Sociabilidade

Um idéia que vem martelando na minha cabeça e que precisa ainda ser inserida de uma forma mais coesa no meu trabalho é a visão dos sites de redes sociais como planos de sociabilidade. Acho que é muito importante começar a analisar as migrações das conversações entre os diversos sites e, nesse estudo, tenho percebido que os sites funcionam de forma complementar, organizando espaços sociais diferentes para os atores sociais.

Como assim?
A idéia é simples. Os sites de redes sociais seriam apropriados como planos específicos para tipos de sociabilidade, como por exemplo, para conversações com determinados tipos de públicos e determinados objetivos - e, consequentemente, determinados tipos de capital social. Ou seja, na minha rede social, os sites atuam como organizadores do processo de conversação, permitindo que eu "fale" com determinados atores em cada um desses espaços e organize minha própria rede ali.

redesniveis.jpg

A figura mostra de forma esquemática a idéia. O nó vermelho é o ego da rede estudada. Os planos coloridos representam os sites de redes sociais.

Assim, poderíamos colocar, por exemplo, seguindo o meu caso o Twitter, como um site mais "broadcast" em termos de conversação. Como é difícil seguir o papo, eu não estou o tempo todo lá e o sistema dificulta a coerência da conversação, ele é mais usado para informar e para conversações rápidas. Em compensação, é muito utilizado para divulgar informações de forma rápida É um site, portanto, cujo maior capital social, na minha rede, é cognitivo. Também tem o ponto importante de seguir determinadas pessoas e saber o que dizem, com quem falam e verificar quantos seguidores temos e quantas mensagens recebemos. Também é importante o capital social relacional, mas em menor escala.

O Facebook por outro lado, é um site onde eu só vou para ver o que meus amigos estrangeiros estão fazendo e se me enviam algum recado. É um site puramente relacional, onde o público com quem eu falo não é o mesmo do Twitter (embora, em alguns casos, seja) e que me oferece outros valores que não são os mesmos do Twitter. Ou seja, é um site complementar à minha rede do Twitter. Apesar disso, não é um site propício para todos os tipos de conversação, pois também é difícil acompanhar os assuntos (exceto se as pessoas estão nos chats).

O Orkut, ainda na mesma análise, é também um site relacional. Serve para que eu saiba o que mais amigos fazem, por onde andam e para mandar um recado ou um buddy poke de vez em quando. Eu não mantenho muitas conversações ali, a tendência é que minhas conversações mais síncronas migrem para outros sistemas - como o Plurk ou o MSN. Também no Orkut, eu tenho capital social relacional, mas voltado para a minha rede de amigos brasileiros. A importância do Orkut é basicamente estar lá, para ser encontrado pelos demais. Ele também auxilia a organizar minha rede, mas é um espaço onde eu converso pouco.

Esses três sites de redes sociais abarcariam mais conversações assíncronas e turnos mais diruptivos e com menor coerência. Teriam valores mais relacionados aos laços fracos, como capital relacional e cognitivo e relativos a redes diferentes. Já outros sites, como o Plurk, que eu uso para conversar com meus amigos, possui mais formas de capital social (institucional - marcar um evento; relacional - conversar com os amigos; congnitivo - saber quando saiu o novo episódio de TBBT; etc. etc.) e conversações mais síncronas. Mas eu uso o sistema de forma mais ativa, mais relacionada aos laços fortes. A mesma coisa nos messengers como o MSN e o Gtalk.

redesocial.gif
E o que eu quero dizer com isso?
Parece-me que os sites de redes sociais funcionam como camadas, por vezes conectando os mesmos atores de forma diferente, por vezes conectando atores diferentes e redes diferentes. Assim, quanto mais contatos em sites diferentes eu tenho com um mesmo ator, maior a multiplexidade do meu laço e maior a chance de construir com esse ator um laço forte. Quanto menor o contato com o ator em sites diferentes, maiores as chances que ele seja um laço fraco, pois menor a multiplexidade. Além disso, os sites são utilizados de forma complementar, para diferentes objetivos e diferentes valores sociais.

Entender como os sites de redes sociais são apropriados pelos atores (e eu não estou dizendo aqui que todos apropriam do mesmo modo), relacionar os valores percebidos pelas redes e conectar esses diferentes valores em uma perspectiva "multiplanos" pode ser um pequeno passo para auxiliar a entender, também, a complexidade das redes sociais expressas online. Daí a minha proposta de compreendermos esses sites como planos de sociabilidade, cada um complexificando e valorizando as conexões da rede social que passam por ali. Assim, a perspectiva de que cada site de rede social atue como um plano, complexificando a rede, permitindo novas formas de conversação e apontando para valores mais complexos pode ajudar a estudar as redes sociais de forma mais completa.

Referências:
Essa idéia que comentei aqui está sendo desenvolvida como paper. Mas as referências que citei, em termos de sites de redes sociais: o artigo da danah boyd e da Nicole Ellison com o meu adendo da apropriação (sites de redes sociais são sites apropriados como espaços de expressão das redes sociais); tipos de capital social citados construídos por Bertolini e Bravo (artigo de 2001, não está mais online); apontamentos sobre as redes e a conversação de artigos meus.
por raquel (11:41) [comentar este post]


Comentários

phoenix7 (novembro 26, 2008 1:19 PM) disse:

Gostei da sua iniciativa, acho que cada um usa de uma forma, eu uso o orkut para fazer amigos, o facebook para me relacionar mais intimamente com os mais próximos e o twitter para conversas internas da blogosfera.

No caso, o orkut seria um captivador, o facebook um mantenedor e o twitter um acessório importante de trocas de links entre blogueiros.

Até agora, eu não tenho visto pessoas sem blogs no twitter, pode ser que eu esteja errado...

Alexandre Gamela (novembro 27, 2008 3:59 PM) disse:

Eu andava a pensar há já algum tempo nesses graus de relações entre redes sociais. Por exemplo, eu tenho mais seguidores no Twitter que visitas diárias no meu blog (a maior parte das vezes); dos meus contactos no MSN ninguém usa o Twitter, menos aqueles que conheci através do Twitter; raramente adiciono pessoas, mas quando me adicionam e se têm muitas afinidades adiciono-os nas redes sociais como o Facebook, e se forem contactos profissionais, no LinkedIn;por vezes adiciono no Last.fm. Depois posso inserir o blog desses novos contactos na lista do meu Google Reader. O que quero demonstrar é que a partir de um primeiro contacto o relacionamento pode-se definir a vários níveis- mais pessoal no caso do MSN e Last.fm, ou mais profissional no caso do LinkedIn- mas essa escolha denota uma gradação do tipo de relação que decidimos estabelecer com essa pessoa, que no Twitter muitas vezes é um grupo inteiro. E a melhor parte é quando se leva essa rede para o mundo real. E para o Phoenix7, eu tenho contactos no Twitter sem blog, apesar de serem muito participativos e uma minoria, o que me desilude porque é sempre bom saber um pouco mais sobre a pessoa com quem conversamos.

Força no trabalho, quando o paper estiver terminado avisa aí.

Débora Carneiro Tura (novembro 28, 2008 7:27 PM) disse:

Raquel!
Foi um prazer enorme conhecê-la lá na Ucpel! Sou apaixona por blogs e usei como referência textos seus e do Primo na minha monografia da especialização. Veja o que investiguei: o (s) tipo (s) de interação (s) e de assistência online qoe podem favorecer o desenvolvimento de habilidades linguisticas em LI no Ensino fundamental.
Partimos do principio que os blogs são ferramentas de comunicação que permitem o oferecimento de andaimes (WOOD et al, 1976; REIS, 2004) em uma interação pedagógico-digital a partir da formação de sistemas complexos em redes sociais virtuais (PRIMO & RECUERO, 2003).

Agora vou começar a experimentar a twittar com os colegas educadores nota 10! O blog, para a maioria deles é um tremendo bicho-papão! Ao contrário do que meus alunos acham: eles adoraram interagir com outros estudantes brasileiros e amigos virtuais estrangeiros por meio de blog!
O pe também muito gratificante p mim! Voltei a sentir prazer em ministar as minhas aulas! Com esse projeto, rojeto foi um sucesso o ensino e aprendizagem da LI teve sentido!

Estou muito feliz por ter tido a oportunidae de desenvolver esse projeto e ter ao meu lado pessoas maravilhosas que me ajudaram nessa caminhada! formamos uma rede social de aprendizagem e colaboração no ciberespaço!

abraços, Débora

raquel (novembro 29, 2008 10:48 AM) disse:

Oi Alexandre!

Adorei tuas considerações. Acho que realmente precisamos começar a discutir essas coisas. :)

raquel (novembro 29, 2008 10:49 AM) disse:

Phoenix7 Tb acho... as coisas estão interconectadas. Acho que é preciso levar isso em conta especialmente quando começamos a falar de autoridade, por exemplo. :)

raquel (novembro 29, 2008 10:50 AM) disse:

Débora,
O prazer foi meu. Muito obrigada pela referência e boa sorte por lá. :)

José Calazans (dezembro 2, 2008 7:47 PM) disse:

Raquel, seu blog é mesmo imperdível. Agora, sobre essa mania de as pessoas se cadastrarem em diferentes redes sociais, com diferentes interesses, há uma tentativa do mercado de criar serviços que juntem tudo isso em um pacote só: openID, navegadores e até o novo Power.com, site baiano que os americanos estão chamando de a Meebo dos sites de redes sociais. Não boto muita fé nesses serviços agora, mas é uma tentativa.

Roberto (janeiro 31, 2009 12:47 PM) disse:

Oi Raquel,
Concordo com o seu ponto de vista. Nas discussões sobre a Web Social, vários autores discutem que o sucesso de um software social está diretamente ligado ao objeto que ele foca. Existem vários objetos, mas os sistemas devem possuir um foco principal: o que se liga direitinho com o que você mencionou sobre o Orkut, Facebook, Twitter...etc.

Deixo dois links aqui, talvez você já os conheça e talvez sejam interessantes.

Abraço
http://www.zengestrom.com/blog/2005/04/why_some_social.html

http://interconnected.org/home/2004/04/28/on_social_software

raquel (fevereiro 4, 2009 12:11 PM) disse:

Obrigada pelos links, Roberto!

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