[15 de fevereiro de 2012]

Sobre jogos, Facebook e apropriação

166384-farmville-pacman-mario.jpgEm 2009, tive a oportunidade de realizar um longo trabalho para uma empresa americana de jogos para o Facebook. Nesse trabalho, pude estudar a fundo vários jogos e vários usuários e compreender um pouco da dinâmica dessas práticas sociais e sua evolução (um dos textos está aqui). Hoje, estava lendo várias matérias sobre a Zynga e o fato de que os jogos antigos ainda são os mais rentáveis da companhia, sobre a questão das práticas de jogo e do aumento pequeno do número de jogadores. Fiquei pensando em uma série de coisas que eu aprendi em 2009 e que ainda parecem relevantes.

Os jogos, as redes e os Sites de Rede Social

Em primeiro lugar, os jogos da Zynga, como a maior parte dos "jogos sociais" (aqui me refiro aos jogos que funcionam prioritariamente em SRSs) são bastante simplificados. Os mecanismos de jogo, os gráficos e etc. são muito aquém daqueles que os gammers estão acostumados. Por isso, são jogos que atingem outra fatia da população, o jogador "casual", ou seja, quem só quer jogar um pouquinho para desestressar e não está interessado em "terminar" o jogo ou mesmo ficar horas para conseguir alguma recompensa (o perfil do jogador é diferente, embora vários acabem ficando jogando por várias horas). Além disso, esses jogos têm um claro apelo social: boa parte da diversão vem do fato de seus amigos também jogarem, de uma rede social "adotar" o jogo.

A grande questão aqui é que as redes sociais interagem com o jogo criando novos sentidos e novas práticas, que constituem na apropriação. Assim, jogos como o Mafia Wars, o primeiro grande sucesso da Zynga, só funcionaram porque os usuários construíram um "mundo" além do jogo (falei sobre isso aqui), uma imensa participação da rede fora do sistema da Zynga e dentro do próprio Facebook. O Farmville, do mesmo modo, também é um jogo que teve uma rica apropriação fora dele, através da personalização das fazendinhas, da competição pela aparência da mesma e de outros sentidos criados pelos usuários

O principal problema é que essa apropriação não é garantida. Não há fórmulas mágicas para fazer um jogo social de sucesso. A cada novo jogo criado, mudam-se as configurações do sistema, mudam-se os usuários. Isso porque esses jogos são dependentes das práticas das redes no Facebook, e essas práticas estão sempre mudando. O Facebook de hoje não é o mesmo de seis meses atrás e nem o mesmo do ano passado. Muito menos o mesmo de 2008 e 2009, quando Mafia Wars e o Farmville explodiram. O que eu quero dizer com isso? Novas apropriações surgem o tempo todo e vão mudando o sistema e isso reflete nas práticas sociais que refletem também nos jogos. Enquanto em 2009 o FB era largamente usado para jogar aqui no BR, e os aplicativos constituiam-se na parte mais interessante do sistema, hoje há outros espaços disputando a atenção, como a própria timeline que, com a possibilidade de bloquear as inúmeras chamadas/informações dos jogos também contribuiu para essa mudança. Por outro lado, outras formas de disputar a atenção emergiram, como os memes (que todo mundo reclama, mas continua olhando). Essas mudanças de configuração no sistema afetam também o modo através do qual as pessoas vêem os jogos e o engajamento neles.

Aprender a adaptar

Ou seja, meu argumento é que não é surpreendente que os novos jogos da Zynga baseados na mesma fórmula e com elementos quase iguais não estejam, nessas configurações atuais do FB, indo tão bem quanto os antigos. Embora meu exemplo aqui seja focado na apropriação brasileira, vejo indícios semelhantes de uso em outros países. Não é que a fórmula canse. É que o sistema mudou e novas coisas passam a ocupar o tempo das pessoas. Vejam, não estou dizendo que os jogos vão acabar, apenas fazendo uma consideração a respeito da inovação e da influência das apropriações das redes no pré-existente. O capital social muda suas formas de imbricar-se na rede. Os valores mudam. Acredito que ainda há muito espaço para os jogos sociais, mas é preciso observar a apropriação dos usuários para poder manter a inovação. A adaptação é fundamental.

A questão-chave aqui é que penso que é uma lição válida para todos que trabalham com mídia social: O sistema está sempre mudando. E quando eu digo sempre, quero dizer SEMPRE mesmo. O que deu certo ontem pode não dar hoje. O que provou ser uma fórmula de sucesso por dois meses pode subitamente resultar em fracasso. De novo: não há formulas máginas. Pra mim, a única forma de entender a mídia social é estar SEMPRE ouvindo o usuário, sempre observando o usuário e estar sempre atento ao que está acontecendo no sistema. As práticas de jogo nos sites de rede social, como todas as práticas nessas ferramentas estão SEMPRE mudando. E é preciso adaptar as propostas, criando condições para que as apropriações surjam, com base naquilo que são os valores de capital social no sistema. Assim, é preciso adaptar-se constantemente, e nunca perder de vista o campo e as mudanças que emergem nele.

Para acompanhar mais sobre jogos sociais:

Quem tem estudado mais a fundo os jogos é a Rebeca Rebs.
Inside Social Games
Dados dos jogos no Facebook.
por raquel (07:45) [comentar este post]


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