[27 de agosto de 2009]

Social Games e o Facebook

n657253452_693524_2130.jpgHá algumas semanas estou mergulhada no universo dos social games no Facebook. E um dos jogos que mais chamou minha atenção nesse período foi o FarmVille, da Zynga. Não que o jogo fosse exatamente uma novidade, era apenas uma cópia do FarmTown, como muitos dos jogos que vão surgindo por lá nos últimos tempos (o jogo foi lançado em junho deste ano). Mas o Farmville foi uma cópia melhorada, com gráficos melhores e que rapidamente começou a crescer entre os usuários do Facebook. Há alguns dias, inclusive, passou a ser o aplicativo que mais cresce na ferramenta, e hoje deparei-me com a notícia de que pode ser, também, o social game com crescimento mais rápido. Mas o que são esses jogos e por que são interessantes para os pesquisadores? Comecemos do princípio.

Os Social Games e o Facebook

Utilizar um site de rede social como plataforma de lazer é apenas óbvio e os desenvolvedores do Facebook têm feito isso já há algum tempo. Dentro deste nicho, o desenvolvimento de jogos parece ter encontrado uma força nova, especialmente naqueles jogos chamados "sociais", ou seja, cujo valor é construído dentro da rede social. Assim, vários jogos do Facebook, como o Yakuza Lords, o Mafia Wars e etc. precisam que os jogadores cooperem com seus amigos para vencer outros grupos (mafias). Em outros jogos, como no FarmVille a diversão está em competir diretamente com seus amigos e verificar o quanto você consegue ser melhor que eles. De um modo ou de outro, o valor social desses jogos é potencializado pela ferramenta, que permite que os atores publiquem e dividam resultados com sua rede social, negociem presentes, compitam e cooperem de forma coletiva. Além disso, esses jogos podem ser instrumentos de reputação (divulgar entre seus amigos que você é o melhor), de sociabilidade (conhecer pessoas, participar de fóruns, ampliar a rede social para melhor atuar no jogo), de suporte social (apoio da rede nas tarefas difíceis) e etc. Ou seja, em última análise, o Facebook permite canalizar parte do capital social construído pelas suas redes também para os aplicativos que são adotados por elas.

O advento desses jogos é apenas um dos elementos que ampliam o interesse no Facebook, mantendo a base de usuários ativa e as redes sociais trocando informações e construindo valores. Mas mais do que isso, eles apresentam todo um fenômeno um pouco diferente de interação social na ferramenta.

O Caso do FarmVille

gameBigfarmville-main_Full.jpg O sucesso do FarmVille vem na esteira do próprio crescimento do Facebook. Como seu tipo de jogo privilegia os laços fortes, ele se espalha entre grupos mais coesos o que eleva a competição entre os atores. Também as possibilidades de personalização da fazenda e os belos gráficos são reforços positivos para o retorno do jogador. Apesar do crescimento, no entanto, o FarmVille ainda tem problemas característicos de todos os jogos do Facebook: a lentidão e a falta de sincronia com os servidores. Além disso, a cada ataque que o Facebook sofre, os jogos também caem. Outros problemas são internos ao proprio desenvolvimento do jogo: o FarmVille pode perder os early adopter pela falta de inovação e desenvolvimento para "segurar" o interesse desses usuários. Depois de um certo nível, que pode ser atingido por algum jogador mais focado muito rapidamente, o jogo perde o desafio, pois torna-se chato plantar e replantar os campos e não há incentivo para continuar jogando. Finalmente, o Farmville tem ainda o problema básico de monetização de todo o aplicativo do Facebook.

Apesar dos problemas, no entanto, esses jogos ainda representam apenas um primeiro momento em termos de jogos em sites de redes sociais. Vale a pena ficar de olho para entender como a apropriação desses jogos vai acontecer nesses sites, que valores novos serão criados/difundidos e, ainda, como tudo isso vai impactar nas redes sociais dos jogadores. Um ótimo tema de pesquisa. :-)
por raquel (08:12) [comentar este post]


Comentários

Thiago S. Rosa (agosto 27, 2009 9:11 AM) disse:

Sem dúvida, os jogos são um dos principais motivos de crescimento do Facebook em relação a outras social media. O Orkut e o Myspace utilizam uma plataforma integrada de desenvolvimento que não tem o mesmo nível de maturidade que outras. E do ponto de vista técnico, uma plataforma de desenvolvimento poderosa aumenta a possibilidade do bom uso de qualquer ferramenta.

José Calazans (agosto 28, 2009 12:59 PM) disse:

Raquel, também me chama a atenção esse aumento do uso de jogos no Facebook, que é puxado pelas donas de casa da faixa dos 40 anos, de menor renda e baixa escolaridade e moradoras de cidades do interior dos Estados Unidos, que sempre foram as maiores usuárias de jogos casuais na internet, como Pogo. Por isso, pondero que seja apenas a migração para o Facebook de um comportamento que sempre existiu em sites específicos de games.

E acho que devemos considerar que, diferentemente do observado no Brasil, ferramentas sociais nos Estados Unidos e em outros países são usadas com fins específicos que não o relacionamento pelo relacionamento. Aplicativos de maior sucesso aqui, mesmo no Facebook, são os de aniversários e de abraços virtuais nos amigos, enquanto lá fora são os de entretenimento individual e os de utilidades.

vanessa bohn (agosto 31, 2009 8:15 PM) disse:

Olá Profª Raquel Recuero,

Sempre que eu estou online visito a sua pagina e blog para aprender mais sobre as redes sociais.
Como hj é dia do blog, criei um post comemorativo e indiquei o seu blog para os meus visitantes conhecerem mais sobre o seu trabalho.

Grande abraço,
Vanessa Bohn

lsschutz (setembro 2, 2009 5:35 PM) disse:

Acho que o início disso foi o Second Life, essa espécie de mashup entre jogos e redes sociais, o problema é que o SL apareceu cedo demais.

Roberto Lemos (setembro 6, 2009 8:16 PM) disse:

Professora Raquel,

Sou professor de Comunicação Social em Brasília e gostaria de ver a possibilidade da senhora dar uma palestra via teleconferência para a minha turma sobre mídias digitais.
Aproveito para parabenizá-la pelo blog, indispensável.
Att,

Roberto Lemos

Iago (setembro 11, 2009 8:26 PM) disse:

Olá Raquel.

Acompanho seus post e estou usando muitos dos seus trabalhos no meu trabalho de conclusão de curso. Gostaria de saber se haveria a possibilidade de vc me enviar modelos de metáforas de rede (images).

obrigado.

Pedro Rodrigues (setembro 14, 2009 5:56 PM) disse:

Ola Raquel, tudo bem?

Sou o Pedro, trabalho na 2PRO Comunicação. Gostariamos de incluí-lo em nossa listagem de blogueiros para que você receba informações e o convite de participação para o IV Mobilefest, festival latino-americano de integração das tecnologias móveis, entretenimento interativo e cultura digital, além de outros eventos que realizaremos.

Para isso, envie-nos um e-mail e um telefone de contato.

Sua presença e opinião é muito importante para nós!

Abraços,
Pedro.

Deco Ribeiro (setembro 16, 2009 10:20 AM) disse:

Oi Raquel! Vim te fazer um convite e vejo que muitosoutros comentaristas tiveram a mesma ideia de fazê-lo por aqui... =D

Gostaria de convida-la a participar da Conferência Livre de Comunicação e Juventude, que acontecerá em Brasília, nos dias 25 e 26 de setembro. A proposta é reunir jovens comunicadores para discutir Direito à Comunicação, Novas Tecnologias e Juventude & Comunicação. Gostaríamos muito de ter vc na mesa de Novas Tecnologias, se possível.

Aguardo em e-mail seu, ok? Qq coisa tb estou no twitter, @decows

Abraço!!

Rafaelle (setembro 17, 2009 1:23 PM) disse:

Olá Raquel, td bem!! Seus textos tem ajudado por demais minha mono, estou falando sobre redes sociais na politica se estiver textos ou indicação de livros peço a sua ajuda. beijos

Hélio Sassen Paz (setembro 17, 2009 4:30 PM) disse:

Raquel,

O Farmville é menos colaborativo e apresenta uma resposta muito mais lenta se comparado aos games no estilo RPG, como o Mafia Wars.

O que eu curto nessa tênue colaboratividade do Farmville são as surpresas: quando estou na minha página inicial do Facebook, algum contato meu pode anunciar um bicho perdido ou pode estar comemorando algum achievement. Se eu for rápido e sortudo o suficiente ou adoto o animal, ou ganho alguma grana e experiência. Isso vale mais do que o enfadonho processo de sair de uma interface pra entrar em outra na hora de ajudar e de enviar presentes.

Ao mesmo tempo, o Farmville tem um potencial educativo praticamente inexplorado. Eu falo inglês, mas a Lu (minha esposa) não. Sempre que vamos ao super, quando chegamos ao hortifruti, ela mesma começa a procurar por cabbage, plum, cherry, etc.

Claro que eu sou um velho, mas daria pra ensinar economia doméstica e também mostrar tanto o trabalho como a gratificação que dá pra gerenciar uma pequena propriedade rural. Em pouco tempo, fiz várias regras de três pra determinar quais produtos gerariam o melhor ROI (retorno sobre investimento).

O jogo poderia ter intempéries e alterar a valoração das sementes em função da sazonalidade das estações do ano. Aí, sim, teria um quê de Banco Imobiliário melhorado com um jogo de administrar uma "república de bananas" em uma ilha que eu tinha no Mac há anos atrás.

Tem o SimFarm, que é antigo e bem complexo. Mesmo assim, ele não apresenta a coziness do Farmville.

Enfim... Com o que o Farmville oferece, já daria pra dar uma aula pra estudantes do 1º grau sobre economia doméstica. E ele também funcionaria como um excelente estímulo para hortas comunitárias em escolas públicas e em comunidades carentes.

[]'s,
Hélio

Antonio (outubro 17, 2009 6:03 PM) disse:

Nas rodinhas de conversa das meninas, Farmville ganhou do Scrap MTV =)

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