[13 de abril de 2012]

STF, Mídias Sociais e Democracia (parte 1)

Nos últimos dias estive acompanhando o julgamento, pelo STF, a respeito da permissão de interrupção da gravidez em casos de anencefalia. Esse foi um dos eventos onde, independentemente da opinião, a mídia social mostra seu caráter mais democrático. Coletei mais de 86 mil tweets a respeito do evento, via 140kit e pude analisar várias presenças, conversações e opiniões sendo propagadas. Em que pese a construção de arenas de conflito, em vários casos, a esfera pública criada pela mediação é evidentemente democrática.

A Conectividade e as Redes Heterogêneas (ou heterófilas)

Um dos elementos que me parece relevante considerar, em princípio, é a questão da conectividade. Grupos sociais tendem a ser bastante homogêneos, ou seja, a congregar indivíduos que tem backgrounds, crenças, classe social e etc. bastante semelhantes. Em geral, as pessoas com quem temos maior contato, ou seja, nossos laços mais fortes, costumam ser extremamente semelhantes a nós mesmos. A heterogeneidade é dada pelos laços mais fracos (pessoas que são diferentes de nós), com quem, no espaço offline, interagimos muito pouco. Um dos grandes fatores de mudança da mídia social é tornar as pessoas mais conectadas. A prática de adição de pessoas na rede torna a todos muito mais conectados e com isso, expõe os grupos a uma maior heterogeneidade. Ou seja, porque o Facebook, o Twitter e outros sites de redes sociais nos deixam mais conectados, eles também são capazes de nos colocar em contato com pessoas diferentes de nós e com opiniões e pontos de vista que nem sempre compartilhamos. Isso é potencialmente gerador de conflito? Claro. Mas também é potencialmente gerador de novas idéias, questionamentos e dúvidas.

A Mídia Social e a Esfera Pública no Julgamento: Alguns Apontamentos

Apenas para exemplificar essa questão, reproduzo abaixo um dos mapas que fiz a respeito dos tweets que continham palavras-chaves referentes ao julgamento (amostra de 4330 tweets, usando o NodeXL). Os nós estão aumentados pela quantidade de seguidores que foram influenciados pelos tweets (ou seja, quantas pessoas que seguiam A efetivamente tomaram parte na conversação). Quanto maior, mais pessoas. A cor dos nós representa a posição: Azul eram favoráveis, vermelhos eram contrários, verdes eram os veículos que estavam fazendo a cobertura.

seguidoresabortostf.png
Para ver o grafo maior, basta clicar.

Vejam que, curiosamente, ambos os lados estão interconectados. Há vários "usuários-pontes" que fazem essa interconexão por seguirem/comentarem/citarem posicionamentos diferentes. Há citações entre os defensores/críticos dos posicionamentos dos ministros. Também é interessante que entre os mais citados estão, justamente, os veículos que estavam fazendo a cobertura minuto a minuto, mostrando que houve um interesse generalizado em repassar essas informações. Para mim, são esses elementos que tornam a mídia social um importante espaço de difusão e debate de idéias.

Nos próximos dias vou mostrar mais dados, como por exemplo, como os ministros do STF acabaram por tornar-se "celebridades" momentâneas durante o julgamento, tornado-se TTs, quais palavras foram mais associadas com essa perspectiva e que outros elementos nos informam mais a respeito dessa nova esfera pública.
por raquel (10:04) [comentar este post]


Comentários

Agência Riot (abril 30, 2012 4:36 PM) disse:

Muito interessante o post relatanto a importância das redes sociais mostrando a sua opnião em assuntos polêmicos e o poder de mudar opniões.

Parabéns pelo post e pelo acompanhamento dos tweets.

Eduardo Leal

João Marcelo de Rezende (maio 3, 2012 8:28 PM) disse:

Parabéns pela interpretação dos dados e leitura sociológica do fato!

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