[09 de agosto de 2010]

Twitter, Influência e Passividade: Reflexões

redeseguidores.jpgSemana passada o pessoal do time do Bernardo Huberman, do HP Social Media Lab divulgou um novo estudo construído também pelo Daniel Romero, Wojciech Galuba e Sitar Asur. O trabalho focou o Twitter como estudo de caso e discutiu elementos como popularidade e influência a partir das práticas de retweet e do número de seguidores. Algumas conclusões interessantes do trabalho com comentários meus (em itálico):

  • Os autores diferenciam popularidade de influência. Popularidade é medida, de acordo com o trabalho, pelo nível de atenção que um determinado usuário recebe através de seus seguidores, na forma destes "receberem conteúdo gerado por ele". Influência, por outro lado, é determinada pela propagação desse conteúdo na rede. Ou seja, enquanto popularidade poderia ser medida pelo número de seguidores, influência somente pode ser medida pela capacidade de um usuário de gerar comportamentos nos seguidores, seja através de retweet, seja através de @s. Falo algo semelhante no meu livro, mas não focando a partir de formas de medir.


  • A competição no Twitter não é pelo número de seguidores, mas pela atenção dos seguidores. O estudo mediu a quantidade de RTs que os usuários davam (2,5 milhoes de usuários) e descobriu que a grande maioria dos tweeters é passivo, ou seja, não se engaja ativamente na propagação de informações (aka. Retweet). Os autores, portanto, mostraram que há um imenso percentual de usuários que apenas "consome" mídia, sendo passivos na ferramenta. Fico pensando se essas contas chegam a realmente consumir alguma coisa. Eu diria que isso pode ser um forte indicativo de que há um grande percentual de contas "mortas" na ferramenta. Não consigo imaginar, na prática, usuários que não se engajam em RTs e nem em @s.


  • Foi encontrada uma correlação fraca entre o número de seguidores e a influência. No paper, os autores descrevem um caso onde um usuário possui uma quantidade enorme de seguidores, mas pouquíssima capacidade de influenciar esses seguidores. O que todo mundo já sabe: ter um milhão de seguidores não quer dizer nada, porque não significa que você tem a atenção deles. Ter seguidores não significa ter algum tipo de influência na rede. Parte disso é devido a imensa quantidade de bots e contas de spam que povoam o Twitter, creio eu, sem falar no uso de scripts para "angariar seguidores".


O Twitter e a Dissolução do Poder de Influência

A mim parece que o Twitter enfrenta uma dissolução do poder de influência. Quanto mais gente adota a ferramenta, maior é a dificuldade de acompanhar aquilo que está sendo dito. Com o crescimento, a rede tende a se complexificar, com mais gente seguindo mais gente. Assim, a influência tende a se dissolver através da competição pela atenção. Quanto mais gente alguém segue, menor a quantidade de atenção dispensada a cada um. Na prática, isso significa que, se eu sigo 400 pessoas e tenho 10 minutos disponíveis por dia para o Twitter, minha atenção será dividida pela quantidade de tweets que cada uma das 400 pessoas postou e pelo tempo disponível que tenho para ler. Basicamente, isso significa dizer que, se a média do indegree das redes sociais no Twitter está aumentando, a atenção e a influência deveriam estar diminuindo entra a maioria das contas.

Isso se deve a dois pontos: Primeiro, o caráter dinâmico das atualizações do Twitter. Vários colegas que estudam a ferramenta, por exemplo, costumam dizer que atualizações em dias determinados da semana e em horários determinados tendem a receber mais atenção do que em outros. Uma atualização que é feita em um período onde a maioria dos seguidores não está online tende a ser rapidamente "apagada" por diversas outras atualizações subsequentes de outras contas (passiividade). Já a atualização que é feita quando há muita gente online tem maior chance de receber atenção, mas também é mais rapidamente esquecida no fluxo de tweets que são disparados por todos os participantes da rede. O segundo ponto é que com uma maior quantidade de pessoas adotando a ferramenta, há também uma maior chance de que laços mais fortes também estejam mais presentes na ferramenta e que ocorra um maior uso conversacional. Como estratégia contra a grande quantidade de tweets recebidos, muitos usuários optam por concentrar sua atenção nas @s recebidas (coisa que os spammers já estão percebendo). Com isso, tendem a usar a ferramenta mais para interagir com outros do que, necessariamente, repassar informações.

Isso pode trazer uma mudança bem importante na apropriação, que vou discutir em outro post (esse já está muito grande) em uma outra vez. :D
por raquel (08:09) [comentar este post]


Comentários

Nicolau Frederico de Souza (agosto 12, 2010 6:10 PM) disse:

Professora e Doutora Raquel,
Através da lista "Comunicação Pública", editada pelo colega Carlos Scomazzon, gaúcho como a senhora, jornalista e atuando na Câmara MUnicipal de Porto Alegre, fiquei sabendo de seu livro e de suas pesquisas.
Embora não me dedique à pesquisa acadêmica, sou um entusiasta das redes e comunidades virtuais (RCV). Gostaria de manter contato coma senhora por e-mail e trocar informações. Edito um blog semanal sobre MPB (http://www.nominuto.com/blog/espaco-mpb/) e sou administrador em algumas comunidades virtuais da CATIR (Comunidade de Aprendizagem, Trabalho e Informação em Rede) do Ministério da Agricultura.]
Atenciosamente,
Nicolau Frederico de Souza
Jornalista, Blogueiro e Twitteiro
Twitter: @nicsouza

Cíntia Dal Bello (agosto 15, 2010 7:29 PM) disse:

Raquel, um rápido comentário sobre esta linha: "Não consigo imaginar, na prática, usuários que não se engajam em RTs e nem em @s". O uso que faço do twitter aproxima-se muito do que os pesquisadores chamaram de "usuários passivos". Beneficio-me dos tweets que chegam (nem sempre, é verdade, pois nem tudo é absolutamente relevante) e despendo muito pouco tempo escrevendo ou reencaminhando tweets. Fico muitos dias sem entrar na plataforma - se minha conta não está morta na prática (pois ainda não abandonei "de vez" o Twitter), talvez possa ser considerada uma conta que "agrega" muito pouco, ficando à margem e passando ao largo do furor dos verdadeiros "twitteiros". Espero que este testemunho possa contribuir com suas pesquisas. Um abraço!

Jeniffer Santos (agosto 19, 2010 10:36 PM) disse:

Olá, Raquel,
Mais um excelente texto seu que leio ;)
Sobre os usuários passivos ( que a Cíntia tb comentou), é bem verdade que existem pessoas q possuem conta no twitter apenas para acompanhar determinados perfis, pessoas em busca de conteúdo, e que não produzem mt conteúdo no twitter.
Casos como, fãs que acompanham famosos, ou pessoas que acompanham perfis relevantes em determinada area profissional só para se manter atualizado.

Acho um ponto importante no seu texto, a questão dos laços fortes, acredito que quanto menor o número de amigos aquela pessoa tem no twitter, é pq é maior o interesse dela em preservar os laços fortes adquiridos ou não com o uso do twitter. E isso acaba criando, realmente, um uso conversacional maior. Percebo isso no meu twitter mesmo, tem momentos que apenas fico interagindo com algumas pessoas que tenho interesse, mas tem uma outra coisa também, geralmente essa conversa parte de algum conteúdo postado por mim ou alguém, que me leva digamos a "puxar papo". É diferente do "Olá, tudo bem?" que usamos nos bate-papos.

Assim como a Cíntia, espero tb contribuir nas pesquisas rs
Abraços!

Cyntia Bravo (setembro 21, 2010 7:51 AM) disse:

Adorei as análises! Também tenho dificuldade de entender como um usuário não se envolvem com @s e rettwets. Acho tão mágica a possibilidade de consumir conteúdo e discutí-lo em apenas algumas linhas que é difícil aceitar aqueles que preferem deixar de interagir. Inclusive, este é o erro mais comum de grandes marcas que criam perfis sociais, mas apenas abastecem de notícias sobre suas atividades e não dão atenção aos seus consumidores. O melhor do Twitter é poder ser interessante e social ao mesmo tempo. Por que não explorá-lo ao máximo então?
Bjos,
@cyntiabravo

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