[26 de março de 2009]

Uma e muitas Redes Sociais

fotostwitter.jpgUma das perspectivas de que tenho partido no meu trabalho é que as redes sociais que podem ser observadas na Internet não são todas iguais. Já falei sobre isso várias vezes por aqui e em outros lugares. Então, a premissa básica é que temos várias redes sociais. Na Internet, podemos dividir nossas redes sociais em espaços característicos, os sites de redes sociais. Assim, eu, por exemplo, tenho uma rede profissional no Linkedin, uma rede de conhecidos no Orkut, uma rede de amigos mais próxima no live messenger etc.

O fato é que utilizamos sites diferentes para lidar com redes sociais diferentes e também escolhemos informações diferentes para divulgar em cada um desses espaços. Essas escolhas passam pela fragmentação dessas redes e pela percepção que temos delas em cada espaço. Essas escolhas são apropriações das ferramentas da Internet. Assim, minha rede social no Twitter não é a mesma do Orkut, que não é a mesma do Plurk e não é a mesma do Facebook. Assim, é preciso pensar em como as pessoas estão lidando com suas várias redes sociais na medida em que o uso dessas ferramentas se prolifera e novas perspectivas de utilização vão sendo construídas. O fato da Internet permitir que os laços sociais sejam mantidos de forma independente da conversação e da interação, ou seja, conectando as pessoas e mantendo-as conectadas é um dos mais importantes fatores de impacto do que chamamos "rede social na Internet".

Essa percepção traz o ponto que me parece mais importante. As redes sociais não são iguais e estão ficando especializadas nas várias ferramentas, construindo camadas sociais de acordo com os valores que percebemos em cada uma, Esses valores são o capital social dessas redes. Assim, há redes utilizadas para construir reputação, redes utilizadas para conversação e suporte social, redes utilizadas para informação e etc. E essas redes possuem características especiais, que podem ser típicas das ferramentas utilizadas ou do grupo que a apropriou. E essa apropriação pode também ser modificada com o tempo e com a adição de novas funcionalidades. Em cada um desses sites, portanto, temos também várias redes.

É o caso do Twitter. Há uma lista de seguidores e uma lista de seguidos, que são conexões diferentes, com relações de poder diferentes. A lista de seguidores, por exemplo, é uma lista que não pode ser controlada diretamente. É resultado de muitos elementos, como a qualidade das informações divulgadas, o capital social construído pelo ator e etc. A lista de seguidos, por outro lado, pode ser controlada diretamente. É a lista de informantes, amigos e pessoas cujas mensagens desejamos receber. Trata-se de outra relação de poder. A lista de "@s", ainda uma terceira lista, mostra outra rede. É a rede de indivíduos com quem mantemos conversações. Essa lista tem ainda outros valores e outras relações de poder. Assim, o Twitter é uma e várias redes sociais ao mesmo tempo. É em cima dessa premissa que eu e a Gabriela Zago escrevemos o artigo "Em busca das redes sociais que importam: Redes sociais e capital social no Twitter", que foi aceito para ser apresentado na Compós deste ano (em Belo Horizonte). Ainda não posso dar mais detalhes, mas assim que apresentarmos o trabalho, disponibilizo para download aqui no blog. Aguardem. :)
por raquel (17:10) [comentar este post]


Comentários

Luciana Carvalho (março 26, 2009 6:19 PM) disse:

Acabo de descobrir o twitter, mas já estou sentindo o quão ele difere de outras redes sociais da internet. Sou mestranda no PPGCOM da UFSM e meu objeto é na área de webjornalismo participativo. Quando falas nessas relações de poder, penso na relação entre o dispositivo e o leitor-internauta colaborador... Também, assim como no caso das redes sociais, estão imbricadas nesta relação, estratégias de visibilidade, identificação etc. Fiquei curiosa para ver o trabalho na Compós - será a primeira vez que vou!
Estou te seguindo no twitter!
abraço

adriamaral (março 26, 2009 8:36 PM) disse:

Ontem tive umas experiências conversacionais bem interessantes via twitter que me permitiram ver outro lado da ferramenta q eu nao tinha usado ainda, vou escrever sobre isso depois...

E dai a importancia de destacar as difenrenças entre as redes, as redes cujo nicho sao a musica por ex sao bem diferentes...acho que o GT da Compós vai estar legal por isso, tem varios trabalhos sob diferentes perspectivas. bjooo

César (março 26, 2009 11:31 PM) disse:

"A lista de seguidos, por outro lado, pode ser controlada diretamente. É a lista de informantes, amigos e pessoas cujas mensagens desejamos receber."... E é aí penso, observemos um twitteiro que segue mais de 5.000 outros, imagine a quantidade de informação que ele recebe durante o dia... Estaria ele querendo de fato receber estas informações? Como controlar e/ou filtrar essas mensagens de acordo com o interesse que o motivou a seguir estes outros? Seria uma representação clara da era de enxurrada de informações, onde o que vale é quantidade de mensagens recebidas, embora grande parte delas sequer será absorvida, lembrada? É um fator de definição identitária seguir tantos atores? Cara, mais perguntas estão surgindo o tempo todo... Ansioso pelo artigo.

Abraço!

Rafael Reinehr (março 27, 2009 12:14 AM) disse:

No filme Edukators, a mensagem final de que "A revolução não será televisionada" é uma metáfora (ou seria uma mensagem direta) muito forte de que a grande mídia corporativa já não serve mais para informar, tão somente para moldar a informação. Pergunto-me, então: A revolução será twittada?

raquel (março 29, 2009 10:22 AM) disse:

Rafael: boa pergunta! hahahahaha

rafael cardoso (abril 7, 2009 12:37 AM) disse:

não vejo porque tanta filosofia em cima de coisas tão fúteis. quanta ladainha pra dizer o óbvio.

orkut e twitter são brinquedos e não fariam a menor diferença se sumissem amanhã. Um é só um site pra interagir e o outro só um microblog. Deu, é isso. Filosofar infinitamente em cima disso é delírio.

Nato Soares (março 6, 2010 12:36 PM) disse:

Acho que existe muita bobagem na internet! Mas fica a criterio de cada um como utilizar as ferramentas que vão aparecendo... Concordo com a Raquel...

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