« Jogos e Inteligência Artificial | Inicio | EarthCast »

agosto 8, 2005

Desarmamento

Ainda estou pensando nessa questão do desarmamento, já que parece que há um plebiscito marcado para decidir isso. Minha "regra do dedão" é que quanto menos armas, melhor. Mas isso é simplificar demais, eu sei. Portanto estou coletando opiniões e fatos. O problema é que ambos os lados parecem jogar mais com emoção do que com razão.

Hoje recebi um e-mail com estatísticas de que em diversos países onde ocorreram desarmamentos como o proposto, os crimes aumentaram nos meses seguintes. Esse é um típico argumento enganoso, pois o desarmamento é uma medida de longo prazo. Óbvio que os bandidos não vão entregar suas armas, mas o conceito é que essas armas eventualmente deixarão de funcionar (ou serão confiscadas) e, então, haverá menos armas no todo, gerando uma maior dificuldade de substituição. Isto é, armas serão mais caras até mesmo para bandidos. Eu aguardaria uns bons 5 anos para ver quedas nos crimes com armas nesses países. A verdadeira questão é se desejamos suportar um aumento inicial no crime para melhorar a situação no futuro.

Outro problema é que parece ser um dilema do prisioneiro a questão. De nada adianta o Brasil ser desarmado se for fácil obter armas no país vizinho. E ninguém quer começar, pois ficará pior que o vizinho que resolveu esperar. O argumento a favor do desarmamento é que alguém tem que começar e, eventualmente, outros países seguirão o mesmo caminho. Novamente, a amenização do problema vêm a longo prazo. O problema disso é que uma solução muito melhor seria negociar com os vizinhos um desarmamento sincronizado, coisa que não parece ter sido considerada.

E o maior problema de todos é a divulgação seletiva de informações, por ambos os lados. Neste e-mail que recebi, citam os exemplos dos países que se deram "mal" (a curto prazo), mas não menciona se há exemplos contrários, nem qual a proporção. Analogamente, do outro lado, citam diversos casos tocantes de acidentes com armas de fogo, ou pequenas brigas que viraram tragédias pela disponibilidade de armas, mas não mencionam o quão significantes são esses casos no todo, nenhuma estatística é provida.

Tenho certeza que há dúzias de bons argumentos para ambos os lados, mas no fim eles pouco importam. Há o que não têm confiança na polícia e preferem um modo "cada um por si", e que não importa as estatísticas que apareçam vão ser sempre contra o desarmamento. E há os que não confiam na polícia, mas também não confiam no vizinho, estando dispostos a não ter armas se o vizinho também não tiver e, novamente, não importa as estatísticas e argumentos que apareçam, serão a favor do desarmamento.

A questão será decidida como toda decisão de massas, mais pela emoção do que pela razão. O que, no fundo, é a causa do problema todo. Afinal, com o perdão da frase de efeito, não são as armas que matam, são os que estão atrás do gatilho.

10 comentarios

O Augusto fez um post sobre isso (aliás dois seguidos). Vale a pena dar uma olhada lá (http://wwww.argus.com.br/bilebovina/bilebovina.html). Eu só tinha argumentos a favor do desarmamento, mas não me achava ainda capaz de decidir meu voto. No final, acho que me decidi pelo "não". Foi uma discussão acalorada e pode ter argumentos bons, a favor e contra. Eu por exemplo, tenho os dois. :)

Poisé, mas eu temo que seja simplificar demais também classificar essa questão dentro de liberdade de escolha. Em uma sociedade nunca temos, ou devemos ter, total liberdade de escolhas. Acho que liberdade total é bom em teoria, mas não funciona com nossa espécie. Afinal, é por isso que criamos o Estado.

Eu, por exemplo, abriria mão de ter a escolha de ter uma arma se isso também se aplicasse a todos os demais. A questão do plebiscito é que pode haver uma boa chance de que me tirem a escolha enquanto outros muitos ainda a tenham. O difícil é avaliar quantos são esses e se são significativos.

Mas eu não me preocupo tanto com armas nas mãos do bandido. Eles já tem armas e, mesmo que eu tivesse uma, eles tem o elemento surpresa na maioria das vezes. Mais ainda, se eu tivesse uma arma, eles provavelmente teriam duas e colete a prova de balas. É uma escalada inevitável, creio.

Me preocupo é com armas na mão do meu vizinho, que numa discussão mais acalorada pode perder a cabeça por 2 segundos e sair dando tiros. Ou num acidente de trânsito, o esquentadinho resolver que o erro do outro é imperdoável, sacar sua arma e acabar com uma vida por bobagem. Olhe a depredação que acontece no fim de jogos de futebol importantes e pense se é uma boa idéa dar armas para aquelas pessoas, mesmo que só em casa. Me assusta só de pensar.

Mas isso são argumentos isolados e apenas intuitivos ou exemplificativos. Há que se analisar a estatistica por trás disso, mas nem isso temos disponível com facilidade... É complicado decidir assim.

Outra questão que a recém encontrei. A Veja diz que um dos problemas é que o número de armas ilegais (roubadas ou contrabandeadas) supera em muito o número de armas adquiridas legalmente e que, portanto, proibir a venda (ou compra) não terá efeito sobre a criminalidade.

Mas oras, armas ilegais são roubadas apenas por que alguém as tinham legalmente antes. O argumento faz crer que as armas são roubadas de ninguém. Armas roubadas têm que sair de algum lugar, mas ninguém divulga pesquisas de se são roubadas de civis ou da polícia. Se forem de civis, proibir a venda pode, sim, diminuir o número de armas ilegais. Se for da polícia, então estamos ralados de qualquer forma :)

E o contrabando cai no problema dos países vizinhos terem armas também, que é uma questão realmente mais importante e, ultimamente, decisiva para o problema.

Também tenho pensado muito nisso.
Os números são estranhos. Parece que na Inglaterra aumentou muito o número de homicídeos anos depois da proibição e em alguns países de terceiro mundo aconteceu o contrário.
Sei lá, quando dão os números de mortes por arma de fogo não diferenciam mortes causadas por acidentes, mortes causadas por policiais etc. Os números dizem tudo, menos o essencial.
E aliás, acho que quem realmente mata no Brasil continuará matando, pois não conseguiremos evitar o tráfico de armas.
Ou será que as armas ultra-modernas do tráfico de drogas são compradas legalmente?

Hmmmm...
Acho que o número altíssimo de armas ilegais não tem a ver com roubo e sim com contrabando mesmo.
E se a Irlanda e a Inglaterra não conseguiam segurar o tráfico de armas na guerra civil, quem dirá por aqui...

Me parece que não vai mudar muito mesmo.

Ricardo, concordo com tudo que você disse, com exceção do ponto-de-vista sobre o contrabando. Não existe fronteiras para o contrabando, assim como não existe para o tráfico de drogas. Não é porque o país vizinha vende armas legalmente que é fácil contrabandear.
Concordo plenamente com o fato de que se o bandido tiver certeza que não haverá resistência com arma de fogo, a violência do seu ato criminoso será menor, pois ele não terá medo. Agora, o problema do desarmamento do inocente é que os bandidos já estão armados e não precisam ir em busca de uma arma para virar bandido. Aí, a abordagem criminosa fica bem mais fácil e, quem sabe até, incentivada.
Não gosto de pensar dessa forma, porque essa não é a forma que eu penso. Eu não deixo de não jogar lixo no chão porque todo mundo joga. Eu não estaciono o meu carro no lugar de dois porque outros não fariam esta gentileza para mim. Eu ajo como acho que todos devem agir, mesmo que eu seja minoria. Agora, eu estou mesmo em dúvida com relação a este assunto. Armas foram feitas para matar e ponto final. :)

Ah, mas o contrabando "overseas" é muito mais difícil e mais facilmente controlável. Em países vizinhos há uma extensão gigante de área de contato que é praticamente impossível de se vigiar, facilitando o contrabando.

Se tiverem que trazer armas de avião ou navio, a coisa complica. Não é impossível, claro, mas é muito mais fácil detectar um avião ou navio não-autorizado do que um caminhão.

E é verdade que a ação criminosa pode ser incentivada pelo desarmamento. Mas como eu disse, isso é um efeito de curto prazo, existente por que os bandidos obviamente não vão entregar as armas. No longo prazo, as armas desses serão confiscadas ou simplesmente estragarão. E aí a disponibilidade de armas novas será menor. O quão menor é a questão. O contrabando é o principal problema. O desarmamento é uma condição necessária, mas não suficiente para amenizar o problema.

Minha única dúvida nisso tudo é se o preço que se paga no curto prazo compensa o que se ganha no longo prazo. Se a criminalidade aumentar 10% nos próximos anos para reduzir 1% na próxima década, talvez não compense.

Ah, CDs piratas vêm de submarino da China. E os containers da BH?

Mas isso pq fazem vista grossa. Se quiserem controlar, é mais fácil do que de países vizinhos. :)

Digamos que nas armas eles vão fazer vista "calibre grosso" . :)

Sobre esta entrada

Esta página contiene una sola entrada realizada por ricardo y publicada el agosto 8, 2005 6:09 PM.

Jogos e Inteligência Artificial es la entrada anterior en este blog.

EarthCast es la entrada siguiente en este blog.

Encontrará los contenidos recientes en la página principal. Consulte los archivos para ver todos los contenidos.