« Sony-Ericsson K300i, parte 2 | Inicio | Cegueira de escolhas »

outubro 7, 2005

Dilema do Prisioneiro

Tenho recebido com freqüência um certo spam sobre o desarmamento que acaba com algo parecido com isso: "no dia em que o poder público puder oferecer segurança ao cidadão, serei o primeiro a levantar a bandeira do desarmamento. Mas quero ter certeza que serei o último a entregar as armas."

Isso me fez pensar que o desarmamento é como o dilema do prisioneiro. O dilema do prisioneiro é um jogo amplamente estudado na Teoria dos Jogos e é ilustrado como segue. Dois bandidos são presos pela polícia, colocados em salas separadas e são oferecidas as opções de delatar o parceiro ou não dizer nada (cooperar). Se um deles delatar e o outro não, o que não delatou se dá muito mal, pois é indiciado sozinho pelo crime (pega, digamos, 10 anos de cadeia) e o delator sai livre. Se ambos delatarem um ao outro, ambos se dão um pouco mal mas não tanto (pegam 5 anos de cadeia). Se nenhum dos dois falar nada, são indiciados por um crime menor e pegam algo como 1 ano de cadeia.

O dilema é o que deve cada prisioneiro fazer. O ideal seria ambos não falarem nada, pois ambos pegam uma pena leve. Mas se eu pensar assim e resolver cooperar, meu parceiro pode pensar "ah, ele vai cooperar; se eu delatar saio livre". Assim, o medo de que o parceiro delate impede que qualquer um dos dois coopere e ambos acabam delatando e essa é a escolha mais racional. É o medo da possibilidade de pagar um preço alto que impede que se consiga atingir a melhor das alternativas.

O desarmamento é análogo. Todo mundo pensa que entregaria as armas se houvessem garantias de que todo mundo vai entregar as suas (bandidos inclusive). Mas todo mundo quer ser o último. Ter uma arma quando ninguém mais tem é bom; não ter quando o vizinho tem é muito ruim; ninguém ter é muito bom. Mas é difícil cooperar (entregar as armas) quando há a possibilidade dos nossos parceiros delatarem (não entregarem as armas).

O dilema do prisioneiro, quando jogado na realidade, dá resultados que a teoria dos jogos não prevê e a cooperação ocorre com freqüência. Isso é devido a uma vontade inata, exceto talvez em políticos, de cooperar com o próximo ou pelo menos não fazê-lo se dar muito mal com nossos ganhos. Entregar as armas sabendo que há a possibilidade de que ninguém mais entregue é um exercício extremo de cooperação e confiança que bem pode ser fútil e irracional, para não dizer idiota e fatal, mas é a única maneira de tentar imaginar um mundo melhor no futuro.

7 comentarios

Tua teoria é que, no casos das armas, também podemos dizer: uma andorinha só não faz verão. Eu penso muito nisso quando faço a minha parte nas coisas, incondicionalmente a outras pessoas fazerem a parte delas. Só que acho que nesta questão isso não se aplica, no momento em que temos uma parte que não tem o menor interesse no resultado final; no desarmamento. Nós dependemos que os bandidos cedam, eles não dependem de nada; não têm interesse em ceder e nem que nós cedamos.

hmm, talvez. Mas isso se aplicaria mesmo levando em conta que os bandidos que já são bandidos não entregarão as suas. Se todo mundo, literalmente, entregar as armas, então talvez o custo das armas suba tanto que os bandidos não poderão mais obter uma facilmente. Sei lá.

(suba tanto devido aos fabricantes não terem um público tão grande e se poder controlar a venda exclusivamente para o governo, isto é, reduzindo as fontes de "vazamento" de armas para o mercado negro)

Pensando bem, a analogia realmente não é tão boa. Droga, Cuca, eu tava achando tão legal. :P

Ahahah.
Pô, desculpa aí. Prometo que na próxima vez não me meto :)
Mas tava muito bem escrito.

Bom, você poderia dizer que o comércio de armas vai ficar restrito à faixa de fronteira, o que reduz geograficamente o tamanho do mercado e também "centraliza" o local do problema (ok, a faixa de fronteira do Brasil é enorme, mas mais tratável). A não ser que se reduza a fiscalização (e outros fatores menores), acho que a hipótese do aumento do preço é razoável... :P

Bem, estou fazendo estudos sobre o dilema do prisioneiro e acabei achando esse site.

Tem algumas coisas no dilema do prisioneiro. O problema que ele nao se aplica a realidade, problema que na realidade ele não é jogado somente uma vez e o fato de ter infinitas jogadas faz com que a estratégia de não cooperar tornasse a mais racional, pois vc conhece o comportamento do outro.

Mas achei a sua analogia no referendo boa e a teoria de aplica. A resposta do bandido também, pois o bandido está fora de qualquer cooperação, ele est;a em conflito com a lei, ou seja, com as normas de cooperação. Isso pode ir longe, e desenvolver vários subjogos, aliás a teoria dos jogos e o dilema do prisioneiro admitem isso.

Queria conclui falando do preço das armas, o grande problema do plebiscito era a comercialização de munição, isso que gera lucro pras empresas belica. Pois arma vc compra uma pra vida toda, mas precisa sempre recarregar, ate pq a balas tem tempo de vida. Mesmo o bandido tem a arma ilegal , mas a maioria das vezes compra bala legal!!! Restringindo o comercio de munição vc dificultaria a sobrevivencia de armas ilegais , inclusive do bandido.

Concluo dizendo que a campanha do sim foi horrível e não conseguiu dialogar com a sociedade. A começar pela pergunta complexa que por analogia seria essa: Vc não quer casar comigo?? sim!! Ao invés de vc quer casar comigo?? não!!

Sobre esta entrada

Esta página contiene una sola entrada realizada por ricardo y publicada el outubro 7, 2005 8:06 AM.

Sony-Ericsson K300i, parte 2 es la entrada anterior en este blog.

Cegueira de escolhas es la entrada siguiente en este blog.

Encontrará los contenidos recientes en la página principal. Consulte los archivos para ver todos los contenidos.