Archivos maio 2006

maio 29, 2006

Firefox e Internet Explorer

Tenho pensado e estudado sobre dinâmica de mercados, na minha luta por encontrar um tema para minha tese de doutorado, e um conceito interessante é o que economistas chamam de "market lock-in", ou travamento de mercado, que é quando um mercado opta por um único produto em detrimento de outros.

A idéia é facilmente ilustrada pelo fenômeno orkut no Brasil, ou MySpace nos EUA. O fato dos seus amigos estarem no orkut é um incentivo para você estar no orkut, e não em outro produto, e você estando no orkut é um incentivo para seus amigos permanecerem no orkut, o que gera um incentivo para outros amigos também entrarem. Ainda que possam existir outros software melhores tecnicamente, nenhum faz sentido se não houver ninguém utilizando-o. Travamentos de mercado ocorrem exatamente quando a escolha por um produto passa a fazer mais sentido a medida que mais pessoas optam por ele.

Não é um fenômeno de redes sociais unicamente. A briga por VHS e Betamax gerou um travamento de mercado. Uma vez que o VHS obteve uma pequena vantagem na escolha dos consumidores, as lojas passaram a estocar mais fitas VHS, o que gera um incentivo para que se compre mais videocassetes VHS, o que leva as lojas a estocarem mais... até que o Betamax é empurrado para fora do mercado. É um ciclo mais indireto que o caso do orkut, mas é forte o suficiente para ter garantido o monopólio do VHS.

E o que diabos isso tem a ver com o título deste post? Minha teoria é que é um erro estratégico o Firefox estar se adaptando aos padrões da W3C, ainda que seja muito bonito da parte deles. Isto por que a Microsoft não tem interesse em seguir os padrões da W3C, ou qualquer padrão aliás. Ela só pode garantir o travamento de mercado se garantir que a escolha pelo IE seja dependente da escolha das outras pessoas, como é o caso atualmente. Quanto maior a fatia de mercado do IE, mais sentido faz para os produtores de websites gerar código que rode bem no IE, em detrimento dos demais navegadores. Com isso, mais sentido faz para usuários optarem pelo IE, pois os sites são produzidos para ele. E assim por diante. E a MS tem o incentivo de manter o IE essencialmente incompatível com os demais navegadores.

Digamos que a MS opte por simplesmente seguir os padrões da W3C, assim como o Opera e Firefox. Nesse caso, é indiferente (em termos de visualização de sites) o navegador que se utiliza, não importando a fatia de mercado que cada um têm. O fato de mais pessoas usarem o IE não seria um incentivo para que outras pessoas o utilizem. Assim, a escolha se daria em função de outros fatores, como qualidade técnica, segurança, etc. Não estou dizendo que o IE não é ou não será tecnicamente bom, mas sim que esse é um modo muito mais difícil e instável de reter um mercado.

O Firefox, se tem esperanças de atrair grande número de usuários do IE, deve se adaptar ao IE e não aos padrões da W3C. Assim, quebra-se o ciclo que garante o travamento de mercado - passa a ser indiferente em termos de navegação o navegador que se utiliza. Só então passará a fazer sentido para os usuários mudarem de navegador.

Do outro lado, a melhor estratégia para a MS é permanecer incompatível com os demais navegadores, possivelmente aumentando a diferença para evitar que outros comecem a simplesmente emular o IE. De fato, o ActiveX é o carro chefe da incompatibilidade no IE, algo que nem pode ser copiado por outros. Suspeito que isso esteve na mente do Bill Gates ao introduzir a tecnologia.

O resultado é que não é uma tarefa fácil tirar mercado do IE. A única ajuda externa parece estar vindo dos desenvolvedores, tentando criar códigos cross-browser. Mas a menos que isso se torne extremamente simples para qualquer programador, é improvável que seja uma medida a ser adotada pela maioria. O Firefox se aproximando do IE garantirá esse efeito.

Isso tudo é para dizer que não é minha culpa que este blog aparece quebrado para o IE7. Ele foi feito seguindo o padrão W3C. É culpa do mercado.

maio 24, 2006

Complexity

Lendo Complexity, de W. Mitchell Waldrop. O título dá a entender que é um livro sobre a nova ciência da complexidade, mas isso é apenas pano de fundo para relatar o início do fantástico Santa Fe Institute e as grandes mentes que se reuniram para dar forma ao instituto.

O livro é quase um romance na forma da narração. E é interessante e cativamente mesmo sendo sobre um assunto que poderia deixar qualquer um em coma espontâneo: a construção de uma ciência e a burocracria para iniciar um instituto de pesquisa.

Na fila de leitura: Big Bang, de Simon Singh. Um dos meus autores favoritos, autor de O Último Teorema de Fermat e O Livro dos Códigos.

maio 18, 2006

Harvey Birdman

Outro DVD trazido da Virgin Megastore foi a primeira temporada de Harvey Birdman Attorney at Law, que é a coisa mais divertida que já surgiu na televisão desde a Ruth Lemos. Eu já tinha visto todos os episódios desta temporada (e da segunda), mas achei que era hora de dar um pouco de dinheiro para as coisas que quero que continuem. Por isso e por que estava on sale.

Não tem muitos extras. Há algumas cenas não acabadas que não foram para produção e algumas músicas. O melhor foi a versão live action da abertura - filmaram a abertura com pessoas e objetos reais. Ficou perfeito. Agora é aguardar a próxima temporada.

maio 17, 2006

Fawlty Towers

Vi todos os escassos 12 episódios de Fawlty Towers, seriado escrito e estrelado por John Cleese que foi ao ar de 1975 a 1979. A coletânea em 3 DVDs estava em promoção na Virgin Megastore e resolvi arriscar. Não havia visto nenhum episódio antes e apenas havia sido apresentado à série há muito pouco tempo.

O formato é estranho. São episódios de 30 minutos reais (e não 21 minutos + propaganda, como é mais comum hoje) e apesar de ter auditório, o ritmo e edição são como se não houvesse. Os roteiros são simples, ainda que contem com sub-enredos eventuais, mas são os diálogos - ou monólogos de Cleese - que garantem o brilho dos episódios. As partes com Cleese, na verdade, lembram bons tempos de Monty Python, porém contidos e domesticados.

Em resumo, a série trata da Fawlty Towers, um hotel gerenciado por Basil Fawlty (Cleese) e Sybil Fawlty, localizado em Torquay, Inglaterra. A parte cômica-inteligente fica por conta de Basil, que é um dono de hotel que odeia os hóspedes. A parte cômica-boba fica por conta de Manuel, funcionário do hotel que não fala inglês e serve de saco de pancadas para Basil.

Boa série.

maio 9, 2006

Viagem aos EUA/Canadá - Resumão

Alguém já fez uma comparação de personalidades entre países e disse que os EUA é um adolescente brigão, enquanto o Canadá é uma intelectual muito educada nos seus 35 anos, talvez bibliotecária. É uma generalização, claro, ainda que difícil não concordar. Mas cada cidade tem também sua própria personalidade.

New York é aquele ricaço moderno, sabe comprar e admirar artes, às vezes beira o brega, mas sempre mantém o bom gosto. Gosta de fazer festa, mas quase nunca fica bêbado (e, quando fica, fica filosófico). Costuma ser o centro das atenções não por que gosta, mas por que cativa.

A Manhattan que revisitei não estava diferente da que estive há dois anos: nos recebeu com chuva e frio. Visitamos bem mais coisas do que visitei da outra vez, um pouco por que a Raquel sabia para onde estava indo (enquanto eu costumo andar de forma aleatória). O destaque vai para uma melhor apreciação do Central Park e ainda assim cobrimos algo como 1/10 de tudo. Uma vida não é suficiente para apreciar totalmente Manhattan, especialmente se for uma vida acompanhada de chuva.

De New York para San Francisco, apenas para troca de vôos. De San Francisco para o Canadá. Vancouver é um senhor nos seus 40 anos, pacato e sábio. Rico, mas não ostenta exceto por um ou dois quadros milionários colocados displicentemente em alguma parede da casa. Eric McCormack, o Will de Will & Grace, que é canadense, descreve a cidade como "the best kept secret of Canada". Ou assim li em alguma das revistas oferecidas em algum vôo.

Vancouver é estonteantemente linda. As ruas são razoavelmente bem organizadas, com longos corredores, não por uma questão prática, mas sim, acredito, para permitir que sempre se tenha as montanhas no horizonte. Vancouver é cercada por água, como Manhattan, mas ao invés de uma Nova Jersey do outro lado, há montanhas magníficas (essa observação é o McCormack também). No entanto, pudemos conhecer apenas uma parte da cidade: a parte chamada Central que, curiosamente, fica no extremo norte da cidade. Pelo pouco que foi possível conhecer, o restante da cidade é um pouco mais "comum" mas qualquer um poderia morar a vida inteira na área Central sem nunca querer sair de lá.

De Vancouver para Palo Alto. Palo Alto, Mountain View, Sunnyvale e outras são todas pequenas cidades que fazem parte do que chamaríamos no Brasil de Grande São Francisco. Lá eles chamam de "Bay Area", ou algo assim. Palo Alto, é claro, é o nerd da família dos EUA. Não há outra forma de ver a cidade. Conhecemos o centro durante a noite, rapidamente, mas não há muito o que ver. É uma cidade tipicamente pequena - tão pequena que os moradores costumam ir a San Francisco para compras e entretenimento. Cerca de 40 minutos de estrada até lá. A sede do Google fica um pouco mais ao sul, em Mountain View.

O Googleplex, como chamam o aglomerado principal de prédios, é tudo que eu esperava. O ambiente é extremamente informal, bem como a decoração - em boa parte feita pelos próprios empregados. Horários também são flexíveis, mas há tanta coisa para fazer por lá, não só em termos de trabalho como de entretenimento, que o local está quase sempre cheio. Funcionários praticamente só precisam ir para casa para dormir, até lavar as roupas é possível na lavanderia de um dos prédios. Piscinas, quadra de volley, spa, piscina de bolinhas, sinuca, pebolim e arcades antigos são alguma das opções de relaxamento entre um projeto e outro. Todos funcionários tem dois monitores LCD de 17" em suas baias, mas não sei que máquinas utilizam.

De Palo Alto para San Francisco. San Francisco é uma cidade estranha, com personalidade difícil de caracterizar. Eu diria que é algo como um adolescente que está passando por uma fase de marginal. Ainda que seja considerada a capital gay dos EUA, isso é pouco evidente, a menos que seja um gay desleixado. Manhattan é, definitivamente, metrosexual, mas San Francisco é indefinida. De todas as cidades que visitamos, é a mais suja e a que parece ser mais pobre. Ainda assim, a área central é deslumbrante, especialmente na volta da Union Square. É isso: San Francisco é aquele artista que acredita que é muito bom no que faz, cujas obras ninguém compra mas que não desiste da profissão (e que tem realmente algumas obras maravilhosas). Mas estou sendo injusto: mal ficamos dois dias na cidade e boa parte disso foi tentando decidir o que visitar, apenas para descobrir que tudo é longe e as lombadas muito íngremes e o melhor é ficarmos aqui na volta do centro mesmo. De todas as cidades, é a que devemos retornar para tentar, pelo menos, encontrar uma personalidade que se encaixe.

De San Francisco para o Brasil, via New York para troca de vôos. O Brasil, é claro, é aquele cara malandro que se acha muito esperto e inteligente só por que consegue acompanhar 18 campeonatos de futebol ao mesmo tempo, que tenta achar "jeitinhos" para se dar bem, geralmente às custas dos outros.

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