Novedades en la categoría Ciência

abril 2, 2009

Utilizar internet para diversão no trabalho aumenta a produtividade?

Segundo notícia divulgada na Folha, um estudo realizado na Austrália teria verificado que empregados que acessam sites não relacionados ao trabalho (eventualmente, presumo) são em média 9% mais produtivos do que os que não acessam. A matéria dá a entender que navegar em sites como Orkut, Twitter e outros afins, causariam o aumento de produtividade.

Não consegui encontrar o estudo original ainda. Buscas pelo cientista por trás - Brent Coker - levam apenas a notícias de segunda mão, ou resumos do trabalho. A explicação de Coker é bem razoável: o cérebro precisa de um descanso entre tarefas que exigem grande concentração. Ou seja, é preciso distrair seu cérebro de vez em quando para recuperar sua capacidade de concentração. Há de fato boas evidências de que o cérebro precisa de tal descanso eventual para manter sua capacidade de concentração.

Porém, consigo ver muitos potenciais problemas em um estudo desse tipo. Novamente, não li o estudo, mas imagino algumas maneiras com que se poderia obter tais dados, nenhuma sem problemas.

Primeiro, poderia-se simplesmente medir a produtividade em empresas que bloqueiam o acesso aos sites de interesse e empresas que não bloqueiam. Há, porém, o problema de como medir a produtividade, já que dificilmente haveriam duas empresas idênticas fazendo exatamente as mesmas coisas. E mesmo que se resolva esse problema, a causa pode ser simplesmente o fato de empresas que não tentam bloquear esses serviços terem um gerente mais liberal, que se daria melhor com os funcionários, potencialmente aumentando a produtividade.

Outra maneira seria rastrear funcionários individuais e verificar quem acessa e quem não acessa tais sites, e então correlacionar com suas respectivas produtividades. O problema seria que pessoas que utilizam sites de entretenimento provavelmente possuem maior conhecimento, ou interesse, na Internet e isso talvez leve a uma maior produtividade de qualquer maneira, independente de se eles efetivamente acessam ou não (suponho que seja lá qual for a medida de produtividade, trata-se de tarefas realizadas em um computador). Ou seja, pessoas que gostam de computador são mais produtivas em um computador. Duh.

A melhor maneira parece ser ir em empresas onde o acesso é bloqueado e desbloquear durante um certo tempo e verificar se a produtividade aumentaria. O problema é se as pessoas souberem que estão fazendo parte de um estudo. Nesse caso, elas poderiam aumentar artificialmente sua produtividade nesse período apenas para garantir que no futuro os serviços permaneceriam liberados (ou o fariam apenas por medo de estarem sendo observados).

Definitivamente acredito que exista a correlação, mas até ver o estudo completo permaneço cético quanto a causalidade. Alguém sabe onde encontrar o artigo?

Aproveito para fazer um apelo: jornalistas, forneçam links para as publicações ORIGINAIS de estudos científicos. Se vocês não vão checar os fatos, pelo menos permitam que os leitores o façam.

abril 19, 2008

24 mitos sobre a Evolução

A New Scientist (tenho que assinar essa revista um dia) está com um artigo compilando os 24 mitos mais comuns sobre a Evolução. Apenas 10 são sobre a Evolução em si, outros 14 são sobre o Criacionismo.

O meu favorito: seleção natural leva a organismos incrementalmente mais complexos. É o "mito" que mais desafia o bom senso, ou pelo menos o que vemos no dia-a-dia. Ainda assim, mesmo que complexidade não seja exigida, ela aparentemente ajuda.

março 4, 2008

Horário de Verão gasta mais energia?

Todos acreditamos que o horário de verão ajuda a economizar energia. É intuitivamente correto - faz sentido que desloquemos nossa vida produtiva para aproveitar a luz natural e evitar o uso de luz artificial. Todo ano os jornais publicam como tal medida poupa até 1% de energia nos meses em que está em efeito.

Porém, o estudo que teria mostrado tal economia já data de mais de 30 anos. Um novo estudo aponta que o contrário pode estar acontecendo e o horário de verão, de fato, estaria gastando mais energia do que poupando. Isso seria devido principalmente a introdução de condicionadores de ar. A teoria é que as pessoas vão para casa enquanto ainda há sol e precisam ligar seus condicionadores de ar para se refrescarem. Sem mudança no horário, as pessoas iriam para casa já de noite, quando a temperatura estaria mais agradável.

A matéria sobre o assunto, linkada acima, indica que apesar do estudo ser convincente, ele pode ser aplicável somente ao estado (e país) onde foi feito. No caso, Indiana, EUA. Isto é, em média a medida poderia ainda ajudar a economizar energia ainda que para algumas cidades e estados o contrário ocorresse. Outros pesquisadores também mencionam o fato de haver benefícios indiretos da medida, como aumentos na produtividade.

abril 26, 2007

At Home In The Universe

Estou lendo "At Home In The Universe", de Stuart Kauffman - mais um dos grandões do Santa Fe Institute. O livro é de divulgação científica e o que está sendo divulgado é a tese de Kauffman de que a existência de vida não é um mero acaso, é praticamente uma necessidade. E a explicação é dada por sistemas auto-catalíticos.

O problema sendo abordado, de forma grosseira, é de que é muito, muito improvável que a vida tenha surgido em qualquer coisa parecida com um caldo primordial - a probabilidade de que um conjunto de moléculas se juntassem ao acaso tornando possível a reprodução e toda seleção natural é simplesmente fantasticamente pequena e o tempo de existência da Terra seria insuficiente para tal processo acontecer. Kauffman, citando alguém, compara com a probabilidade de um furacão passar em um ferro-velho e montar um Boeing no processo.

A teoria de Kauffman é a de que as coisas não são tão ao acaso assim, isto é, não seria necessário ficar torcendo para que as moléculas corretas se chocassem nas proporções corretas - existem processos bem simples que "juntam" as peças por si só e permitem que essas peças se repliquem utilizando redes catalíticas recorrentes. Nessas redes, as coisas acontecem quase como em uma introdução de um dos livros de Douglas Adams: tudo que acontece acontece; tudo que ao acontecer faz outra coisa acontecer, fará outra coisa acontecer. Ou algo assim, não achei o livro.

O ponto é: não é por sorte que a vida existe; a vida é quase uma necessidade.

Eu sempre achei o argumento de que a Terra não existe há tempo suficiente para que a vida tenha se iniciado por acaso meio egocentrico por não considerar todos os mundos possíveis no Universo. A criação de vida é um processo paralelo, cada pedaço de rocha navegando no vazio espacial tem alguma probabilidade de iniciar a vida. Havendo pedaços de rochas suficientes por aí, e devem haver, então algumas tem que ter vida e algumas entre estas tem que conter vida inteligente. Independente do tempo que elas existam. É fascinante que uma dessas vidas inteligentes se pergunte como é improvável que ela própria exista e não aceite que possa realmente ter sido apenas "sorte" que existamos.

A teoria de Kauffman introduz um outro problema também, que não sei se ele aborda pois não terminei de ler o livro. Se a vida é uma necessidade, então por que ela é tão rara? Afinal, não há sinais de que existe vida lá fora - pelo menos não até onde conseguimos olhar. A transição entre quase-impossível e necessária parece ser muito brusca. Ainda assim, é uma teoria fascinante, elegante e bastante plausível. E torna mais fácil aceitarmos por que, exatamente, existimos. Como diz o título, aceitar que nossa existência é uma necessidade e não mero acaso permite que se sinta em casa no Universo.

março 25, 2007

Robótica Comportamental

Uma área da ciência e tecnologia ainda inexplorada, até onde sei, é a que vou chamar de Robótica Comportamental. O termo já existe, é verdade, mas não é aplicado da maneira que eu vejo como sendo aplicado. E eu vejo como sendo aplicado da seguinte forma. Nos últimos meses, tenho utilizado em casa o Roomba, um aspirador robô. Sendo um robô pré-Robótica Comportamental, ele faz o que tem que fazer: aspirar a casa. Tirando o mérito de se ele é bom ou não na tarefa, a questão é que ele não se preocupa com outros habitantes da casa. Isto é, os engenheiros que o projetaram não se preocuparam se ele, além de executar sua tarefa, também o faz causando o mínimo de incomodação a seus donos.

O Roomba parece ter a estranha mania de me seguir pela casa, por exemplo. Se estou em um cômodo, ele tende a ir para aquele cômodo também. Eu sei, não é intencional e provavelmente um efeito psicológico fruto do fato de que eu só o noto quando ele faz isso, mas a questão é que eu gostaria que ele se dedicasse a não fazer isso. Ter um aspirador nos ouvidos enquanto se está vendo TV ou tentando trabalhar no computador pode ser bastante chato. E não é só o barulho, já que minha presença altera a forma com que o robô limpa o cômodo, geralmente batendo nos meus pés.

Com cada vez mais robôs fazendo trabalhos domésticos (fui de zero para um, representando um aumento de infinito porcento!) e comerciais/industriais, a Robótica Comportamental será a área que se preocupa em fazer com que robôs se comportem não de maneira apenas funcional, mas de forma harmônica com seres humanos (e se, no processo, deixar de assustar o bicho de estimação da casa, melhor). A área envolverá fortemente ramos da Psicologia e teremos muitos artigos científicos com títulos como "Efeitos de movimentos parabólicos na afeição para com robôs" ou "Criando vínculos de longo prazo com robôs domésticos".

E não será apenas com tarefas domésticas ou industriais que a Robótica Comportamental contribuirá. Será também com a melhoria dos atuais robo-pets - robôs de estimação como o Aibo, I-Cybie e outros. Serão desenvolvidos técnicas para alterar tais robôs de forma que nos afeiçoemos a eles com mais facilidade, ou que eles nos entretenham mais mais eficácia. No caso, será Robótica Comportamental pura, já que não há tarefas para serem cumpridas, o objetivo é unicamente a interação com pessoas. Muitas vezes serão coisas pequenas - adição de algum movimento ou comportamento aleatório, evitar repetições e outras coisas que hoje fazem até mesmo um Aibo parecer tão mecânico. É bem possível que chegaremos a conclusão que o que queremos é um robô que imite um cachorro, essa máquina viva evoluída em milhares de anos para nos agradar, mas que talvez não suje o tapete.

Enquanto escrevo isso me dei conta de que uma parte dessa área já é estudada na área de HCI - human-computer interfaces. Mas a Robótica Comportamental terá que levar adiante a idéia, já que boa parte da idéia não é sequer gerar interação com humanos mas, por vezes, evitá-la por completo. E certamente criar uma interface física, onde o próprio robô é meio de interação, torna tudo mais complicado.

Não deixa também de englobar áreas da Vida Artificial, mas a pergunta não seria como criar seres vivos ou definir o que é vida, mas sim responder a simples questão de "como fazer um robô parecer vivo?", se porventura descobrirmos (e acho que isso é razoável) que uma máquina que parece ser viva de uma forma bastante genérica é mais facilmente compreensível para humanos e, portanto, mais provável de não causar estranhezas ou medos.

agosto 20, 2006

Teoria das Cordas

Tudo que sei de Teoria das Cordas está no que eu não entendi na época que li os livros do Stephen Hawking e no que estou lutando para entender no "O Universo Elegante". Mas isso não me impede de formular minha própria teoria sobre a teoria. Se por nada mais, para despertar a ira dos Físicos de plantão e apresentar uma analogia divertida para Ciência em geral.

Em resumão, a Teoria das Cordas se propõe a ser uma teoria unificadora entre a Física Quântica e a Relatividade, ao incorporar a gravidade em uma teoria quântica. A idéia é que o Universo é composto não de partículas indivisíveis, em última instância, mas por cordas vibrantes. Tudo seria então composto de cordas que vibram e os modos como vibram são percebidos como partículas fundamentais - incluindo aí o Grávitron, do qual dependeria a gravidade. Então a teoria explica alguns vários fenômenos quânticos e ao mesmo tempo explica a gravidade.

Lendo o Universo Elegante, fiquei com a impressão de que a Teoria das Cordas mais parece uma Teoria dos Elásticos. Agora entra a analogia divertida. Imagine a Ciência como um todo como uma placa de madeira com pregos, onde os pregos são as evidências experimentais no mundo real. Podemos passar um barbante rígido entre os pregos, representando uma teoria. Se passar por todos os pregos, então a teoria explica bem as evidências. Mas quando surge um prego novo, a teoria-barbante pode não conseguir englobá-lo por ser rígido, acabando por se romper. Mas interessantemente, algumas teorias-barbantes parecem presos em pregos que ninguém está vendo. A Teoria da Relatividade é um caso - ela previa um prego que ninguém via estar lá (a distorção de raios de luz de estrelas distantes, por exemplo). Ao comprovar-se a existência do prego, aumenta-se significativamente a credibilidade da teoria.

Uma Teoria Elástico, porém, é tão flexível que consegue englobar uma quantidade muito grande de pregos novos, mesmo quando estão distantes. A Teoria das Cordas me parece uma teoria elástico - ela surgiu para explicar um certo conjunto de fenômenos, mas passou a englobar novas evidências que surgiram posteriormente - mesmo evidências consideravelmente distantes dos pontos originais. Ela se estica para englobar novos pregos.

O problema de uma teoria elástico parece estar na possibilidade maior de overfitting. Este é um termo aplicado em Aprendizado de Máquina, denotando que um conceito se tornou restrito demais, podendo explicar os dados vistos até então, mas incapaz de generalizar além disso - i.e. fazer previsões. Exemplo: você nunca viu carros antes e passa por três e lhe dizem que são carros. Um possível modelo de carro que se criaria seria (a) "coisas que têm quatro rodas, possuem motor e carregam pessoas". Outro seria (b) "estes três veículos que passaram nesta seqüência por mim neste momento". Outro ainda poderia ser (c) "coisas que passam por mim".

O modelo (a) parece razoável. Se passar um novo carro, provavelmente você o identificaria como um. O modelo (b) é problemático e é típico de overfitting - se passar um novo carro, com certeza ele não será um daqueles que já passou por você, naquele momento. Já no modelo (c), se um novo carro passar por você, ele será corretamente identificado; mas também serão classificados cachorros, pessoas e tudo mais como carros. O modelo (c) é tão genérico que é capaz de englobar novos pregos (novos carros que passam por você), mesmo pregos muito distantes do conceito de carro.

O modelo (c) é uma teoria elástico. Ela é tão genérica que consegue englobar novas evidências quando surgem, mas é incapaz de gerar previsões - isto é, é incapaz de mostrar novos pregos que não conhecemos, ainda que englobe os pregos que já conhecemos (e venhamos a conhecer) de uma forma muito bonita.

Talvez uma Teoria Unificadora tenha que ser ultimamente uma teoria elástico, afinal ela tem que ser capaz de ser muito flexível para englobar tudo. Mas o quão flexível se pode ser sem causar overfitting? Quando é que nos distanciamos do conceito que desejamos aprender (do que é feito o Universo, no caso) para criar algo que é tão genérico que, sim, explica do que é feito o Universo mas que também explicaria se o Universo fosse qualquer outra coisa?

No estágio atual, os Físicos ainda estão testando a elasticidade da teoria, mas todos gostariam de ver o elástico se esticar sozinho em alguma direção, apontando a existência de um prego desconhecido. Previsão ainda é a melhor forma de saber que não está acontecendo overfitting, afinal não é possível aprender algo que não se viu.

Para ser justo, a Teoria das Cordas faz algumas previsões. Por exemplo, que o Universo têm que ter 10 dimensões totais. Mas ela também prevê que esse é um prego inalcançável - você tem que acreditar que ele está lá, por que não será possível vê-lo. O Grissom diria que isso é muito conveniente...

Seja como for, a Teoria das Cordas é o melhor que temos atualmente para explicar o Universo como ele é. Se a teoria é suficientemente genérica para explicar outros Universos, talvez seja por que existam outros Universos afinal de contas. Mas é impossível não ter a sensação de que a Teoria é apenas uma visão parcial da Realidade. Isto é, é um elástico entre pregos e não a placa de madeira onde estão os pregos.

dezembro 1, 2005

Porcos imortais

Ainda sobre o debate sobre os 7 passos para imortalidade, me é estranho que alguém critique tais "pesquisas". Aspas para denotar que parecem ser mais ilusões misturadas com ficção científica do que ciência de fato. Mas o fato é que atingir a imortalidade é um objetivo como qualquer outro e me parece estranho que alguém que ache ser este um objetivo impossível perca tempo criticando - afinal, por definição não será uma crítica construtiva, exceto para informar que está-se perdendo tempo. Acho que tentar absurdos ainda é melhor que não tentar.

Mesmo o argumento de Miller também não é dos melhores. Porcos voadores não parecem tão inverossímeis assim. Se criar tais porcos fosse um problema que merecesse atenção por motivos quaisquer - aceito até a motivação artística - talvez conseguíssemos realmente resolvê-lo. Provavelmente teríamos no final algo que lembra um porco apenas no nível do DNA, é verdade, e traria muitos ambientalistas reclamando das mudanças ecológicas óbvias que isso traria, mas não há de se dizer que é impossível.

Seja como for, fico feliz que haja alguém tentando vencer a morte, nem que seja com métodos e visões absurdas. Talvez no futuro, nós com 893 anos, olhemos para trás e vejamos essa pesquisa como vemos hoje aqueles malucos se atirando de penhascos com asas de madeira, tentando voar. Podem não ter sido úteis para saber o que fazer para atingir o objetivo desejado, mas mostraram claramente o que não funciona. E ainda proporcionaram diversão por séculos.

novembro 29, 2005

Porcos voadores

Divertido debate na Technology Review em relação ao programa de imortalidade proposto pelo "cientista" Aubrey de Grey. O professor Richard Miller convoca de Grey para aplicar seus mesmos 7 passos para imortalidade em um problema relacionado: fazer porcos voarem. Miller argumenta que uma versão dos 7 passos pode ser aplicada para fazer porcos voarem, em uma tentativa de mostrar que se a proposta implica algo absurdo então a própria proposta deve ser absurda.

Ainda que pouco produtiva, a discussão promete ser divertida. A Technology Review, uma revista eletrônica do MIT, estará publicando respostas e contra-respostas em seu site.

julho 26, 2005

Causalidade

Em matéria na Folha: açúcar pode ajudar a emagrecer. Cientistas notaram uma correlação entre pessoas magras e o hábito de tomar café com açúcar. Os pesquisadores concluíram que o açúcar, portanto, pode ajudar no emagrecimento e criaram a hipótese de que o açúcar reduz o apetite.

O problema desses tipos de pesquisa é que os pesquisadores são muito rápidos em deduzir causalidade. Um dos conceitos fundamentais da teoria da causalidade (vide Causality, de Judea Pearl) é que de uma correlação simples (tipo, quanto mais açúcar mais magro) não implica causalidade e muito menos a direção da causalidade.

Uma hipótese igualmente boa é que pessoas obesas se preocupam com o peso e não botam açúcar no café, enquanto pessoas magras colocam. Isto é, a seta da causa é invertida. Ou pode ser que não haja causalidade alguma, ambos os eventos sejam efeitos de, por exemplo, um mesmo gene que controla o peso e a vontade por açúcar.

Esse tipo de discussão ganhou breve fama devido às companhias de cigarro, que se debatiam para desacreditar a hipótese de que fumo causa câncer. O argumento é que uma hipótese igualmente boa é exatamente um gene comum que gera câncer e, ao mesmo tempo, uma vontade de fumar. Essa hipótese geraria os mesmos dados correlacionados entre fumo e câncer, mas sem a causalidade. É claro que tal hipótese exige que a taxa de câncer se mantenha constante quando o número de fumantes diminui o que, acredito, não aconteceu.

Só espero que os pesquisadores da relação gordos e açúcar tenham tomado cuidados e feito testes adicionais para determinar a causalidade (há diversas técnicas para isso). Mas aí só vendo o trabalho completo.

Em tempo: a tal pesquisa só foi feita com homens. Não se sabe se vale para mulheres também.

P.S. coisa semelhante acontece com analistas de mercado, que tiram causalidades do ar. Exemplo recente é a insistência de assumir que as subidas e descidas do dólar são causadas pela situação política. Se o dólar sobe, é devido à instabilidade política. No dia seguinte, o dólar desce e então é "apesar da instabilidade política". Não parece sequer haver correlação, quanto mais causalidade. "Situação política" é a virose dos economistas, uma explicação padrão para quando não se tem a menor idéia do que acontece.

julho 5, 2005

A notícia do ano

A notícia do ano parece ter saído diretamente de um livro do Douglas Adams: "Astróloga processa Nasa por choque entre projétil e cometa". Da Folha:

Uma astróloga russa está processando a Nasa em Moscou por ter alterado seus mapas astrais ao fazer com que a Deep Impact colidisse com o cometa Tempel 1. Segundo a imprensa local, ela está pedindo ressarcimento por perdas no valor de US$ 300 milhões.

Por que parar aí? Astrólogos podem processar qualquer astrônomo que descubra qualquer astro celeste novo ou corrija rotas dos existentes. Mais ainda, podemos todos processar a NASA, afinal se nossas vidas são regidas por astros, eles estão diretamente modificando o futuro de cada um de nós. Temo que não eu tenha ganho a mega-sena devido a mudança da rota do cometa.

O pior é que a resposta da NASA foi informar que a rota não foi alterada. A única resposta aproriada deveria ser uma gargalhada daquelas de rolar no chão. E não quero nem pensar no tipo de manchete que podemos esperar se isso abrir precedentes...

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