mst.jpgSobre o MST e a Invasão da Aracruz- Eu sempre me considerei uma pessoa "de esquerda". Mas acho que estava errada. Ontem, li chocada as notícias de que as mulheres da Vila Campesina tinham invadido o viveiro da Aracruz, e destruído tudo, inclusive amostras de mais de 15 anos em pesquisa genética em eucaliptos, fora todas as mudas. A Aracruz é uma empresa que produz mudas para a fabricação de celulose. O argumento dos sem-terra é de que o plantio de eucalipto para a celulose estaria criando "desertos verdes" que causariam problemas ecológicos e impediriam a reforma agrária.

Vou inicialmente discutir o mérito da invasão. Bom, primeiramente, papel, para mim, é um item essencial. Eu preciso de papel. Eu leio, eu escrevo e eu desenho às vezes. E gosto de livros e cadernos: Acho essenciais para a educação das pessoas. Logo, para mim, celulose é importante. E se não plantarmos árvores para fazer papel, suponho que o MST tenha alguma outra proposta. Mas para mim, acho muito certo e muito ecológico que as empresas plantem seu próprio papel. Afinal de contas, é isso ou destruir as árvores nativas. Além disso, o RS tem um dos maiores programas de reflorestamento do País. Há várias outras fazendas que plantam, unicamente, mudas para reflorestamento. Várias delas, inclusive, em Pelotas que vendem para as empresas que plantam monoculturas. Assim, acredito que a desculpa ecológica não sirva. Resta ainda a desculpa das terras sendo utilizadas para plantar árvores, ao invés de Reforma Agrária. Sou totalmente a favor da Reforma Agrária. Inclusive, acho que o estado tem feito muito por isso. Há centenas de assentamentos no RS. Acho certo que as terras improdutivas sejam utilizadas para tanto. Mas a fazenda de eucaliptos é improdutiva? O argumento parece ser, justamente, o contrário.

Segundo Cristiane Gomes, coordenadora nacional do MST, a crítica aos ?desertos verdes? da monocultura de eucalipto, que ocupa grandes extensões de terra que, outrossim, poderiam ser utilizadas para produção de alimentos por família a espera da reforma agrária, vem se fortalecendo entre os movimentos sociais com a ampliação da área de cultivo. (Fonte: Agência Carta Maior).

Ok, então o eucalipto não é improdutivo. É monocultura. Mas o plantio de eucalipto ocupa menos de 2% da área total do Estado. Segundo a matéria da Carta maior, são 50 mil hectares por dia, o que, suponho, já ocupou todo o espaço do Estado(28.000.000 de hectares) e deve estar na Argentina. A partir do mesmo argumento, parece-me que, plantar arroz, por exemplo, que ocupa 20% do total da área do Estado seja um absurdo sem tamanho contra a Reforma Agrária e um aburdo ecológico. O que se dirá da Soja, então, que se estima que ocupa mais 10% da área total do Estado? Será que essas monoculturas não afetam o equilíbrio ecológico? Ou será que ninguém mais deveria plantar soja e sim feijão ou maçãs, independente do clima e solo favoráveis a uma ou outra cultura? E o que aconteceria com o fato de que o RS produz mais de 45% do total de grãos do País? Será que alguém já pensou no impacto que se teria, nos preços, na disponibilidade de comida e mesmo na fome se o RS parasse de produzir?

Ainda teria o argumento de que a empresa invadida é de capital estrangeiro, e que não gera muitos empregos diretos e, por conseguinte, não agiria no desenvolvimento do Estado. Fora que as fábricas de celulose, segundo o próprio texto do MST, instalaram-se no Estado por causa dos eucaliptos, pagam mal suas centenas de funcionários, e poluem. Eu entendo o argumento, mas não vejo como se possa impedir isso sem um retrocesso econômico e de qualidade de vida. A maior parte das empresas é multinacional. Raras são as que permanecem unicamente com capital nacional. Mesmo essas, não necessariamente investem o dinheiro em suas regiões. Ainda assim, geram empregos e renda para trabalhadores. E sobre poluição, os ônibus também poluem, e absurdamente. Mas não ouvi ninguém da Vila Campesina reclamar que pegou o ônibus para ir para a manifestação. Como sempre, dois pesos, duas medidas.

Ainda que os leitores e o próprio MST não concordem comigo nos argumentos a respeito das empresas de eucalipto, resta ainda a questão da invasão em si. Do meu ponto de vista, o argumento poderia ser de que o laboratório produziria árvores mutantes alienígenas: Nada, nada, jamais justificaria tal violência. É por isso que eu acho que não sou esquerda e que me enganei. Não apoio, jamais apoiarei e jamais aceitarei que a violência contra empresas, pessoas e principalmente, contra projetos científicos seja meio de luta. Não é possível que no mundo civilizado aceite-se a violência como forma de protesto. Os fins jamais justificam os meios. Se apoiarmos a invasão, apoiaremos, igualmente, qualquer ação igualmente violenta, bastando que seu fim seja aceitável. Será que as torturas impostas pela ditadura no Brasil, com o intuito de impedir que os nazistas ou comunistas chegassem ao País são aceitáveis? Será que as mortes de inocentes causadas por "efeitos colaterais" da invasao dos morros pela polícia do Rio são aceitáveis? Quem sabe a invasão de outros países, com o intuito de "salvar" sua população de um ditador seja aceitável? Ou mesmo, bater nos integrantes do MST, com o objetivo de impedir que eles entrem, a força, dentro de um terreno privado, seja certo? Eu acho que não.

Este é meu último argumento:Ainda que ninguém concorde comigo, acreditem em outra coisa, ou que eu estou errada, ainda assim, o debate e a discussão pacíficos são a única solução civilizada. O que, por si só, invalida e classifica como criminosa a ação do MST.