book.jpeg The Book of Lost Things - Da mala de livros que eu trouxe da viagem, escolhi o The Book of Lost Things do John Connolly para começar a ler. Como meu tempo anda espremido, li nos horários vagos e, ontem, acabei. Posso dizer que foi uma ótima surpresa. O livro conta a história de David, um garoto enlutado pela morte da mãe, que precisa lidar com o ressentimento do novo casamento do pai e do novo irmão recém-nascido. Em meio à dor da não superação e da não aceitação, David odeia o irmão e a madastra e passa os dias em seu quarto, tendo como única companhia, os livros. Com o passar do tempo, o garoto começa a escutar murmúrios das estantes e a ver coisas que parecem pertencer a outro mundo. E ali ele tem seu primeiro contato com o Crocked Man, uma espécie de ser maligno que parece aparecer sempre nos seus sonhos e que vai levá-lo a uma outra dimensão de contos-de-fadas. Neste espaço onde as crianças perdidas vão, David precisa sobreviver e compreender o que é exigido dele.

Apesar do tom conto-de-fadas, o livro não é para crianças. A dimensão que David visita parece construída pelo Neil Gaiman: os contos de fadas são todos "recontados" através de uma interpretação menos mágica e mais escura, dramática e cruel (eu diria até com uma pitada de humor negro). Os sete anões são comunistas. A Bela Adormecida é uma vampira maligna que usa sua lenda para destripar os príncipes e chupar seu sangue. Branca de Neve é gorda, malvada e explora os sete anões. O país é povoado por lobos semi-humanos, treinados pelo filho da Chapeuzinho Vermelho com o Lobo Mau. Heróis são mortos e destripados. Pessoas são comidas por lobos. Crianças são mortas. Sim, a história é bizarra. Mas é fantástica. O tom humano da dor que perpassa todo o livro, que no fim das contas é a história de David aprendendo a superar a morte da mãe e seu próprio ressentimento, é muito bem colocado. Além de bem escrito, bem articulado e sem pedaços faltando, a história tem uma realidade cruel, que incomoda o leitor o tempo todo. Adorei. É, junto com "The Glass Palace", o melhor livro que li (até agora) em 2007.

Dizem que há um tom muito autobiográfico no livro, já que David tem em comum muitas semelhanças com o autor. Os dois têm traços obsessivos compulsivos, ambos precisaram superar cedo a morte da mãe, ambos gostam de livros, etc. De qualquer modo, o livro está entre os mais vendidos de muitas livrarias e, por isso, talvez alguma editora resolva traduzir para o português. Ah, e o John tem uma espécie de blog na Amazon. Interessante. :-)