Workshop de Publicações


Publications.jpgHoje participei de um workshop a respeito de publicações, com editores das revistas New Media & Society, Journal of Computer Mediated Communication, International Journal of Internet Research Ethics, Information, Communication & Society e Game Studies. O workshop era para ser pequeno, mas na hora, a sala ficou lotada e tinham umas 60 pessoas, o que prejudicou bastante o andamento das coisas. De qualquer forma, os editores apresentaram algumas recomendações para publicações e falaram bastante sobre como funcionam journals e publicações nos EUA e na Europa. Algumas coisas que achei importantes e possíveis de ser discutidas aqui no Brasil.

  • Aqui o double-blind (parecer cego) e o peer review (parecer dos pares) é levado muito a sério. Em dado momento, uma editora chegou a comentar que journals sem parecer cego e que não enviavam parecers aos autores não eram sérios. O parecer é quase sempre negativo, pedindo alterações, mas os editores ressaltaram que o processo de publicação é sempre um processo de aperfeiçoamento do artigo e um diálogo com os pareceristas. Achei isso muito interessante porque raríssimas vezes recebi pareceres de revistas da área aqui no Brasil e acho que isso é essencial para a melhora da área e dos artigos.
  • O processo de publicação todo chega a levar entre 12 e 18 meses.
  • A questão de língua é meio indiscutível. Tem que ser inglês e o inglês tem que ser muito bom. Os editores argumentam que, em alguns casos, papers com pequenos erros de estilo podem ser aceitos se o conteúdo for muito bom. Apesar disso, muitos participantes que não são falantes nativos reclamaram um pouco da exigência da linguagem perfeita. Uma editora (Gender Studies) disse que prefere solicitar aos autores que enviem o paper na língua nativa e ela tenta conseguir pareceristas que sejam fluentes em ambas as línguas. Caso o paper seja aprovado, o journal paga a tradução para o inglês se for necessário. Os editores também argumentam que, quer se queira, quer não, inglês é a língua "do mundo" atualmente.
  • Outra coisa colocada foi a interferência dos editores nos pareceres. Alguns editores disseram que interferem nos pareceres, quando os mesmos tornam-se por demais agressivos e pessoais. No entanto, poucos admitiram realmente "editar" os pareceres. Interessante que muitos discutiram também o que é um bom parecer e o quanto bons pareceristas são apreciados.
  • Outra coisa que me pareceu muito importante é que aqui não se admite publicação dupla. Ou o paper é publicado em anais de congresso, ou em journal, ou em livro. Inclusive, há uma hierarquia nesse material: congressos são para papers mais "crus", journals exigem papers mais "maduros" e capítulos de livro, pesquisas consolidadas. E é inadmissível que, como no Brasil, um artigo seja publicado em anais e em uma revista ao mesmo tempo. Quando questionados sobre o valor das publicações, eles argumentaram que mesmo que anais não contem nada para os autores pesquisadores, ainda assim, para journal é preciso originalidade.
  • Finalmente, outra coisa considerada muito importante é que há um forte viés empírico nas pesquisas. Quase todos os editores explicaram que as pesquisas com forte viés empírico parecem construir-se como uma tendência importante para publicação e especialmente, para pesquisadores jovens.
  • Finalmente, o editor da New Media & Society, o Nick Jankowski, apresentou um site que faz média de citações e que pode ser utilizado para medir o impacto das publicações (ele fez fortes críticas aos indicadores que atualmente existem por aqui, chamando-os de "caixas pretas", pois ninguém sabe como um journal pode ser incluído nesses indicadores). Trata-se do Publish or Perish. Para quem quiser, ainda dá para ver a apresentação (keynote) do Jankowski aqui e as anotações aqui.Ele ainda recomendo a leitura do artigo Daft, R. L. (1995). Why I recommend your manuscript be rejected and what you can do about it.