Redes Sociais na Internet, Conversação e Contexto


plurk.jpgUma das maiores riquezas do estudo das redes sociais na Internet é poder perceber, justamente, o contexto dentro do qual emergem as informações e as conversações que vão gerar seu espalhamento. Afinal, essas redes são constituídas pelas conversações e são essas conversações que vão dar sentido para os valores que emergem nesses grupos. Entretanto, observar e compreender o contexto dessas conversações é bem difícil. Esse contexto é, justamente, um dos temas que considero difícil trabalhar e discutir dentro da comunicação mediada pelo computador (CMC), por conta de alguns problemas que vou explorar a seguir.

Falta de Pistas

Um dos grandes problemas da CMC, que já foi discutido por vários pesquisadores ( vide a Susan Herring, por exemplo) é a falta de "pistas" que auxiliem a interpretar e reconstruir o contexto da conversação. Isso porque a conversação online funciona mais ou menos como os diálogos offline. Só que o contexto é muito mais dificilmente construído. Por exemplo, numa conversa, um monte de pistas são constantemente oferecidas pelos participantes, para auxiliar na compreensão do que é dito: gestos, tom de voz, expressões faciais e etc. Essas pistas não existem no ambiente da mediação do computador. Como forma de tentar superar parte dessas dificuldades, as pessoas optam por uma linguagem escrita mais oralizada, cheia de onomatopéias e emoticons para tentar proporcionar "pistas de contexto".

Diálogos Assíncronos

Na CMC há também a possibilidade de diálogos que pulam constantemente entre sincronia e assincronia. Ou seja, diálogos que são amplificados no tempo, retomados e reconstruídos. Também nessas conversações a reconstrução do contexto é dificultada não apenas porque é preciso reconstruir o diálogo mas, igualmente pela dificuldade de recriar um contexto que é dinâmico e que por vezes faz referência a um "ambiente" da conversação que não está mais presente. É um dos grandes problemas que o Twitter tenta resolver, por exemplo, com o uso das hashtags ("#"). Só que nem sempre é eficiente, especialmente quando se tem muita gente utilizando as mesmas hashtags com sentidos diferentes.

Migração

Por conta de suas características assíncronas, o diálogo na CMC migra entre várias ferramentas e dentro de espaços diferentes da mesma ferramenta. Por exemplo, uma conversa que se iniciou em mensagens (privadas) no Twitter pode ser completada com @s públicas. Ou um comentário em um blog pode gerar outro post em outro blog que continua o papo. Ou mesmo algo que foi originalmente tuítado pode migrar para o Plurk e continuar em outro espaço. Como essa migração influencia o contexto? Um dos grandes auxílio é o link, que normalmente oferece alguma pista de contexto. Mas de um modo geral, a migração acaba por restringir a compreensão do contexto para os membros de um mesmo grupo, que participam dos mesmos "ambientes" e que portanto, serão capazes de entendê-lo.

Como nos diálogos offline, o contexto na CMC é constantemente modificado, renegociado e reconstruído. A informação só passa a fazer sentido quando se entende o que é discutido na rede. Por exemplo, pensem no #calabocagalvao... As piadas a respeito do seu significado só foram interessantes porque brincavam com o contexto da tag. Esse contexto é que dá o espaço onde a informação deve ser interpretada. Só que, ao contrário do diálogo offline, boa parte das conversações que acontecem no ciberespaço são, ao mesmo tempo, síncronas e assíncronas. E essa assincronia dificulta a percepção do contexto tanto por parte dos participantes, quanto por parte dos observadores.

O Contexto é essencial

O contexto, assim, é importante para se compreender não apenas os valores gerados pelas redes sociais mas, também, para se compreender as motivações e intenções na difusão de determinadas informações. Mais do que isso, o contexto é também importantíssimo para que se compreenda o potencial das conversações e suas dinâmicas no ambiente do ciberespaço.

O contexto também é tão essencial para essas redes (vejam esse post do WebMetricsGuru que inspirou parte da discussão do meu post) que também se reflete na adoção das ferramentas de CMC e em suas apropriações e modos de pensar o design da informação.

O Facebook, por exemplo, passou a oferecer mais contexto nas informações que dá a seus usuários. A reformulação do design do Twitter também parece ter um foco importante na melhora da percepção do contexto, pois novas ferramentas para observar conversações, hashtags e outras "pistas" de contexto foram incluídas. Ao mesmo tempo, as recomendações do Twitter, ao contrário das do Facebook, não têm contexto e, portanto, são menos valorizadas pelas redes sociais. Assim, é preciso pensar em formas de compreender e reconstruir o contexto das conversações nas redes sociais online como forma de acrescentar valor para a informação.

Assim, as informações contextuais são essenciais para que alguém valorize uma recomendação de um produto no Facebook (Mas por que isso está sendo recomendado? Como a minha rede social percebe isso? Qual a relevância desta informação para mim?), e também essenciais para que um monitoramento de mídia social seja eficiente (Mas quem disse? Por que disse? Qual o sentido do que foi dito para a rede social?). E também são essenciais para que alguém perceba qual é o valor das conversações em cada ferramenta (social? cognitivo? normativo?) e sua influência (autoridade? popularidade?)e etc.