Google+ e Reader: Eu não gostei


url23.jpgDesde ontem, eu sou mais uma das centenas (talvez milhares) de amantes do GReader que estão de luto pelo fim do sistema de feeds do Google. O GReader agora foi incorporado, forçadamente, ao Google Plus. A estratégia do Google é forçar a base de usuários do Reader, que acredito seja bem engajada, a alimentar o G+. O que não é necessariamente uma coisa boa. E que, eu, pelo menos, não curti. :P

Misturando Redes Sociais

Há muitos posts atrás, quando falei do Buzz eu já tinha dito isso. Misturar apropriações diferentes de redes sociais diferentes pode ser um grande tiro no pé. Explico: as pessoas apropriam os diferentes sites de rede social com propósitos diferentes. E isso gera valorações diferentes para cada uma dessas ferramentas. Assim, por exemplo, o que você faz no Orkut não é o mesmo Linkedin, do mesmo modo que o que você faz no Facebook nem sempre é o mesmo que você faz no Twitter. E o que acontece é que, muitas vezes, as pessoas também têm redes sociais diferentes usando essas ferramentas (por exemplo, rede do pessoal do trabalho, rede da família, rede dos amigos e etc.). E isso é absolutamente natural. Suas redes sociais offline também não são todas iguais e não compartilham dos mesmos espaços sociais. (Por exemplo, você não leva seus pais pra balada.) As apropriações dos espaços online, assim, seguem uma lógica parecida. O que não quer dizer que alguns elementos (nós da rede) não participem de vários espaços. O caso é que nem todo mundo está em todos os espaços das redes de seus amigos.

O Google, entretanto, tem sistematicamente "furar" essa apropriação forçando a adoção de ferramentas. O Buzz e o Wave foram exemplos. A proposa do Google é sempre a mesma: criar um gigantesco espaço social onde todos compartilham tudo com todos. Só que as ferramentas Google têm apropriações diferentes. Isso significa que as ferramentas têm valores diferentes. E como o Reader é usado? Primeiro, com uma rede social mais selecionada e muito mais focada. Segundo, como espaço para "guardar" textos interessantes. Terceiro, como "jornal diário". Por exemplo, o Reader pra mim é (era) uma fonte de informações. Assino (ava) ali os feeds das coisas que me interessavam, a partir de uma rede social pequena de alimentadores, quase como um jornal diário. Bem diferente do Twitter, que pra mim é filtro social. Ali me interessa saber o que minha rede social está falando, quais tópicos estão mais relevantes no momento. Tem coisas no Reader que eu dividia com a minha pequena rede e coisas que eu guardava só pra mim. De todas essas coisas, só um pequeno percentual era divulgado para rede do Twitter, por exemplo, só coisas que realmente me pareciam interessantes.

Já o Google+ ainda não pegou direito. Tem algumas apropriações acontecendo, no caso da minha rede, principalmente para divulgação de informações, mas também tem um foco social mais parecido com o Facebook. As pessoas ainda não sabem ainda pra que o G+ "serve". E um dos culpados disso é misturança do Twitter (a idéia de que as pessoas podem te "seguir" sem que vc autorize) junto com uma proposta muito mais social (os círculos). E essa falta de foco gerou uma série de questões ainda não resolvidas. (Por exemplo: Spam social.)

A Face nos Sites de Rede Social

Ferramentas sociais e informacionais não necessariamente se dão bem juntas. O Goffman tem um conceito fantástico que nos ajuda a entender isso: a idéia de "face". A face é um conjunto de impressões construídas de forma a dar uma linearidade para as nossas atuações no dia a dia (grosso modo). O que isso significa? Que dependendo do contexto interacional (ou do espaço social e do grupo ali presente) procuramos manter uma face, que é uma linha de interação que buscamos que seja legitimada pelos demais atores e que eles nos reconheçam por essas características. Só que é por isso que mantemos redes sociais diferentes: nem sempre desejamos manter a mesma face. Como você age num ambiente informal com seus amigos (face 1) não é igual ao modo como você age em um ambiente formal, numa reunião de trabalho (face 2). E é esse o meu ponto: O que você faz no GReader não necessariamente você quer fazer no G+. As coisas que você lê e quer dividir com alguns amigos não necessariamente você quer publicar no G+ e mais: você nem sempre quer que os comentários colocados numa coisa que você publicou por um círculo chegue a outro círculo de amigos. (O que, aliás, é outra coisa interessante que eu tenho observado nas conversações: mesmo que vc não participe, a rede social atribui uma certa dose de responsabilidade pelos comentários a quem originalmente publicou um texto.)

E dai?

Meu ponto é: você não pode obrigar as pessoas a agir do modo X ou Y num ambiente social. Esses modos de agir são construídos socialmente e sempre superam e alargam as limitações técnicas. "Empurrar" os usuários de uma ferramenta para outra criando modos de compartilhamento relevantes pode mudar uma apropriação. Retirar modos de compartilhamento que já foram apropriados e limitar as opções não necessariamente resultam num uso da ferramenta que vc quer. Além disso, tentar criar ferramentas únicas que gerenciem todas as redes sociais não parece ser a solução. Você não necessariamente quer que todo mundo saiba seu email ou que as pessoas que estão na sua lista de emails tenham acesso imediato a seu Reader ou a seu G+ ou que seus grupos diferentes passem a ter acesso às mesmas informações.

Misturar redes e obrigar todos a usar uma mesma ferramenta pode ter resultados mais desastrosos que o esperado.E, finalmente, limitações e focos exagerados podem fazer uma ferramenta perder o valor e, com isso, suas populações tendem a migrar para novas apropriações. Vai ser esse o caso do Reader? Não sei. Tenho a impressão de que a ferramenta perdeu com a mudança. E o G+? Vai ganhar? Não sei tb. Não acho que vá ser o Twitter. O mais provável é que o G+ vai sofra uma inundação de informações (úteis e inúteis), aumente a quantidade de spam e que os usuários sejam obrigados a filtrar mais os círculos para poder filtrar também a informação recebida e emitida. Veremos. De qualquer modo, entender a apropriação é a idéia chave para criar ferramentas úteis e integrá-las de forma natural. Idéia que a maioria das companhias não parece dividir comigo. :P