Sobre informações e influência em Redes Sociais


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(Imagem do trabalho da Gabriela e do Jandré que comento abaixo.)

Há alguns dias, li o post do Akshay Java onde ele reflete sobre as esferas de influência para a transmissão de informações em redes sociais. O post dele me deixou pensando sobre várias questões, que vou alinhavar aqui. Inicialmente, ele se baseia no chamado comportamento de cascata (cascade), onde uma informação inicia uma espécie de reação em cadeia, onde ela é reproduzida inúmeras vezes e de forma rápida (virais, por exemplo). Tentar entender as cascatas é um dos grandes desafios atuais da pesquisa em redes sociais, pois com a Internet, é possível analisar-se esse tipo de comportamento como nunca foi antes, pois essas redes são mais facilmente visíveis. Esse problema é principalmente investigado pelo ponto de vista dos chamados influenciadores, que são aqueles indivíduos que teriam poder de influenciar muitos outros.

Como o Akshay coloca, um dos últimos papers do Watts e do Dodds, eles defendem que estamos olhando para o problema do jeito errado. O que importa não é exatamente se há influenciadores, mas que tipo de seguidores um ator teria na rede. Para o Watts e o Dodds, o que importa é se há uma massa de indivíduos facilmente influenciáveis.

Parece-me que o caminho para entender cascatas em redes sociais é entender como se contrói a presença de um ator social na Internet. As pessoas têm motivações, percepções e ações em grupo que influenciam diretamente as cascatas. Sem entender os aspectos psicológicos e sociais dos atores envolvidos nas redes (que passam, inclusive, pela compreensão da estrutura e da organização da própria rede social), acho que é muito difícil compreender como e por quais razões as cascatas acontecem.

A palavra-chave para compreender as cascatas em redes sociais na Internet, para mim, é capital social. Do meu ponto de vista, essas informações são ou não reproduzidas por conta da percepção dos ganhos em termos de reputação para os atores sociais. A decisão entre reproduzir ou não uma informação é diretamente relacionada com a percepção de que tipo de valor essa ação vai agregar ao ator em relação à sua rede social. Em outras palavras: Eu acredito que as pessoas publicam informações na Internet que acreditam que será de interesse de sua rede social (ou de sua visão do Outro, aquele que lê) e com o intuito de adquirir seus objetivos. Alguém no Twitter, por exemplo, pode querer ter mais seguidores, considerando que este é um valor social importante. Por conta disso, publicará informações que acredite que darão aos demais uma determinada percepção de si (para citar o Goffman) que poderá contribuir para o aumento de sua base de leitores. Outro ator pode desejar aprofundar os laços sociais com seus amigos. Por conta disso, publica informações que fazem mais sentido para sua rede social e que vão estimular seus amigos, por exemplo, a comentar no seu blog.

Essa questão colocada pelo Watts e pelo Dodds, de que é preciso olhar para a rede para determinar quem são aqueles que estão, digamos, expostos a uma determinada informação é relevante, mas não abarca todo o problema. A rede social que é construída através de uma ferramenta como um blog ou fotolog, ou mesmo o Twitter ou o Plurk também é determinada pelo uso da ferramenta e pela percepção que os atores sociais possuem dela. Tenho observado, por exemplo (como já comentei em outra postagem) que no Twitter temos valores sociais mais relacionados com reputação e visibilidade (as pessoas divulgam mais informações relativas aos laços fracos e ao capital social de primeiro nível, citando Bertolini e Bravo), no sentido de "audiência" , enquanto no Plurk , os valores sociais são mais relacionados com o aprofundamento dos laços e a interação entre os indivíduos (citando Bertolini e Bravo, capital social de segundo nível), voltado para a "comunidade". Ou seja, enquanto o Twitter, por sua estrutura e apropriação parece ser uma ferramenta mais voltada para a informação, o Plurk é mais voltado para a interação. Isso, para mim, pode mostrar que o Twitter tende a originar cascatas diferentes do Plurk. Eu diria que o Plurk tende a gerar memes mais sociais enquanto o Twitter tende a gerar memes mais informativas. Isso não se deve à capacidade de influência dos atores sociais e nem à capacidade de ser influenciada da rede, mas fundamentalmente, ao tipo de conexão que um determinado ator possui com os demais que estão na sua rede.

Um trabalho que vai neste sentido é o dos meus orientandos de Iniciação Científica, o Jandré Batista e a Gabi Zago (que na verdade, agora é ex-orientanda), apresentaram recentemente na PUC alguns resultados de um trabalho que estão desenvolvendo, onde analisam a Google Bomb do Nassif e da Veja a partir de uma visão dos blogs. A partir de uma análise dos caminhos que construíram a Google Bomb, eles descobriram quem são os influenciadores dessa rede e como um único indivíduo fez uma diferença enorme na propagação dessas informações. As razões ainda precisam ser exploradas, mas é provável que estejam relacionadas a fatores como visibilidade e o tipo de conexão social que o blogueiro possui, bem como sua reputação com relação à própria rede. Serão os próximos passos do estudo.

Informação útil (ou não): Eu lidero um grupo de pesquisa na UCPel que estuda as redes sociais na Internet em suas diversas manifestações. Se alguém aí é da universidade e/ou tem interesse em participar, emailei-me. Ah, sim, o grupo é presencial. :-)