Orkut x Facebook: De novo


orkutfb.jpg Ontem respondi uma entrevista que me perguntava o que eu achava que aconteceria com o Facebook no Brasil. O que vai acontecer, eu não sei. Mas posso dizer isso: Jamais teremos outro "fenômeno Orkut" no Brasil, em termos de sites de rede social (SRSs). O Orkut é fascinante porque foi único. Porque chegou num momento onde os brasileiros tinham pouca ou nenhuma experiência com sites de rede social e criou um contexto único, de participação. Porque o Orkut foi um dos "marcos" da Internet no Brasil, com efeitos não apenas na inclusão digital e na "alfabetização" para a Internet de toda uma população, mas no próprio uso da Internet no País. O Orkut foi o sistema certo no momento certo e é por isso que foi tão relevante para o País. Sim, foi. Agora não é mais? É sim, mas perdeu espaço. Perdeu espaço para outras ferramentas que apareceram depois. O brasileiro, mais entendido, também passou a experimentar outras coisas. Como o Twitter, por exemplo.

O Contexto para o Facebook

O Facebook entrou num país que já usava o Orkut, portanto, pegou outro contexto. E o contexto do crescimento do Facebook se dá em duas frentes:
  • A primeira é a crescente preocupação para com a privacidade no Brasil. Com o "efeito mídia" das mazelas do Orkut, e a percepção de que não é tão interessante assim que todo mundo tenha acesso às informações que você publica online, as pessoas passaram a se preocupar no Orkut, deixando todas as informações mais privadas. O problema é, no entanto, que a principal apropriação do Orkut era adicionar todo mundo à sua rede. Então, mesmo se você deixar suas informações privadas, ainda assim, uma grande quantidade de pessoas "desconhecidas" vai ter acesso. O Facebook, aqui, oferece uma nova oportunidade, de começar sua rede do zero, mais low profile, adicionando menos pessoas. Ao contrário do Orkut, onde as pessoas pensavam em conhecer novas pessoas também, o Facebook entra num contexto de manter uma rede social próxima. Entretanto, para o brasileiro que apropriou SRSs no contexto "Orkut", esse voyerismo de saber da vida de quem você conhece só superficialmente continua sedutor. E as pessoas assim passam a apropriar o Facebook divididas: Querem ter amigos, mas querem limitar o acesso às suas informacões. Querem ver sem ser vistas.

  • A segunda frente é a dos apps, de um modo especial, dos jogos. É inegável que os jogos do Facebook são extremamente interessantes para muitos. São jogos casuais, onde os benefícios aparecem rapidamente e com pouco tempo de jogo e são sociais, no sentido que atualizam a manutenção dos laços sociais. Mas não apenas os jogos. Outro fenômeno mais recente (na apropriação brasileira, claro) são os apps de "questionários" ou "entrevista", onde você fala dos seus amigos e espera que eles falem de você. (Reparem que esse foco na narrativa identitária já existia no Orkut, onde os brasileiros determinaram apropriações, como a das comunidades como elementos identitários e que falam ao próprio sucesso do BuddyPoke. E anteriormente a isso, já apareceram nos Fotologs, Blogs e na História Antiga, no IRC. É uma tendêcia forte na apropriação brasileira.) Essa diversidade de apps tanto pela quantidade de desenvolvedores quanto pelas própria valorização da ferramenta também é importante para a apropriação dos brasileiros. Há sim, apps legais no Orkut. Mas são minoria em comparação com o Facebook


O Facebook vai ser o novo Orkut?

Vejam, portanto, que a apropriação do Facebook é herdeira da apropriação do Orkut. É no contexto das falhas e construções de sentido do Orkut que o Facebook vem crescendo, na minha opinião. Mas isso não quer dizer que o Facebook vai "substituir" o Orkut. Até porque não há mais contexto pra isso. O tempo médio gasto no Orkut agora, dizem os institutos está em 4,6 horas por mês. Já foi maior. Mas é óbvio que essa redução vai existir. Há muito mais sites para ver, informação para buscar e concorrência para o Orkut. O Facebook abocanha apenas uma pequena parte do tempo disponível, que precisa dividir com Twitter, Orkut e outros. Portanto, não será, como com o Orkut, a grande atividade do brasileiro online. Porque há outras coisas agora. Além disso, não vejo, como já disse inúmeras vezes, uma migração em massa para o Facebook e a desertificação instantânea do Orkut. A tendência é que as pessoas dividam a atenção, criando perfis em ambos e utilizando ambos enquanto perceberem valor nos usos. Claro, o Orkut vem perdendo valor por conta da preocupação com a privacidade e outros fatores (como a falta de novidades, por exemplo). Mas dificilmente todos mundo vai sair do Orkut e passar para o Facebook, como alguns dizem. A menos que o Google decida por uma morte rápida e delete o Orkut.

Outros textos meus sobre o assunto:

Orkut x Facebook no Brasil (outubro de 2010)
Orkut x Facebook: Divisão de classes no Brasil(julho de 2010)
Orkut x Facebook no Brasil: Alguns apontamentos - (agosto 2009)