maio 30, 2008

Pedro Doria, Censura e Liberdade de Expressão na Internet censored.gifAcompanhei o caso do Pedro Doria via Google Reader, pois cerca um assunto que muito me interessa. A novela começou quando o Pedro colocou no blog um pedido para que Fernando Gabeira fosse candidato à prefeitura do Rio de Janeiro. A campanha adquiriu vários contornos e acabou que Gabeira se candidatou mesmo. Esta semana, o deputado recebeu uma ordem judicial para retirar do blog do Pedro Doria os banners de apoio ao candidato, bem como os sites da campanha. Apesar de não ter tido acesso à decisão judicial, vou comentar alguns pontos.

Inicialmente, estranho a ordem para que Gabeira retirasse do blog que não é seu e com o qual não tem nenhuma participação (exceto, talvez, por uma amizade com Pedro Doria) o banner e a campanha. Além de criar um precedente absurdo, não faz qualquer sentido. Isso quer dizer que, se eu fizesse aqui um blog em favor de um cadidato que detesto, o Exmo. Juiz mandaria cassar o candidato que não tem nada a ver com isso? Percebam o problema: com a lógica da Internet, onde cada indivíduo é um potencial produtor de conteúdo, é humanamente impossível ao mais bem intencionado candidato controlar o que 30 milhões de brasileiros estão fazendo aqui com o seu nome. Quero dizer, para mim, a ordem tem um vício em sua emissão, pois ela responsabiliza alguém que não pode ser responsabilizado pois não teria (tecnicamente) nenhum controle sobre os fatos. Em uma analogia simplória, seria como responsabilizar um candidato porque as pessoas estão falando sobre ele na rua.

Em um segundo momento, o mérito da questão é complicado. A CF garante, em seu artigo 5o, inciso IX, o direito à liberdade de expressão como cláusula pétrea de um Estado de Direito. Isso significa que é um direito constitucionalmente garantido, no Brasil, às pessoas de expressar livremente sua opinião. A CF não faz nenhuma restrição com relação ao modo através do qual essa opinião é expressa, ao contrário, o artigo 220 ainda esclarece: "Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição"(grifo meu). Do meu ponto de vista, solicitar ao Pedro que retire, do seu blog particular, que é um veículo de expressão individual, opinativo e pessoal, as referências ao Gabeira e o apoio ao candidato constitui-se, sim, em censura, elemento que é (e deve ser) extirpado de um Estado de Direito. É uma ordem para que a opinião pessoal de alguém seja tolhida, excluída e tachada como propaganda. É exatamente como impedir que as pessoas utilizem bottons, adesivos ou simplesmente declarem, publicamente, seu apoio aos candidatos. É propaganda? Tecnicamente, sim. Mas daí também, qualquer expressão individual - mesmo a fala - tecnicamente também o é. Mas a Justiça tem acolhido a expressão individual como permitida (vejam que é possível votar com bandeiras, bottons e etc.) desde que não seja alardeada. Assim que nenhuma ferramenta da Internet como os blogs (exceto talvez pelos banners e pop-ups), fazem alarde, já que é preciso ir até as pessoas (a chamada propaganda pull, onde o consumidor vai ler se interessar) para ler o que essas ferramentas explicitam, não há difusão massiva (a chamada propaganda push, empurrada para cima do consumidor que não tem controle sobre ela, como nos meios de comunicação de massa).

Na minha opinião, é preciso esclarecer o que deve ser considerado propaganda eleitoral e o que é garantido constitucionalmente como direito de expressão individual. Lendo a Lei Eleitoral, não vejo nenhum dispositivo que defina o que é considerado propaganda eleitoral e como esta poderia ser controlada na Internet, ainda que por analogia. Pesquisando em artigos jurídicos e em doutrina menos ainda. Há artigos que tratam das home-pages, chats e e-mail. Este outro artigo trata ainda do que pode ser considerado propaganda eleitoral. Mas nenhum deles diferencia e especifica a questão da opinião pessoal nos blogs, fotologs, sites de redes sociais e etc.

E o que fazer? Não acho que a Internet deva ser uma terra sem lei. Mas acho que é preciso preparo e razoabilidade por parte dos juristas e legisladores ao analisar este novo meio, muito mais complexo que os anteriores. Não é possível que se compare a Internet com os meios de comunicação anteriores. É diferente em sua estrutura, na produção e no compartilhamento de informações. Conseqüentemente, tem a capacidade de gerar efeitos muito diferentes sobre a sociedade, efeitos estes não previstos pelos dispositivos legais atuais. Estes sim, se levados a efeito por analogia, gerarão conseqüências absurdas para um Estado de Direito, como foi o caso da ordem judicial que comentei aqui.

Update: (via lista do JW) E o coordenador estadual de fiscalização da campanha do Rio assinou uma portaria liberando a campanha em blogs e páginas de sites de relacionamento.
Posted by raquel at 9:52 AM | Comments (4)
Intercom Sul 2008 Para quem quiser acompanhar, alguns alunos da disciplina de Jornalismo Digital da UCPel estão fazendo uma pequena cobertura da Intercom Sul 2008, em Guarapuava, Paraná. Em blog e Twitter.
Posted by raquel at 8:44 AM | Comments (0)

maio 28, 2008

Estudos de Redes Sociais na Internet O Akshay Java, do blog Social Media Research fez um post comentando a "triologia" da pesquisa em redes sociais. Eu fiquei inspirada a comentar, já que uma boa parte da minha tese é uma recuperação dos estudos de redes sociais, para desaguar no estudo das redes sociais na Internet. Vou aproveitar e fazer algumas recomendações de leituras a respeito dos assuntos.

A Análise de Redes Sociais

redea.jpgO estudo das redes sociais não nasceu, como o Akshay Java aponta, da triologia Barabási, Watts e Strogatz (daqui a pouco falo sobre eles). Na realidade, há uma longa esteira de estudos a partir dos quais a metáfora das redes foi aplicada para os grupos sociais. A Sociometria, que surge a partir do início do século, com os trabalhos do Jacob Moreno, por exemplo, é baseada na Teoria dos Grafos, que deu origem a boa parte das abordagens de redes em várias ciências. A Sociometria é um dos braços que auxilia na construção do chamado paradigma da Análise de Redes Sociais. A ARS é um conjunto de métodos de estudo dos grupos sociais como redes, mas que continua, inicialmente, um forte viés empírico e uma tentativa de medir as relações, laços e interações sociais, como componentes da estrutura social. Assim, a ARS é uma forma matemática de análise sistemática de grupos sociais. Quem trabalha com a ARS, por exemplo, trabalha com elementos como sociogramas, graus de centralidade dos grafos (Degree Centrality, Betweenness Centrality, e Closeness Centrality), centralização e etc.

Para saber mais sobre a ARS

analysisn.jpg #Site da International Association for Social Network Analysis (ISNA). Além de uma extensa bibliografia, tem várias definições a respeito do que é e do que não é Análise de Redes Sociais.

# Compêndio de métodos, dados e definições a respeito da ARS do Robert A. Hanneman e do Mark Riddle. É bom para quem quer conhecer como tratar os dados e como usar os softwares.

# Outro compêndio de introdução à ARS. Especialmente bom nos chamados fundamentos matemáticos.

# Livros legais para compreender a ARS:
Models and Methods in Social Network Analysis (Peter J. Carrington)
The Development of Social Network Analysis: A Study in the Sociology of Science (Linton Freeman, um dos pais da ARS)
Social Network Analysis: Methods and Applications (Structural Analysis in the Social Sciences) (Stanley Wasserman e Katherine Faust, um dos meus primeiros contatos com a ARS, bastante recomendado)
Introducing Social Networks (Alan Degenne e Michel Forsé)
Social Network Analysis: A Handbook (John Scott)


O estudo das redes sociais na Internet, no entanto, quase não era abarcado pela ARS. A partir do início da década de 90 e final de 80, os trabalhos do sociólogo Barry Wellman é que começam a vir nessa área. Ele tem uma larga história dentro da ARS (vide, por exemplo, seus artigos sobre métodos de análise de redes sociais e sobre Teoria de Redes Sociais. O Wellman não só é um dos primeiros a focar no estudo das redes sociais na Internet, como também abarca uma perspectiva menos quantitativa nesta discussão. Ele também já utiliza conceitos como o de capital social como fundamentais para a definição da estrutura social. (Atenção: Wellman defende firmemente o estudo das redes sociais como fundamentalmente empírico e sistemático baseado nos preceiros da ARS. Para esta perspectiva, não há análise de redes sociais em trabalhos meramente reflexivos. O estudo das redes sociais é firmemente fundado na análise sistemática de larga quantidade de dados obtidos em campo e do que os dados mostram, para só depois, permitir a reflexão sobre os dados.)

O Wellman também tem vários livros que introduzem o estudo das redes sociais, principalmente o Social Structures: A Network Approach, o Networks In The Global Village: Life In Contemporary Communities (um dos primeiros a lidar com a Internet enquanto espaço da rede social) e o The Internet in Everyday Life, com a Caroline Haythornthwaite.

Outro nome importante nesta perspectiva é o Mark Granovetter. Ele trabalho com o espalhamento de informações dentro das redes sociais e é o nome que criou o conceito dos laços "fortes" e "fracos". Ele escreveu um famoso artigo na década de 70, denominado The Strengh of Weak Ties (que depois foi revisitado), além dos livros Getting a Job: A Study of Contacts and Careers e The Sociology of Economic Life (mais do ponto de vista econômico do seu trabalho).

Em resumo:

A Análise de Redes Sociais é uma perspectiva de fundamento empírico e sistemático, que compreende o estudo da estrutura e da composição dos grupos sociais e trabalha com os conceitos de laços e capital social e com as medidas de rede.

A "Nova" Teoria das Redes

redeb.jpg A partir da década de 90, com o advento da Internet, os estudos das redes sociais foram "redescobertos" por um grupo de estudiosos de viés matemático e físico. Nesta leva estão o Duncan Watts, o Albert-László Barabási, o Steven Strogatz (que foi o orientador do Watts) e o Mark Newman. Esses estudiosos vieram de grupos que procuravam entender não mais a composição e estrutura das redes sociais, mas fundamentalmente, a dinâmica das redes sociais no tempo.

# O Barabási escreveu o famoso Linked: How Everything Is Connected to Everything Else and What It Means. Ele foi o primeiro a identificar, nas redes em geral, os conceitos de redes sem escalas e da conexão preferencial. Basicamente, o Barabási identificou que, nas redes sem escala há sempre a presença de conectores, ou seja, nós extremamente conectados, que contribuem para reduzir a distância média entre cada nó. Basicamente, dando um exemplo social, pensem em uma pessoa extremamente popular, que conhece muito mais gente que a média dos seus amigos: esse cara é um conector. Ou seja, através dele, você (e seus amigos) estão mais conectados no tecido social. Além disso, como o cara é super popular, há uma tendência lógica que, digamos, um novo membro do grupo venha a conhecê-lo antes de você (já que ele conhece tanta gente e transita entre tantos grupos). Essa tendência, dos novos nós conectarem-se ao conector, foi identificada pelo Barabási como conexão preferencial e como o modo de evolução da rede.

# O Duncan Watts (que na verdade publicou antes do Barabási) trabalha principalmente com o fenômeno dos mundos pequenos e da importância dos laços fracos na estrutura social (bastante baseado no Granovetter, portanto). Ele escreveu o Six Degrees,/a>, que é mais geral, um livro bastante voltado para teorias sociais, e o Small Worlds: The Dynamics of Networks between Order and Randomness, onde ele discute que a tendência à formação dos mundos pequenos seria inerente nas redes sociais.

# O Steven Strogatz trabalhou mais a fundo com as estruturas emergentes das redes sociais. Ele escreveu o Sync, mostrando que a sincronia seria uma característica dos grupos sociais e também implicando na emergência da complexidade nos sistemas sociais.

# O Mark Newman tem um trabalho mais focado na estrutura matemática das dinâmicas das redes. Ele é co-autor, com o Barabási e o Watts de um livro que tem todos os textos mais "clássicos" desta abordagem, The Structure and Dynamics of Networks. Apesar de muito interessante, o livro é bastante matemático e pode complicar a vida de quem não está familiarizado com os conceitos básicos da ARS.

# Outro livro que fala sobre essa "nova abordagem" é o Nexus do Mark Buchanan, que revisita todas as teorias e descobertas e tenta elevar a "nova" ciência das redes à categoria de paradigma científico.


Esses estudos que eu mencionei acima deram novo fôlego aos estudos a respeito dos grupos sociais na Internet, da difusão de informação e mesmo das estruturas das redes percebidas em sites, por exemplo. Apesar da maior parte do pessoal que trabalha com os conceitos da "nova teoria das redes" pouco ou nada referir-se à ARS (e vice-versa), há um forte alinhamento das duas perspectivas. Finalmente, outros trabalhos que tocam marginalmente em conceitos relacionados com a estrutura, a composição e/ou a dinâmica das redes, como os estudos dos sistemas complexos, de comportamento de multidão, e mesmo livros de divulgação científica na área - vide o Emergência do Johnson (que é mais divulgação científica), os trabalhos do Johhn Holland (como o Hidden Order e o Emergence, que focam a dinâmica dos sistemas complexos) ; Stuart Kauffman (At Home at the End of the Universe e o The Origins of Order: Self-Organization and Selection in Evolution , focados em auto-organização, evolução e sistemas complexos; ) ou mesmo trabalhos focados em perspectivas dinâmcias de grupos como o The Wisdom of Crowds do James Surowiecki - também costumam ser citados e utilizados pelos pesquisadores da área. Por conta disso, o estudo das redes sociais na Internet cresce como uma perspectiva multidisciplinar, ainda fortemente empírica e sistemática, mas inovadora no que tange à complexidade de sua abordagem.
Posted by raquel at 11:31 AM | Comments (8)

maio 27, 2008

Drops de Terça Estou absurdamente sem tempo para atualizar, então vão aí notícias em drops:

# Vídeos das apresentações do ICWSM de 2008 estão disponíveis online, para quem deseja acompanhar as apresentações. A ICWSM é a conferência de blogs e mídia social que aconteceu em Seattle, em março deste ano.

# O Jornalismo e Comunicação publicou um post com uma proposição das categorias de mídias sociais a partir de um trabalho do Fred Cavazza. A proposta é interessante e bastante didática, mas achei que tem categorias ali que se sobrepõem, além de não concordar muito com a proposta de "redes sociais", uma vez que toda a ferramenta de mídia social acaba funcionando em torno dessas redes.

#O Analytics Guru postou um comentário sobre uma mesa redonda em torno do tema de mídias sociais. O comentário, dividido em três partes, fala também da disseminação (mkt viral) de produtos em redes sociais e das campanhas em mídia social.

# Essa matéria do ReadWriteWeb fala das "multidões não tão inteligentes" (referência ao livro The Wisdom of the Crowds do James Surowiecki). A referência contrária é a questão do Groupthink. Essa idéia foi proposta pelo William H. Whyte e discutida pelo Irving Janis: quando há muitas pessoas envolvidas na tomada de uma decisão, haveria uma tendência a evitar conflitos e aceitar a decisão menos ótima (uma decisão mediana) simplesmente para evitar o confrontamento por parte do grupo. Isso significaria que grupos grandes tendem a tomar decisões piores que grupos pequenos ou indivíduos preparados.

# Finalmente, semana que vem estarei presente no encontro da Compós 2008, em São Paulo, apresentando um trabalho denominado Práticas de sociabilidade em sites de redes sociais: Interação e Capital Social nos Comentários dos Fotologs no GT de Comunicação e Sociabilidade. Vou fazer uma cobertura do evento e dos trabalhos para quem quiser assistir, no Twitter.
Posted by raquel at 1:01 PM | Comments (3)

maio 18, 2008

Memes, Motivações, Blogs e Redes Sociais infdif.jpgUma das pesquisas que eu atualmente estou conduzindo busca compreender as motivações que as pessoas têm para "passar" uma determinada informação adiante e como essas motivações influenciam a forma através da qual a rede social "reverbera" a mesma informação. Tenho um projeto que conta com o apoio do CNPq para estudar essa questão nos blogs, e de um modo específico, na blogosfera brasileira. Uma das minhas hipóteses é a de que parte das motivações das pessoas para publicar uma informação e não outra refere-se ao ganho social percebido nesta difusão.

Eu chamo essas informações passadas adiante de memes, apesar desta conexão não ser minha e já ser bastante popular nos estudos de difusão de informação nos blogs (vide Adar, E., Zhang, L., Adamic, L. A., & Lukose, R. M, 2004 e Halavais, A. C., 2004, por exemplo). É um conceito controverso, mas bastante adotado pelo seu caráter "viral" de compreender o espalhamento das informações. Um meme, assim, é compreendido como aquela informação (quase sempre associada a um link) que é propagada blog a blog, a partir da idéia do Richard Dawkins no livro "O gene egoísta". Há uma parte da literatura que tenta observar os padrões de difusão dessas informações e outra parte que busca compreender os mecanismos através dos quais essas informações são espalhadas (como piadas, vírus de e-mail, sites legais e etc.), o que influencia bastante a visibilidade na blogosfera. Inicialmente classifiquei os memes em dois tipos:interacionais e informacionais. O primeiro tipo compreende a informação que apela para seu valor social, ou seja, que tem um alto caráter conversacional, polêmico ou simplesmente, de diversão e que é publicada com o foco na interação na rede social. O segundo compreende a informação cujo valor é mais relacionado à noticiabilidade, ou seja, ao furo, à informação que será divida com a rede social. No meme interacional, o valor está no fato do mesmo ser "reverberado" por outros blogs e comentado (logo, esse tipo de meme é frequentemente espalhado por dentro dos clusters das redes de blogs). No meme informacional, o valor está no fato de se ser o primeiro a publicar na rede (logo, esse tipo de meme raramente se espalha pelos clusters, mas normalmente atinge um único nó de cada cluster). A idéia é primeiro verificar essas conexões de um ponto de vista qualitativo e, em um segundo momento, através da análise de redes sociais. Até então, tenho 54 entrevistas em profundidade com blogueiros, 150 blogs observados e 988 memes coletadas com um padrão observável.

O objetivo deste post é mostrar alguns dos resultados que estão aparecendo no meu trabalho, os quais vou apresentar na Hypertext 2008, mês que vem. Duas coisas parecem bastante promissoras. Um dos primeiros resultados que apareceram na minha pesquisa foram as motivações das pessoas e o tipo de meme publicado. Relacionei, assim, os memes interacionais com as motivações de a) criar um espaço pessoal (o que relaciona-se com a interação na medida em que é requisito desta reconhecer, em um blog, a "voz" de alguém); b) criar interação, ou seja, receber comentários, ver outros blogueiros comentando o mesmo fato. Já os memes informacionais seriam relacionados com outras motivações, a saber a) criar autoridade ou reputação, onde o objetivo é ser reconhecido como "autoridade" em um determinado assunto ou expor um conhecimento específico; b) gerar popularidade, ou seja, receber links e tornar o blog um conector; c) criar -e dividir - conhecimento, ou seja, dividir uma informação, gerar debate e proporcionar conhecimento para a blogosfera. Ou seja, até então tenho uma pequena confirmação de que a identificação, ainda que inconsciente dos valores presentes nas informações divulgadas e na percepção da própria rede social influencia, e muito, o padrão de difusão que esta informação terá na blogosfera.

A partir desta construção, estou tentando discutir as estruturas de espalhamento das informações e as percepções dos blogueiros de suas próprias redes sociais. Ou seja, as informações são publicadas com foco no que o blogueiro constrói como sua "audiência" na rede social, mesmo que sua percepção não seja condizente com a realidade. O objetivo é compreender um pouco melhor se há algum tipo de padrão estrutural das redes que proporciona tipos diferentes de difusão.

A idéia de postar um pouquinho da pesquisa aqui - e é só um pouco dela mesmo - nasceu da proposta de dividir conhecimento e verificar como a rede social reverbera as informações. O resumo do trabalho está disponível online e o original está na biblioteca da ACM. Infelizmente só tem uma versão em inglês disponível mas, em breve, termino o segundo paper sobre o assunto e, desta vez, espero fazer uma versão em português, mas quem quiser, pode enviar um email que mando o paper original.

Fonte da Imagem: Trabalho da Lada Adamic.
Posted by raquel at 6:52 PM | Comments (12)

maio 13, 2008

Google Friend Connect: A próxima revolução social? fcgoogle.jpgE o Google apresentou ontem a mais nova ferramenta de rede social. Trata-se do Google Friend Connect. A idéia é muito ousada: A ferramenta permitirá que qualquer site possua ferramentas de rede social, como amigos, espaços de interação e etc. A percepção é a que o sistema vai gerar um modo de juntar as várias redes, sem a centralização de um site de rede social.

O blog The Social Web explica:

friendconnect.jpg In other words, Friend Connect does two things: adds social networking features such as registration, profiles, messages etc. to any site from scratch, or takes advantage of existing social networks and other social services that offer ?data portability? APIs so that users won?t have to recreate their friends lists on every site they join. But perhaps more importantly, does both without the need for site owners to write any code of their own.

O Fabio Giglietto postou o vídeo do Youtube que mostra o funcionamento da ferramenta no Twitter. O que todo mundo está se perguntando é se a ferramenta será significativa, uma vez que qualquer site poderá ser um site de rede social, e como seu uso (uma vez lançada) vai alterar o uso dos já tradicionais sites de redes sociais, como o Orkut e o Facebook. Vale conferir.
Posted by raquel at 8:12 AM | Comments (2)

maio 11, 2008

Recuperando a História do Orkut no Brasil orkut.jpg Inicialmente, minha tese abrangeria uma larga parcela de dados a respeito do surgimento e do crescimento do Orkut no Brasil. Como esse material acabou sendo cortado, resolvi fazer um post sobre o capítulo. :-) A idéia inicial era comentar o crescimento do Orkut no Brasil e apontar alguns elementos significativos da minha percepção sobre este crescimento que iriam para a tese.

Como todos sabem, o Orkut foi lançado comercialmente pela Google em janeiro de 2004. Lembro especialmente de tomar conhecimento da ferramenta em uma matéria da Wired que comentava, justamente, a necessidade de ser convidado por alguém logo depois do lançamento (apesar disso, nunca mais achei a matéria lá, provavelmente por conta das reformulações que a revista sofreu). Antes disso, seu antecedente foi o Club Nexus (Hampell, 2004), que era o sistema que tinha sido originalmente desenvolvido pelo Orkut Buyukokkten como site de rede social e que era principalmente utilizado pelos alunos de Stanford em 2001, onde ele fazia o doutorado. Ele disse que o Google se interessou pelo projeto e acabou modificando e lançando em 2004 com o nome dele (o que o próprio Orkut não achou muito bom).

Quando eu fui convidada para o Orkut, por um amigo da Unicamp, lá pelos idos de fevereiro de 2004, o site já tinha um número razoável de brasileiros. A maioria eram amigos/colegas da área de informática, mas uma boa quantidade de blogueiros conhecidos e empreendedores de Internet começava a entrar na mesma época. Dentre as iniciativas interessantes dos brasileiros, estava o uso das comunidades para dar personalidade para o perfil, coisa que os americanos, que até então eram a maioria dos usuários, não faziam e a competição pelo número de amigos e de comunidades.

Havia já algumas diferencas básicas do comportamento dos brasileiros e americanos na época. Acho que o pessoal do Brasil foi muito mais influenciado pelo Orkut como uma grande novidade porque o Friendster, que sera o site de rede social mais conhecido por aqui não tinha pego muito bem. E a idéia de trazer os amigos e experimentar era muito forte. Lembro que meus amigos americanos muito raramente usavam o Orkut para conversar ou mesmo para abrir tópicos nas comunidades. Os brasileiros faziam muito mais isso. Outro elemento que inicialmente atraiu muita gente foi a famosa comunidade "Como ou não Como". A idéia da original era oferecer perfis do pessoal para uma "avaliação" dos atributos pelo grupo. Lembro que era uma comunidade absurdamente ativa (chegava a ter centenas de mensagens por dia!) e era uma motivação muito forte para que quem já estivesse no Orkut convidasse os amigos para entrar (colocar os perfis deles na roda). Aliás, foi o próprio crescimento do Orkut que matou a ConC. Com tanta gente entrando, começou a ficar impossível acompanhar as mensagens nos fóruns e várias "sub-comunidades" ConC começaram a surgir. Finalmente, outro elemento que eu sempre achei determinante para a entrada do pessoal no sistema foram as classificações (corações, estrelinhas, cubinhos de gelo e o "top ten" que existia). Todos queriam saber como os amigos os classificavam e assim, era interessante convidá-los. Outra prática comum entre o pessoal do Brasil era "invadir" as comunidades gringas e ficar falando português, exatamente como era na EFnet, na época do IRC.

O Anthony Hempell escreveu um artigo a respeito de uma observação do crescimento das primeiras onze semanas do Orkut e, nele, começou a apontar um crescimento rápido no Brasil, Japão e Índia, especialmente a partir de março de 2004.

fig6.jpg
Fonte: Hempell, 2004.

O gráfico acima, que está no paper dele, mostra o momento em que a curva de crescimento começa a aproximar-se de uma power law no Brasil. Nesse paper, o Hempell ainda relembra o emblemático caso do Huy Zing, que foi orkuticidado e depois, revivido; e das dificuldades em lidar com algumas das primeiras ferramentas de controle, como a prisão que era usada para prejudicar desafetos no sistema.

Outros dados sobre o crescimento do Brasil ainda podem ser encontrado em comunidades como a Orkut Statistics. Ali temos dados do crescimento do Brasil a partir de abril de 2004, quando os EUA, pela primeira vez, reduzem sua presença para menos de 50% dos usuários. Na época, em menos de três meses, o Brasil passou de 8o país no ranking do Orkut para primeiro. Com o crescimento do número de brasileiros, muitos estrangeiros passaram a hostilizar o Brasil e a discutir essa "invasão".

Do mesmo modo, enquanto o Brasil crescia, o uso nos Estados Unidos e Japão (os dois primeiros países originalmente) caía bastante. Em meados de maio, o Brasil passou o Japão e tornou-se oficialmente o segundo nas estatísticas do sistema. Finalmente, no dia 23 de junho de 2004, o Brasil bateu os Estados Unidos, tornando-se o país com o maior número de usuários do Orkut.

Muitos creditam o aumento exagerado de usuários brasileiros ao espalhamento do Orkut nas Universidades. Em junho de 2004, por exemplo, algumas das maiores comunidades eram de universidades (UFRGS, USP e Unicamp, respectivamente) e havia uma grande centralização de comunidades representativas do Rio Grande do Sul (que por algum tempo também foi apontado como um dos "centros" brasileiros do Orkut).

Essas considerações são elementos gerais a respeito do crescimento do Orkut no Brasil ainda em 2004. Na verdade, se pegarmos os dados do número de usuários, a power law, nessa época, estava apenas começando. O crescimento vai se manter estável ainda pelos anos de 2004 e 2005. A partir de 2006, o crescimento do Orkut começa a levantar bastante, mas daí menos pelos brasileiros e mais pela entrada de países como a Índia e o Paquistão.

alexa.jpg
Fonte: Alexa, gráfico gerado em 2007.


Na verdade, o Brasil ainda é o grande líder em número de usuários do Orkut, mas a Índia começa a ser, cada vez mais, uma ameaça. Não só porque o crescimento estabilizou no País (o Orkut tem quase o mesmo número de perfis que a projeção do número de internautas brasileiros), mas principalmente, porque ainda não se estabilizou por lá (o que explica a queda em números percentuais do Brasil enquanto #1).

Os comentários acima foram construídos com base nos meus dados pessoais da tese e em observações genéricas sobre o sistema que tenho em meu diário de campo. Quem quiser contribuir com sua experiência ou ponto de vista, pode ir colocar nos comentários. :-)
Posted by raquel at 7:43 PM | Comments (13)

maio 9, 2008

Trackbacks Usei por anos as trackbacks e elas nunca funcionaram muito na blogosfera brasileira, já que poucos têm o hábito de utilizá-las. Daí as retirei porque, apesar de constituírem uma ferramenta muito legal, a maioria das pessoas não entende e acaba simplesmente como fonte de spam. Era tanto spam que eu acabei tirando. Mas atendendo a inúmeros pedidos ;-), voltei a colocá-las (e, de quebra, estou ajudando o Inagaki na campanha "Blogueiros brasileiros, coloquem trackbacks!").
Posted by raquel at 10:24 PM | Comments (2)
Facebook já é o Primeiro Site de Rede Social No mês passado, o Facebook ultrapassou o MySpace em pageviews e tráfego de acordo com o Alexa, tornando-se o primeiro site de rede social em número de acesso no mundo. O Facebook vem crescendo bastante e em várias localidades do mundo e, de acordo com o blog do Alexa, duplicou o número de visitantes únicos de setembro de 2007 até abril de 2008, passando a ser o quinto site mais acessado do mundo, enquanto o MySpace passou para a sexta colocação.

myspace-facebook.jpg


Enquanto isso, no Brasil, o Orkut continua em absoluto como o site mais acessado do País, o Fotolog mantém-se na 19a colocação e o Blogger na 10a. Interessantemente, o Sonico começa a aparecer no top 100 brasileiro, na frente do MySpace.
Posted by raquel at 8:35 AM | Comments (1)

maio 8, 2008

Open Social e Sites de Redes Sociais opensocial.jpgOntem participei do workshop de redes sociais na UFRGS, que girou em torno do Open Social, com apresentações do Manu Rekhi (meu ex-chefe, PM do Orkut), Patrick Chanezon (Open social), o diretor da Mentez (que está promovendo, inclusive, um concurso de aplicativos para Open Social). Fiz uma mini-cobertura do que foi falado no Twitter. Foi bastante interessante ver as idéias que estão por trás e assistir à apresentação do Patrick Chanezon do Google. Compreendi com mais clareza as idéias que estão por trás da proposta e fiquei muito espantada com a quantidade de sites de redes sociais que vão possibilitar a verticalização das aplicações, permitindo que estas rodem em todos os sites, como plataformas de jogos, por exemplo, que funcionarão no hi5, no Orkut, no Bebo e por aí afora. A palestra me convenceu bastante de que essa idéia pode sim ser o próximo passo em desenvolvimento para redes sociais: aplicativos verticais que unam os vários SNSs e que permitam ações entre plataformas diferentes, unindo públicos e espaços sociais.

Com a abertura para o open social e os aplicativos para o Orkut (que deve sair só na próxima ou na outra semana no Brasil) abre-se também um mercado significativo para desenvolvedores em redes sociais. Novas idéias e propostas de elementos que possam ser integrados aos sistemas podem sim render bastante. Quem quiser dar uma olhada nos aplicativos, pode mudar o perfil para a Índia ou a Estônia, onde já há um bom número de aplicativos funcionando (vários são idêntidos aos do Facebook, que por sinal, não vai entrar no grupo do Open Social). Vamos ficar de olho para ver o que vai acontecer. Aliás, no blog do Patrick já é possível ver até indícios das aplicações para o Twitter na onde do Open Social, como a muito legal TweetWheel, que faz um grafo dos seguidores do twitter (2 graus de separação).
Posted by raquel at 12:52 PM | Comments (3)

maio 7, 2008

Workshop sobre Redes Sociais Estou saindo para POA, para assistir este workshop lá na UFRGS:

Redes Sociais: Orkut e OpenSocial


Mentez, Google, Adobe e a comunidade de OpenSocial convidam você a participar deste Workshop Técnico onde se discutirá vários tópicos relacionados à redes sociais desde oportunidades de negócios à plataformas da integração (OpenSocial) e aplicações em Adobe Flash.

Local: UFRGS - Campus do Vale

Endereco: Auditório José Castilho - Instituto de Informática Av. Bento Gonçalves, 9500 Bairro Agronomia, Porto Alegre

Data: 7 de Maio de 2008

Horário: Início às 13:00h

AGENDA

30 min.: Visão Geral do Concurso e Oportunidades para os Desenvolvedores by Mentez

90 min.: OpenSocial: Estandar para Integrar Aplicacoes à Redes Sociais by Google

30 min.: Estatisticas e Oportunidades em Redes Sociais by MySpace, Vostu e Sonico

60 min.: Adobe Technical Training (Aplicacoes em Flash Integradas ao OpenSocial) by Adobe

30 min.: Melhores Praticas para Construir uma Infraestrutura para Suportar Milhoes de Usuarios by Joyent

E de quebra, pretendo ainda encontrar alguns amigos do Google. Se a Internet lá no Vale ajudar, vou fazer uma transmissão comentada via Twitter e depois, comentar mais aqui no blog.
Posted by raquel at 6:11 AM | Comments (0)

maio 2, 2008

Drops de Sexta Durante o feriado li várias coisas bem interessantes para linkar aqui:

# No Smart Mobs, um texto bem interessante sobre a construção do "novo" Yahoo! como um grande site de rede social que concentra todas as ferramentas possíveis.

# Nova edição do JCMC: um artigo sobre o Facebook e as relações interpessoais, um sobre a confiança e sua construção nos ambientes sociais, um sobre uma comunidade de blogs africana e vários sobre jornalismo online. (Via Jornalismo e Comunicação)

# Matéria da Scientific American sobre a Science 2.0 ou a construção da ciência diante das potencialidades da chamada Web 2.0.

# Para quem quer saber mais sobre os métodos da análise de redes sociais (quais são e quais são seus elementos de análise), o livro (totalmente online) do Robert Hanneman and Mark Riddle da Universidade da Califórnia, denominado Introduction to Social Network Methods é bastante elucidativo. O livro foca mais nas chamadas "análises formais" (quantitativas), mas mostra bastante como se faz análise de redes sociais dentro da ARS.
Posted by raquel at 1:13 PM | Comments (0)

maio 1, 2008

Organização e Mídia Social mob3.jpgMatéria muito legal do ReadWriteWeb sobre um estudo que deve sair na New Scientist, dizendo que os sites de redes sociais são mais eficiente para a coordenação de grupos (por exemplo, em situações de emergência ou organização política) do que os meios de comunicação mais "tradicionais". O estudo focou a organização das pessoas via Twitter e Facebook, durante os incêndios massivos da Califórnia no ano passado.

"The mass media were unreliable, the study found, as they struggled to access remote areas from which website users with an internet connection could easily report," writes Andy Bloxham. The mainstream media was seen to be focusing on "sensational" aspects of the fire as well, according to Palen, such as homes of celebrities that were caught by the fire.


A matéria também fala do jornalismo cidadão como uma das vertentes proporcionada por essas ferramentas, que acabam noticiando coisas que os meios tradicionais não noticiam ou vão noticiar bem depois, a partir dessa coordenação. Lendo a matéria, imediatamente me veio à mente a cobertura do terremoto em São Paulo, que eu fiquei sabendo e acompanhei pelo Twitter e pelos usuários que reportavam ali o que estava acontecendo. Outra matéria que li hoje e que vai ao encontro dessas colocações é essa matéria do Washington Times que fala dos estudantes egípcios utilizando o Facebook para organizar ativimos político e escapar da censura das autoridades.
Posted by raquel at 4:08 PM | Comments (2)