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julho 1, 2006

Futebol e Ciência

O post logo após a derrota do Brasil pela França nas quartas-de-finais é coincidência até onde eu sei. Mas pode ser que filosofia exija alguma dose de sobriedade que só a saída de uma Copa do Mundo permite.

Já foi dito que a Copa do Mundo adora odiar tecnologia, exceto nas transmissões das imagens. Mas se em algum nível as narrações e comentários dos principais canais de televisão refletem o pensamento comum dos técnicos das seleções, é possível que o futebol (brasileiro) também adore odiar ciência em geral.

Em uma entrevista coletiva recente, o técnico de Portugal, o brasileiro Luiz "Felipão" Scolari, afirmou ser um técnico da moda antiga. O que me fez perguntar o que é ser um técnico moderno exatamente. A primeira imagem de técnico moderno que me vem a mente é imprecisa: uma foto de Telê Santana como técnico do São Paulo (acho eu, os fãs que me corrijam) e com um notebook na mão durante um treino. Nunca soube o que ele via naquela tela e hoje temo que não fosse mais que um Paint onde ele rabiscava esquemas táticos. Ou um jogo de Paciência.

O economista Brian Arthur, no início da sua carreira, comentou com seu orientador que seu desejo era trazer a Economia (a ciência) para o século XXI. Seu orientador respondeu que, antes disso, a Economia tinha que alcançar o século XVIII. Do futebol tenho essa impressão também - mal podemos falar em um futebol atual se sequer temos um futebol moderno para nos basear.

O que seria um futebol moderno? Eu imagino algo mais próximo do baseball americano. Os jogadores têm estatísticas bem definidas que são acumuladas durante a carreira e são escolhidos e rejeitados com base nessas estatísticas, e não na potencialidade de jogadas milagrosas. O técnico não precisa ficar se justificando, os números falam por si só. Hoje, me parece, isso é feito de forma apenas implícita e de forma imperfeita. Uma análise mais quantitativa das diversas qualidades dos jogadores disponíveis permitiria decisões mais objetivas e eficientes. O futebol moderno também seria estratégico e não apenas tático, usando Teoria dos Jogos para tentar modelar possíveis resultados de diferentes estratégias. Hoje, cada time tenta se adaptar ao jogo do outro mas duvido muito que considerem que cada time está se adaptando um ao outro e que isso pode ser explorado para ou quebrar a expectativa comum ou para, pelo menos, equilibrar o jogo.

E o futebol do futuro? O futebol do futuro deixaria de ver uma partida como um jogo onde dois times parecem jogar sozinhos. Hoje é comum mencionar como um time está ruim em uma partida ou como em outra partida estava melhor, como se o adversário não fizesse a menor diferença para a qualidade do time. Um time só é bom ou ruim em relação a outro. Reconhecer o jogo como um sistema complexo onde a interação entre os times gera nichos e possibilidades de adaptação é um primeiro passo. Um segundo passo é livrar-se de esquemas táticos fixos e treinar o time para se adaptar sozinho ao outro time durante o jogo - aprender a ver possibilidades e falhas e aproveitá-las. Isso é o que ficamos o jogo todo esperando dos "gênios", que fazem isso implicitamente, mas sem conhecimento. Sistematizar esses momentos de genialidade é o passo crucial para um futebol realmente moderno.

Um futebol com essa abordagem passa a ser muito mais tático e assume que jogadores hábeis estão disponíveis e cujas habilidades sejam bem quantificadas. E passa a exigir muito mais cérebro desses jogadores. E dos técnicos. Assim, talvez o futebol se torne um esporte interessante e não apenas emocionante.

15 comentarios

podes começar a treinar o pelotas com um esquema desses heheheh

O futebol tático seria extremamente chato, assim como são baseball e futebol americano, estatísticas em excesso estragariam o jogo. :)

Ainda sobre tua idéia, estatística nenhuma poderia prever, por exemplo, o que o Zidane fez ontem em campo, pelo contrário, o Zidane jogou tão mal durante a temporada na Europa que pelas estatísticas ele provavelmente nem teria sido convocado. E é isso que deixa o jogo emocionante, uma pena que tenha sido um francês a dar show e não um brasileiro. :)

Saiu ontem, se não me engano, no Jornal Nacional, que o goleiro da Alemanha tinha em um papelzinho um levantamento estatístico das cobranças de pênaltis dos jogadores argentinos, e que isso influenciou fortemente no desempenho dele nas defesas.

Papelzinho no bolso???? Era cola!!!! Ahahahaha ganharam da Argentina roubando EEEEEEEEEEEE

No quinto parágrafo tu comenta sobre estatísticas e números. Repara esse textinho publicado na ZH que eu roubei no blog nova corja: "Quando o jogo entre Argentina e Alemanha foi para os pênaltis, o goleiro alemão Jens Lehmann recebeu da comissão técnica um pedaço de papel com os nomes dos batedores argentinos e a direção que cada um faria a cobrança, com base na estatística dos últimos três anos. Entre um pênalti e outro, ele dava uma olhadinha na folha. Defendeu os chutes de Ayala e Cambiasso. Os números foram levantados pelo suíço Urs Siegenthaler, contratado pelo técnico Juergen Klinsmann."


Opa. Aparentemente a Alemanha tem um bom técnico afinal de contas. Vou torcer por ela. Será a vitória da estatística :)

Para chegar na "vitória da estatística" jah basta o fato de que a Alemanha eh a dona da casa. Hehehehehe

E a dona da casa acabou perdendo hoje, tomando dois gols nos minutos finais do segundo tempo da prorrogação (eu acho que nunca tinha escrito "prorrogação, que palavra esquisita!). Acho que levantamento estatístico nenhum poderia prever isso.
Concordo com alguns aspectos do teu texto. Acho que o futebol tem que ser mais tático e menos "milagroso". Uma coisa que me irritava profundamente nos jogos da seleção brasileira era a aparente ausência de esquemas táticos, na minha leiga opinião. Eles eram um punhado de estrelas em campo, mas não jogavam como uma constelação, com ordem. Cada um queria fazer seu papel e conquistar o seu título pessoal (maior artilheiro das copas, maior número de partidas, único jogador a sempre entrar em campo com o pé esquerdo e por aí vai), sem se importar com o resultado do time como um todo. Nos times europeus, é notório o número de jogadas ensaiadas que eles tentam inúmeras vezes, até conseguir um gol. Acho que é por causa dessa adaptabilidade que todos os últimos jogos entre os times europeus têm ido pra prorrogação (terceira vez num dia só!). Mas isso é só minha opinião de espectador esporádico de Copa do Mundo. Os entendidos em futebol que me corrijam.

A idéia é válida, o fato de se aplicar a teoria dos jogos, não quer dizer que não vá existir as surpresas pois futebol é um tipo de jogo de soma zero, parcialmente observável. Somente que os times vão jogar de maneira a conseguir o melhor resultado posivel, olha acho que a Holanda foi o time que mais confundiu os adversários...não foram campeões? mas chegaram perto...e ouvi falar que não eram os melhores jogadores do mundo.

Como jogo de equipe, e, mais, acontecendo num contexto de interação múltipla não só de um time com outro, mas dependendo, muitas vezes crucialmente, do resultado de outros jogos que ocorrem em paralelo, o futebol (como a Economia, aliás), é um processo probabilístico. É claro que é possível melhorar o controle que um time (o treinador, especialmente) pode ter sobre a situação usando alguma ciência, não só teoria dos jogos e estatística comportamental, mas também medicina esportiva, nutrologia, psicologia etc. Bom para um time ou treinador se ele for o único a dispor de tudo isso. Mas, como num processo fractal, se todos os times e treinadores estiverem assim instrumentados, só vai aumentar ainda mais a complexidade do sistema, e vai continuar sendo preciso enfrentar a fatídicaa hora do gol. Ou (como V. diz) não? Vai haver mais ou menos gols? No limite, seria sempre zero a zero? Seria o fim do futebol. O que entraria no lugar? Mortal Kombat de robôs humanóides? Bom, nossa salvação é que uma coisa que não cabe em nenhum modelo é a loucura das pessoas. Nego lhe dá uma na telha e dá um drible que não estava na equação diferencial. E daí? Sds, Celso R.

Cada vez que leio um artigo comentando sobre futebol do futuro, moderno..., mais reforça minha convicção do que penso sobre a prática do futebol. Veja no site www.futebolciencia.com
Cyro.

O grande desafio e fazer com jogadores dentro de campo tenham a capacidade de decidir. A estrategia deve ser mudada pelos proprios atletas que estao vivenciando o jogo na sua plenitude. Atualmente o nivel de alguns jogadores de futebol nao permite isso, por 2 motivos: primeiro porque eles nao sabem decidir e segundo porque os tecnicos nao deixam, acreditam que eles e que sao responsaveis por isso, centralizam tudo, o que torna o jogo uma atividade engessada.

voce tem que ser é matematico ,o futebol é esse esporte tão incrível por que é imprevísivel e fantástico, não é uma prova de algebra

Isso não tem piada

Sobre esta entrada

Esta página contiene una sola entrada realizada por ricardo y publicada el julho 1, 2006 6:30 PM.

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