O jeito impositivo como Slavoj Zizek defende suas idéias nos livros (parece que termina toda frase com "e é óbvio que é assim, seu imbecil") combina com sua apresentação física: um lenhador esloveno gordo e barbudo. Mas ele é um filósofo bacana, porque mesmo sendo um acadêmico sério, lido em tudo que é doutorado por aí, se preocupa em construir uma "carreira pop" e participar de um documentário como Zizek!.
Zizek! é a teoria de Slavoj Zizek sobre o cinema. Apresentada e narrada pelo próprio. Sua hipótese é colocada na primeira cena, em inglês cuspdo: o cinema é uma máquina de desejos. Não nascemos com desejos, e o cinema é uma das ferramentas sociais que nos diz o que querer.
São aquelas interpretações cinematográficas malucas (e divertidíssimas). Os pássaros de Os Pássaros como manifestação da repressão materna contra o casamento do filho; os três irmãos Marx como representação de ego, superego e id; a cena de Kyle MacLachlan no armário, em Veludo Azul, metaforizando a descoberta infantil da sexualidade dos pais. Clube da Luta, Um Corpo Que Cai, Mulholland Drive, O Grande Ditador...
Matrix. Zizek diz que a pílula vermelha (realidade) e a pílula azul (ilusão) não servem para nada. O que é necessário, o que ele quer, é uma terceira pílula - que nos permita viver a realidade percebendo as ilusões que nos cercam.
O divertido é o recurso que a diretora Astra Taylor usa pra não transformar isso numa aula chata: Zizek entra nos filmes. Não interagindo com os personagens nem nenhuma dessas tecnologias batidas. Cenários de filmes como Veludo Azul, Os Pássaros, Psicose e outros são reconstruídos, até com a mesma iluminação, e entre os cortes você tem Zizek, a caráter, expondo sua interpretação da cena. Por isso que ele é um filósofo bacana.
Segundo o IMDB, o DVD tem 70 e tantos minutos. A versão que eu consegui, tirada da TV, tem menos de 50. Seja como for, fiquei com vontade de ver bem mais do que os 20 minutos que faltaram.