Michael Winterbottom. Uin-têr-bó-ton. Diretor bem interessante.
Código 46 é um puta filme. O visual, a narrativa, a edição delicada mas severa, a trilha sonora, as atuações. E os cenários, não dá pra esquecer dos cenários. A história se passa no futuro, mas é o primeiro filme em que você sente aquela frase "... mas um futuro assustadoramente presente". Os avanços tecnológicos parecem coisas que você vai ter ano que vem, as mudanças culturais parecem próximas, o próprio fulcro do filme - um futuro em que genética vira destino, e poucos selecionados podem transitar pelas grandes cidades - parece um pesadelo pronto pra acontecer. Sei que isso tudo é roteiro (do Frank Cottrell Boyce, o mesmo de Millions), mas um roteiro que certamente renderia um filme-porcaria com outro diretor. Assista pra entender.
Já 9 Songs foi muito mais falado - por motivos óbvios. Shows de bandinhas indie + pornografia (ou "rock & roll em dois sentidos") + esse slogan "uma representação sincera do amor" (aliás, se amor tá tão na moda - um filme sobre um "conselheiro amoroso" é o primeiro, e difícil de superar, campeão de bilheteria do ano - por que tão pouca gente assiste Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças e Antes do Pôr-do-Sol?). Mas é só, só falatório. Entra um showzinho de banda cool, passa para uma cena de intimidades explícitas. Entra outro showzinho, mais intimidades e cenas típicas de casal (com uns cortes e fades, aliás, muito estranhos). Outro show e você sabe o resto. As cenas de sexo implícito do Código 46 são mais bonitas que qualquer uma do 9 Songs Os diálogos do filme mal enchem uma página de roteiro. Fora os shows, parece que foi tudo gravado em um dia. E editado por um orangotango lobotomizado.
Por que eu ainda gosto do Winterbottom? 24-Hour Party People. Se uma mesma pessoa pode dirigir 24-Hour Party People e Código 46, pode ser perdoada por 9 Songs.