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Emília

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Oi Emília,

Chegou bem? Espero que esteja gostando. É meio diferente, mas a gente se acostuma.

Precisamos conversar.

Quando eu conheci o Ricardo, ele tinha uma câmera fotográfica digital. Eu nem sabia que existiam câmeras fotográficas digitais, ou nunca tinha visto uma. Acho que cabiam 12 fotos e meia do tamanho de uma unha. Mas, enfim, o Ricardo tinha uma câmera digital. E, se não me engano, um mp3 player que armazenava três músicas.

Quando eu conheci a Raquel, ela usava óculos de nerd. Era mais velha que nós, já fazia faculdade. Duas faculdades, aliás. Ela tinha óculos de nerd, pose curvada de nerd, timidez de nerd e todas as páginas de livros do mundo na cabeça. Se tu mencionava um livro que ela não tinha lido, no dia seguinte ela vinha dizer que leu. E que não gostou.

Não sei se eu estava lá no dia em que eles se viram pela primeira vez, mas estava nos primeiros. E também no dia em que eles resolveram aparecer de mãos dadas, depois de uns meses de enrolação (a culpa foi do Ricardo). Pelas minhas contas, faz 13 anos agora em maio. Nunca mais se soltaram, e nunca mais se soltarão.

Minto. Teve um dia que a Raquel conversou comigo pra dizer que o Ricardo tinha saído da casa dela com muitas dúvidas na cabeça e que ela nunca tinha visto ele assim. Acho que passaram quase 12 horas sem trocar e-mails, SMS, nem chats, nem se ver. Eles estão no Guinness com o recorde de número mínimo de horas de crise conjugal. Se não estão, deviam chamar um auditor.

Outra vez foram os dois que me ligaram juntos para perguntar se eu ia me ajeitar com a Marcela e parar de frescura. Eles precisavam, afinal, de padrinhos confiáveis e duráveis. Prometi que ia me comportar. Dois anos depois, eles também foram nossos padrinhos.

Hoje meus alunos apresentam trabalhos citando a Raquel, sem eu nem ter sugerido o (primeiro) livro dela. Me seguro pra dizer que conheci a Raquel com óculos de nerd (geralmente digo). O Ricardo é o homem que eu mais invejo no mundo: a única preocupação que a vida lhe traz é descobrir o seriado de comédia perfeito. Não vejo ele suar com trabalho, contas, casa, pesquisa, nem mais nada.

E hoje, Emília, tudo isso virou Antes. Tudo isso foi para você, com exatamente trinta anos e um mês a mais que eu, aparecer. Hoje teve novos bombardeios no Afeganistão, a bolsa de Nova York abriu em baixa, estreou filme novo do Scorsese. Eu baixei um episódio do Skins de manhã e continuei a revisar uma tradução. Depois do almoço, fiquei numa coisa chamada Plurk com mais umas 20 pessoas, todas esperando notícias suas. Teu vô (que foi meu professor, aliás – um dia ele me explicou para que serve fotografia e eu nunca mais esqueci) acabou de mandar as fotos. Depois disso, não me concentrei em mais nada.

Esses dias li uma mensagem que um escritor recebeu pelo nascimento do filho. Às vezes acho que entendo, às vezes acho que não. Provavelmente só vou entender quando passar pela mesma coisa. De qualquer forma, é bonita. E simples:

Tudo é possível de novo.

Bem-vinda. Avisa quando tiver e-mail (o teu mesmo, não o que o Ricardo vai inventar) que eu conto mais do Antes.

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