júlí 2009 Archives

Departamento de Aquisições

Coisinhas um pouco mais velhas (completando coleção) e outras bem receentes.

Morrison: "Eu uso tudo"

| 1 Comment
Eu escrevo todo dia, a maior parte do dia, então é tudo questão de transformar em metáfora o que quer que esteja acontecendo na minha vida, no mundo, na minha cabeça. Todo pesadelo, todo momento de dor ou alegria ou fracasso, é um momento que posso converter em grana através das palavras. Eu uso tudo. Transformar a vida em histórias é como faço minha experiência ter sentido. Não interessa se é estranho ou perturbador ou triste para a minha pessoa, tudo acaba indo para as páginas. Já estive perto do colapso nervoso, da exaustão e da crise existencial profunda fazendo essas coisas, e de algum jeito eu sempre me levanto de novo, cheio de novas idéias. "Curve-se, filho", minha mãe dizia quando eu era criança. "Curve-se para não quebrar!" Além disso, tenho um emprego que amo e não tenho problema em aceitar a pressão dos implacáveis prazos ou das expectativas dos leitores. São maus necessários. É provavelmente mais estressante trabalhar numa mina de carvão ou comandar homens em guerra."

Uma das melhores entrevistas do Grant Morrison que já li, onde ele não fala de projetos novos nem do significado de Final Crisis, mas do que significa ser um criativo fazendo histórias de super-heróis aos 50 anos de idade (30 deles no mesmo emprego).

O homem é um gênio.

Umbigo Sem Fundo

| 5 Comments

Minha segunda tradução. Primeira vez que estou vendo a capa.

Em setembro nas livrarias.

É tão pesado (em páginas) quanto o Retalhos. Mas mais pesado (em vanguardismo) que o Retalhos.

umbigo.jpg

Taleb traduzido

| 1 Comment

Ok, o texto que mencionei no post anterior realmente não saiu na edição brasileira do Iludidos pelo Acaso. Por isso, fiz minha própria tradução. Lá vai:

SEGUNDO PENSAMENTO NO CHUVEIRO: ALGUNS BENEFÍCIOS ADICIONAIS DO ACASO

Incerteza e Felicidade


Você já foi jantar em Nova York num dia de semana com um morador do subúrbio? É grande a chance de que a sombra do horário ficará pairando. Ele não para de olhar o relógio e apressa a refeição para não perder o trem das 7:08, porque depois desse não há mais trens expressos e restaria a ele pegar o das 7:42, com escalas, que parece algo extremamente indesejável. Ele vai cortar a conversa aí pelas 6:58, oferecer um rápido aperto de mãos e zarpar do restaurante para pegar seu trem com o máximo de eficiência. A conta fica por sua conta. Como a refeição não está terminada, e a conta ainda não chegou, suas boas maneiras lhe forçarão a dizer que paga tudo. Você também vai terminar a xícara de cappuccino descafeinado sozinho enquanto observa a cadeira vazia e se perguntar por que as pessoas se jogam nessas vidas por escolha.

Agora tire a tabela de horários da cabeça dele – ou randomize o horário de saídas de trem de forma que elas não obedeçam uma agenda fixa e conhecida. Dado que o aleatório e o desconhecido são, na prática, a mesma coisa, você não terá que pedir à Metropolitan Transit Authority de Nova York para randomizar seus trens para seu experimento: apenas finja que ele não sabe os horários de saída. Tudo que ele sabe é que eles operam a cada, digamos, trinta e cinco minutos. O que ele faria nessa situação? Embora você ainda vá pagar pelo jantar, ele deixaria a refeição seguir seu curso natural, e aí caminharia despreocupadamente até a estação mais próxima, onde teria que esperar o próximo trem chegar. A diferença de tempo entre as duas situações seria de pouco mais de um quarto de hora. Outra forma de ver o contraste entre o cronograma conhecido e o desconhecido seria comparar a condição dele a de outro colega que use o metrô para ir para casa, a uma distância equivalente, mas sem um quadro de horários conhecido e fixo. Gente que anda de metrô tem uma agenda mais livre, e não só por causa da maior freqüência de carros. A incerteza protege-os deles mesmos.

O capítulo 10 demonstrou, com o caso do macaco de Buridan, que o acaso nem sempre é mal-vindo. Aqui busco mostrar como certo grau de imprevisibilidade (ou desconhecimento) pode ser benéfico para nossa defeituosa espécie. Uma agenda levemente aleatória nos impede de otimizar e de ser excessivamente eficientes, particularmente para os fins errados. Esse pouquinho de incerteza pode ajudar seu colega a relaxar e esquecer a pressão do horário. Ele seria forçado a agir como um satisfizador ao invés de um maximizador (no Capítulo 11 discutimos a satisfização de Simon como uma mistura de satisfação e maximização) – pesquisas sobre felicidade mostram que aqueles que vivem sob pressão auto-imposta para serem perfeitos no seu aproveitamento das coisas sofrem de uma certa agonia.

A diferença entre satisfizadores e otimizadores levanta algumas questões. Sabemos que pessoas de disposição alegre tendem a ser do tipo satisfizador, com uma idéia marcada do que querem da vida e a capacidade de parar quando atingem a satisfação. Seus objetivos e desejos não andam junto a suas experiências. Eles não constumam sentir os efeitos do processamento interno por constantemente tentar aumentar seu consumo de bens buscando níveis de sofisticação cada vez maiores. Em outras palavras, eles não são nem avarentos nem insaciáveis. Um otimizador, em comparação, é o tipo de pessoa que vai arrancar suas raízes e mudar de residência pare reduzir poucos pontos percentuais nos seus impostos. (Você acha que o sentido de ter uma renda maior é a liberdade para escolher onde morar; na verdade parece que, para essas pessoas, a riqueza os faz aumentar sua dependência!) Ficar rico resulta em ver falhas nos bens e serviços que compra. O café podia ser mais quente. O cozinheiro não merece mais as três estrelas que o guia Michelin lhe deu (ele vai escrever para os editores). A mesa fica muito longe da janela. Pessoas promovidas para cargos importantes geralmente sofrem com agendas apertadas: tudo tem horário determinado. Quando viajam, tudo é “organizado” para fins de otimização, incluindo almoçar às 12:45 com o presidente da empresa (uma mesa não muito distante da janela), correr na esteira às 4:40 e ópera às 8:00.

Causalidade não é uma coisa clara: fica a dúvida se otimizadores são pessoas infelizes porque estão sempre buscando o melhor negócio ou se pessoas infelizes tendem a otimizar porque não têm opção. De qualquer forma, o acaso parece operar como uma cura ou como Novocaína!

Estou convencido de que não somos feitos para agendas certinhas e compartimentadas. Somos feitos para viver como bombeiros, com tempo para a preguiça e a meditação entre os chamados, sob a proteção da incerteza acolhedora. É uma pena que algumas pessoas sejam forçadas a virar otimizadoras, como a criança suburbana que conta os minutos de seu fim de semana entre o karatê, a aula de violão e a escola dominical. Enquanto escrevo estas linhas estou em um trem vagaroso pelos Alpes, confortavelmente distante de viajantes de negócios. As pessoas à minha volta ou são estudantes ou são aposentados, ou aqueles que não têm “compromissos importantes”, portanto sem medo do que os outros chamam de tempo perdido. Para ir de Munique a Milão, peguei o trem que leva sete horas e meia ao invés do avião, o que nenhum empresário que se respeite faria em um dia de semana, e estou aproveitando o ar sem a poluição das pessoas espremidas por seus horários.

Cheguei a essa conclusão quando, há mais ou menos uma década, parei de usar um despertador. Eu ainda acordava no mesmo horário, mas seguia meu relógio interno. Dez minutos de variabilidade na minha agenda fazem grande diferença. É claro que existem atividades que demandam certa dependência no despertador, mas tenho liberdade para escolher uma profissão onde não sou escravo das pressões exteriores. Vivendo assim, pode-se ir para a cama cedo e não otimizar a agenda espremendo cada minuto da noite. No limite, você pode decidir entre ser (relativamente) pobre, mas livre quanto aos seus horários, ou rico mas dependente como um escravo.

Levei um tempo para descobrir que não somos programados para agendas. A descoberta surgiu quando percebi a diferença entre escrever um artigo científico e escrever um livro. Livros são divertidos de escrever, artigos são dolorosos. Tendo a achar a atividade da escrita muito divertida, dado que a faço sem qualquer coação externa. Você escreve e pode parar de fazer, mesmo no meio de uma frase, no momento em que aquilo deixar de ser atraente. Após o sucesso do livro, fui convidado para escrever artigos por editores de uma série de revistas profissionais e acadêmicas. E aí me perguntavam quantas páginas eu precisava. O quê? Quantas páginas? Pela primeira vez na vida, perdi o prazer em escrever! Aí descobri uma regra pessoal: para que escrever seja agradável para mim, a extensão do texto deve ser imprevisível. Se estiver olhando para o final, ou se estiver sujeito à sombra de um esquema, desisto. Repito que nossos ancestrais não estavam sujeitos a esquemas, agendas ou prazos administrativos.

Outra forma de ver o aspecto bestial das agendas e das projeções rígidas é pensar em situações limite. Você gostaria de saber precisamente o dia da sua morte? Você gostaria de saber quem é o assassino antes do filme começar? Aliás, não seria melhor se a duração dos filmes fosse mantida em segredo?

Taleb

| 1 Comment

Entre interrupções gigantes e falta de tempo, acho que passei uns dois meses lendo Fooled by Randomness, do Nassim Nicholas Taleb. Leitura sensacional, não só pelo tema, mas principalmente porque o Taleb escreve brilhantemente.

A versão que eu li, que é a da capa abaixo, é um pocket de 2007 da Penguin (muito barato na Cultura). No final do livro, tem três textinhos que ele chama de Afterthoughts in the Shower. O segundo, principalmente, é uma descrição perfeita (para não dizer utópica) do que eu quero do meu futuro.


Queria saber se esses textos saíram na versão em português, publicada em 2003. É com essa capa:

Se não tiver, vou ter que traduzir. Vai explicar muita coisa do que eu penso para muita gente.

Categories

Monthly Archives

Tradutor

Powered by Movable Type 5.13-en

Tradutor

About this Archive

This page is an archive of entries from júlí 2009 listed from newest to oldest.

júní 2009 is the previous archive.

ágúst 2009 is the next archive.

Find recent content on the main index or look in the archives to find all content.