janúar 2004 Archives

| 5 Comments

The minute she was gone, Yossarian tore the slip of paper up and walked away in the other direction, feeling very much like a big shot because a beautiful young girl like Luciana had slept with him and did not ask for money. He was pretty pleased with himself until he looked up in the dining room of the Red Cross building and found himself eating breakfast with dozens and dozens of other servicemen in all kinds of fantastic uniforms, and then all at once he was surrounded by images of Luciana getting out of her clothes and into her clothes and caressing and haranguing him tempestuously in the pink rayon chemise she wore in bed with him and would not take off. Yossarian choked on his toast and eggs at the enormity of his error in tearing her long, lithe, nude, young vibrant limbs into tiny pieces of paper so imprudently and dumping her down so smugly into the gutter from the curb. He missed her terribly already. There were so many strident faceless people in uniform in the dining room with him. He felt an urgent desire to be alone with her again soon and sprang up impetuously from his table and went running outside and back down the street toward the apartment in search of the tiny bits of paper in the gutter, but they had all been flushed away by a street cleaner's hose.

É nesses momentos que a literatura se parece com aquela comida ao mesmo tempo macia e crocante, que você mastiga e mastiga e ela continua sempre gostosa, como um gosto que nunca termina. Ou como sua música da semana, da qual você acredita que nunca vai enjoar.

O trecho é de Catch 22, que estou lendo no original por recomendação do meu professor de inglês. É um dos melhores livros que vou ler na vida. Tem trechos, como esse aí de cima, que você sente vontade de reler e reler e reler. É livro que você lê rápido porque quer mais, e lê devagar porque sabe que ele vai acabar. E que fala de toda a sua vida.

Melhor recomendação de leitura que já recebi.

| 5 Comments

The minute she was gone, Yossarian tore the slip of paper up and walked away in the other direction, feeling very much like a big shot because a beautiful young girl like Luciana had slept with him and did not ask for money. He was pretty pleased with himself until he looked up in the dining room of the Red Cross building and found himself eating breakfast with dozens and dozens of other servicemen in all kinds of fantastic uniforms, and then all at once he was surrounded by images of Luciana getting out of her clothes and into her clothes and caressing and haranguing him tempestuously in the pink rayon chemise she wore in bed with him and would not take off. Yossarian choked on his toast and eggs at the enormity of his error in tearing her long, lithe, nude, young vibrant limbs into tiny pieces of paper so imprudently and dumping her down so smugly into the gutter from the curb. He missed her terribly already. There were so many strident faceless people in uniform in the dining room with him. He felt an urgent desire to be alone with her again soon and sprang up impetuously from his table and went running outside and back down the street toward the apartment in search of the tiny bits of paper in the gutter, but they had all been flushed away by a street cleaner's hose.

É nesses momentos que a literatura se parece com aquela comida ao mesmo tempo macia e crocante, que você mastiga e mastiga e ela continua sempre gostosa, como um gosto que nunca termina. Ou como sua música da semana, da qual você acredita que nunca vai enjoar.

O trecho é de Catch 22, que estou lendo no original por recomendação do meu professor de inglês. É um dos melhores livros que vou ler na vida. Tem trechos, como esse aí de cima, que você sente vontade de reler e reler e reler. É livro que você lê rápido porque quer mais, e lê devagar porque sabe que ele vai acabar. E que fala de toda a sua vida.

Melhor recomendação de leitura que já recebi.

| 10 Comments

Slavoj Zizek é o Joselito dos filósofos.

Ou melhor, ele meio que justifica o Joselito. Estou lendo Bem-Vindo ao Deserto do Real!, uma coletânea de ensaios onde Zizek defende que tolerância intercultural, tolerância religiosa, ser politicamente correto e outras posições "neutras" são, bem, ficar em cima do muro demais.

Zizek fala da tolerância ao islamismo, por exemplo. Vamos reconhecer que é uma crença religiosa legítima, milenar, respeitável, tão importante quanto a nossa, ok? E também tolerar sua aversão às transformações modernas, o tratamento injusto de mulheres e crianças e um sistema de valores que vai contra qualquer definição de humano?

Veja bem, não é uma justificativa para guerras, agressões ou violência (aliás, é outra mentalidade desnecessária pensar que você deve responder a tudo com violência). A tolerância é que deve ser vista como posição confortável, como falta de ação, quando nossa oposição, com bom senso, deveria ser sentida.

Lembro de uma entrevista com Zizek (um doce para quem achar o link) onde ele colocava que o ponto excelente a que pode chegar um relacionamento (amoroso ou de amizade) é aquele em que você tem liberdade para destratar o outro. Como encontrar um amigo e dizer "e aí, seu filho da puta!" ou ter uma discussão racional com a esposa. É o mesmo ponto que ele faz no livro: podemos e devemos ter posições, e não viver num mundinho de faz-de-conta onde o que vale é uma "estabilidade de diferenças" que, além de não ser real, não chega a ser possibilidade.

No fundo, Zizek está se opondo ao sistema onde alguns privilegiados, e mesmo muitos desprivilegiados, vivem na ilusão de um mundo dócil, plástico, simulado. É o tema do primeiro ensaio, a "paixão pelo real" - ou seja, a recusa a aceitar nosso sistema irreal, manifestado em masoquismos, paranóias e outros fenômenos psíquicos. Discípulo de Lacan, toda sua fundamentação tem bases psiquiátricas.

Na sua forma Joselito de ser, o filósofo esloveno ataca dez autores diferentes por página, e manifesta-se com um ódio apaixonado contra nosso mundo ilusório (não é à toa que ele adora citar e comentar Matrix). E acaba meio que justificando o Joselito: manter suas posições, manter sua cultura, manter sua crença, é o que nos prende à realidade.

| 10 Comments

Slavoj Zizek é o Joselito dos filósofos.

Ou melhor, ele meio que justifica o Joselito. Estou lendo Bem-Vindo ao Deserto do Real!, uma coletânea de ensaios onde Zizek defende que tolerância intercultural, tolerância religiosa, ser politicamente correto e outras posições "neutras" são, bem, ficar em cima do muro demais.

Zizek fala da tolerância ao islamismo, por exemplo. Vamos reconhecer que é uma crença religiosa legítima, milenar, respeitável, tão importante quanto a nossa, ok? E também tolerar sua aversão às transformações modernas, o tratamento injusto de mulheres e crianças e um sistema de valores que vai contra qualquer definição de humano?

Veja bem, não é uma justificativa para guerras, agressões ou violência (aliás, é outra mentalidade desnecessária pensar que você deve responder a tudo com violência). A tolerância é que deve ser vista como posição confortável, como falta de ação, quando nossa oposição, com bom senso, deveria ser sentida.

Lembro de uma entrevista com Zizek (um doce para quem achar o link) onde ele colocava que o ponto excelente a que pode chegar um relacionamento (amoroso ou de amizade) é aquele em que você tem liberdade para destratar o outro. Como encontrar um amigo e dizer "e aí, seu filho da puta!" ou ter uma discussão racional com a esposa. É o mesmo ponto que ele faz no livro: podemos e devemos ter posições, e não viver num mundinho de faz-de-conta onde o que vale é uma "estabilidade de diferenças" que, além de não ser real, não chega a ser possibilidade.

No fundo, Zizek está se opondo ao sistema onde alguns privilegiados, e mesmo muitos desprivilegiados, vivem na ilusão de um mundo dócil, plástico, simulado. É o tema do primeiro ensaio, a "paixão pelo real" - ou seja, a recusa a aceitar nosso sistema irreal, manifestado em masoquismos, paranóias e outros fenômenos psíquicos. Discípulo de Lacan, toda sua fundamentação tem bases psiquiátricas.

Na sua forma Joselito de ser, o filósofo esloveno ataca dez autores diferentes por página, e manifesta-se com um ódio apaixonado contra nosso mundo ilusório (não é à toa que ele adora citar e comentar Matrix). E acaba meio que justificando o Joselito: manter suas posições, manter sua cultura, manter sua crença, é o que nos prende à realidade.

| 3 Comments

Em desespero: por acaso você aí está com meus livros Palestina: Uma Nação Ocupada e Gestalt do Objeto?

| 3 Comments

Em desespero: por acaso você aí está com meus livros Palestina: Uma Nação Ocupada e Gestalt do Objeto?

| 1 Comment

Assisti os dois primeiros melhores filmes de 2004 (é, esse ano foi rápido): 21 Gramas e Encontros e Desencontros (o site do último vale muito a pena).

21 Gramas é o novo de Alejandro Gonzalez Iñarritu, de Amores Brutos. Novamente ele conta várias histórias entrelaçadas, mas dessa vez sem separação e bagunçando a cronologia - e isso é feito perfeitamente bem, no limite certo entre a confusão e sua organização mental dos acontecimentos. O destaque é esta capacidade técnica e estética de Iñarritu - cada cena (e é um filme extremamente recortado) liga-se a outra por algum detalhe como palavras, água correndo ou fumaça, o enquadramento e o timing são poéticos, a música é ótima e os atores são fantásticos. Mas parece faltar uma história melhor. Amores Brutos tinha um sentido - fazer uma metáfora sobre México atual. 21 Gramas - apesar da intenção de ser um filme sobre esperança - não tem muita direção.

Acontece algo parecido com Encontros e Desencontros, que é o primeiro trabalho da Sofia Coppola depois de Virgens Suicidas. Não é tão bom quanto o trabalho anterior, mas ainda é um baita filme. Não é sobre criar atmosferas, como o primeiro, mas sobre relacionamentos. No caso, ela constrói a relação entre os dois personagens - o ator Bob e a filósofa Charlotte - lentamente, calculadamente, passo a passo, e no final do filme você sente que aquilo vai, de alguma forma, explodir. É sincero, é adulto, e não cai em clichês fáceis. Como 21 Gramas, é poético - e talvez tenha algo mais.

(Só pra anotar: também assisti Spun, uma incrível porcaria que me fez pensar que filmes proibidos - não foi liberados para os cinemas - são proibidos para nossa proteção.)

| 1 Comment

Assisti os dois primeiros melhores filmes de 2004 (é, esse ano foi rápido): 21 Gramas e Encontros e Desencontros (o site do último vale muito a pena).

21 Gramas é o novo de Alejandro Gonzalez Iñarritu, de Amores Brutos. Novamente ele conta várias histórias entrelaçadas, mas dessa vez sem separação e bagunçando a cronologia - e isso é feito perfeitamente bem, no limite certo entre a confusão e sua organização mental dos acontecimentos. O destaque é esta capacidade técnica e estética de Iñarritu - cada cena (e é um filme extremamente recortado) liga-se a outra por algum detalhe como palavras, água correndo ou fumaça, o enquadramento e o timing são poéticos, a música é ótima e os atores são fantásticos. Mas parece faltar uma história melhor. Amores Brutos tinha um sentido - fazer uma metáfora sobre México atual. 21 Gramas - apesar da intenção de ser um filme sobre esperança - não tem muita direção.

Acontece algo parecido com Encontros e Desencontros, que é o primeiro trabalho da Sofia Coppola depois de Virgens Suicidas. Não é tão bom quanto o trabalho anterior, mas ainda é um baita filme. Não é sobre criar atmosferas, como o primeiro, mas sobre relacionamentos. No caso, ela constrói a relação entre os dois personagens - o ator Bob e a filósofa Charlotte - lentamente, calculadamente, passo a passo, e no final do filme você sente que aquilo vai, de alguma forma, explodir. É sincero, é adulto, e não cai em clichês fáceis. Como 21 Gramas, é poético - e talvez tenha algo mais.

(Só pra anotar: também assisti Spun, uma incrível porcaria que me fez pensar que filmes proibidos - não foi liberados para os cinemas - são proibidos para nossa proteção.)

Categories

Monthly Archives

Tradutor

Powered by Movable Type 5.13-en

Tradutor

About this Archive

This page is an archive of entries from janúar 2004 listed from newest to oldest.

desember 2003 is the previous archive.

febrúar 2004 is the next archive.

Find recent content on the main index or look in the archives to find all content.