Sendak

Eu fiz alguns livros muito bons, e no geral esse é um jeito isolacionista de se viver - produzir livros, criar imagens. E essa é a única felicidade genuína que eu tive em toda, toda a minha vida. Entrar no meu escritório e criar desenhos é algo sublime. É um momento mágico em que todas suas fraquezas de caráter, todos os defeitos de personalidade e tudo mais que lhe atormenta simplesmente some, perde a importância.

Você começa a fazer aquilo que quer e faz direito, pois sabe que está fazendo direito, e isso lhe deixa feliz. A única promessa é cumprir o serviço, sentar na prancheta, ligar o rádio. E eu penso: "que vida transcendente: eu faço o que quero."

É nestes momentos que me sinto um homem de sorte. Estou fazendo de tudo para me concentrar no que está aqui, no que vejo, no que cheiro, no que sinto - tento tornar isto o mais importante na minha vida. Só de olhar pela janela, as cores que eu vejo, passar uma hora lendo Charles Dickens à noite, meus pequenos rituais ouvindo Mozart. No que eu tenho trabalhado? Estou aprendendo a não me levar tão a sério. No que eu gostaria de trabalhar? Nada que vá abalar o mundo. Não tenho essa importância toda.

O que quero dizer com isto? Estou apenas preparando o terreno para uma morte tranquila. Quando você encerrou seu trabalho, encerrou a vida. Sua vida é seu trabalho.

Acho que as coisas que eu publiquei foram diferentes. Não por eu desenhar melhor que alguém, ou escrever melhor que alguém, mas porque fui mais sincero que os outros. E ao discutir as crianças, e as vidas das crianças, e as fantasias das crianças e a linguagem das crianças, eu disse tudo que queria, pois não acredito em crianças. Não acredito em infância. Não acredito que exista demarcação "para eles você não pode contar isso, para eles você não pode contar aquilo." Você conta o que quiser. Mas só conte a verdade. Se for verdade, pode contar.

Na minha mente, tenho pensamentos e experiências de um adulto, mas nunca vou falar delas. Nunca vou escrever sobre isto. Por que me agarrei à infância? Não sei. Não sei. Deve ser onde meu coração está.

Maurice Sendak (1928-2012). Original aqui.

Mas vou lembrar dele para sempre na entrevista ao Colbert:

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This page contains a single entry by Érico Assis published on maí 8, 2012 2:29 EH.

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