Assisti o documentário sobre o Chris Ware produzido por uma TV francesa. Foram até a casa do Garoto Mais Esperto do Mundo, gravaram imagens dele desenhando e tentaram conversar. Ware tem um queixo de Capitão América, largo, que mal se mexe para soltar as palavras.
Ware é uma figura reclusa, tímida e triste como o Jimmy Corrigan. Avesso a muitas coisas do mundo moderno, ele tem até uma vitrola para ouvir bolachões de ragtime (das primeiras décadas do século XX). A cena em que ele coloca um dos discos, todo riscado, e ensaia uma dancinha, é deprimente. O diretor do documentário deve ter ficado comovido.
Tava pensando esses dias sobre como ler quadrinhos é um hábito solitário. Você assiste TV com a família, você vai ao cinema com os amigos, você tem com quem comentar as músicas que ouviu ou os livros que leu (mesmo que a outra pessoa não tenha ouvido ou lido as mesmas coisas). Comentar informalmente, com uma pessoa qualquer, que a última edição do Batman é muito interessante (só um exemplo, só um exemplo) vai deixar você com fama de piadista ou louco.
Desenhar quadrinhos deve ser, então, o cúmulo da solidão. Aquelas páginas hiper detalhadas, onde um tracinho fora do lugar ou 5% a mais de determinada cor mudam toda a expressividade - no documentário, Ware diz que produz apenas duas por semana -, demandam horas de olho colado na prancheta. Ouvindo seus disquinhos riscados e pensando na depressão do mundo. A tristeza que você sente ao ler Jimmy Corrigan só pode vir daí.
essa hq é sensacional. não consegui parar de ler qdo comecei. nunca achei nada desse cara pra vender...
Hein? Há 10 anos ouço você comentar do último Batman e não acho você piadista ou louco.
erm. Não muito pelo menos. :P