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West Wing é um seriado sobre a referida ala oeste da Casa Branca, onde ficam a Sala Oval e os assessores diretos do presidente dos EUA. O foco é na equipe de comunicação, que escreve os discursos e fala com a imprensa. O ritmo é genial, os diálogos deixam você sem vontade de escrever (sentimento de inferioridade insuperável), os atores são excelentes e o tema - "eu sou o presidente da maior potência do mundo", nos lembra sempre o Bartlett, com um mischievous smile - é tratado com inteligência.

Já fui informado que, numas temporadas para a frente, a trupe da ala oeste resolve os conflitos da Faixa de Gaza. Puf, a guerra acabou. O idealismo de West Wing sempre escorre pela tela. Pessoas comprometidas, pessoas sonhadoras e inteligentes, que sabem que estão na posição mais alta da política mundial e que têm que usar essa posição, e rápido, para mudar o mundo.

Já sei, já sei. Propaganda ideológica, manipulação imperialista, um seriado para convencer o mundo de que os EUA podem fazer o bem. Por favor, não venha com essa. Ainda tenho neurônios e sei separar fatos de ficção. Se dá para dier que West Wing tem alguma base histórica, é nos ideais que fundaram os Estados Unidos, não no que se vê hoje do país.

Queria dizer que West Wing já passou de seriado predilto a inspiração, mas é mais uma introdução para outra coisa. "O Brasil" está passando por uma crise política devastadora, que vai acabar com um lendário "partido de oposição" e relembrar que políticos são políticos. E as pessoas falam que não acreditam mais no seu partido, que a política é inerentemente corrupta, que o Brasil não vai para a frente e que não acreditam no Brasil. Peraí.

Da mesma forma que West Wing não existe, não existe um Brasil. Não existe PT. Não existe crise nacional. Países, partidos e crises são ficções, narrativas, coisas que a gente constrói mentalmente sobre o mundo pra resumí-lo. O que existe são pessoas, terra e sonhos. Tem uma linha, que ninguém viu, que separa um território do resto do planeta, e carteirinhas que dizem que você está associado a outras pessoas - que só funcionam se você acreditar nelas, se entrar na ficção. Tomar elas por realidade é algo que você não devia fazer.

Meu Brasil é minha casa, as ruas da cidade, passear na praça de noite e sair de carro pela estrada. Mais importante: são meus amigos, meu amor, meu idealismo, meu sonho de mudar a vida dos outros e a minha, as pessoas que me alegram, que eu encontro, que eu quero perto. É minha família, a atual e a futura.

É também um bando de pessoas que "administram o país" lá em Brasília? É. Mas a importância deles para o meu Brasil é ridícula. Meu país é feito de coisas, não de uma crença em poderes distantes que vão definir minha vida. Eu acredito no que tenho ao meu redor, no meu chão. Você, lendo, provavelmente faz parte desse chão. É isso que cria minha vida.

Esse é o meu Brasil. Impossível não acreditar nele. Como alguém pode insistir em não acreditar?

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Belo texto, caro.

Também acredito um pouco nisso, mas os caras distantes lá em Brasilia insistem em baixar medidas que influenciam diretamente no que faço. Cortam bolsas, aumentam impostos, reduzem financiamentos. A ficção coletiva sempre dá um jeito de se esgueirar na realidade individual.

Mas como diz o Verissimo, há um modo de mudar isso. É um processo lento, mas que garante resultados. Chama-se emigração. :)

:)
Realmente, a nossa realização depende mais de nós do que dos caras lá em Brasília. Depositar muita esperança em medidas dos governantes faz mal à saúde.
Estou encantada com o texto, realmente lindo :)

Mas, sendo bem simplista, consideremos o caso dos assaltos, que são resultado da falta de oportunidades e dos problemas econômicos: se as medidas corretas fossem tomadas, seria um problema com o qual nós, a classe média, não teríamos que nos preocupar. Isso quer dizer que as medidas dos governantes podem, sim, nos influenciar, mesmo que indiretamente. :)

Ok, o texto é mais utópico do que calcado na realidade. O que eu acho é que as pessoas depositam muita confiança no (e têm medo do) governo. Acho mais plausível agir socialmente com tudo que tu pode, ao invés de esperar que as transformações venham de cima para baixo.

Mas o que interessa mesmo é que, pra mim, o governo brasileiro é 0,0000000000000000000000001% do que a gente chama de Brasil. Gostaria que mais gente visse as coisas assim.

Tô com duas caixas de West Wing na minha estante esperando para assistir. Eu ouvi falarem muito bem dessa série durante anos e também ouvi dizerem que o programa agora está morto-vivo...

Outro dia, escrevi um troço que tem um pouco a ver. Vamos lá.
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Tá certo que a gente precisa de grana para sobreviver. Tá certo que a gente quer sempre mais, mesmo que já tenha o suficiente (isso é normal no ser humano). Tá certo que dinheiro nunca parece ser suficiente e, pra muita gente neste País, não é mesmo. Mas me diga uma coisa: por que preferimos fazer aquilo que não cobramos? Ou seja, por que temos mais prazer em fazer coisas para os amigos, mesmo que seja dentro da nossa área de atuação? Pelo menos, eu sou assim. Talvez seja pelo fato de que se alguém te pede um favor, acaba te dando mais liberdade e te exigindo menos. Afinal, cavalo dado não se olha os dentes. Assim, a gente pode fazer aquilo da forma que faríamos para nós mesmo; da forma em que acreditamos totalmente, sem interferências de quem não entende do assunto. É uma hipótese. Outra, é que, quando é remunerado com dinheiro, o trabalho não tem valor algum. Isso pode parecer uma contradição, mas valor não deve ser medido só financeiramente. Quando se paga com gratidão, é muito mais prazeroso; tem muito mais valor. Isto está parecendo papo hippie e eu estou longe de me considerar um. Deve ser porque eu virei pai de família e estou pensando diferente. Quem sabe? Mas é a pura verdade.

- ?Ei, cara, quanto sai pra vocês me fazerem uma logomarca??
- ?Ah, deixa pra lá. Só me dá um abraço.?

Seria bom viver só de abraços.

:~~~~(
snif


um pais eh cultura e pessoas. concordo mil por cento contigo. sniiiif

que romantico

Parabéns, Érico. Este é um dos melhores posts que já li em toda a minha vida.

quando se arranja um foco para atribuir culpa, soluciona-se o problema, não é? ;)

entra aí uma inércia no que tange a busca por mudança e soluções pois, pilaticamente de mãos lavadas, é mais fácil dizer que "aculpaédogovernoyadayadayada".

mas sempre tem as exceções que salvam dias. :)


muuuito lindo o texto

Vim parar nesse blog procurando uma outra coisa, mas acabei me deparando com esse texto sobre uma série que eu adoro.
Acho que a série, apesar de mostrar uma visão idealizada das lideranças, também mostra governantes e assessores reais, que só se interessam por mais poder. Só que eles são mostrados como os vilões. No caso brasileiro, percebemos que todos nossos políticos são assim. Não há Bartlet na política nacional.

zarih25

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This page contains a single entry by Érico Assis published on ágúst 16, 2005 11:15 FH.

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