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O Mundo é Plano é o típico livro para leitores da Veja. Como a revista, noticia tudo que você já sabe sobre tendências contemporâneas como se fosse um furo de reportagem.

Mas é bem melhor escrito do que qualquer artigo da Veja, felizmente. O autor, Thomas Friedman, fala de como as grandes empresas aproveitaram os últimos avanços tecnológicos para fazer offshoring/tercerização de serviços impensáveis. Você, por exemplo, liga nos EUA para o atendimento-ao-cliente da American Airlines e quem lhe atende é um indiano em Bangalore (que fala inglês perfeitamente treinado). Você tem uma intranet na sua empresa que torna irrelevante trabalhar em Pelotas ou Vladivostok, pois o acesso a sua plataforma é on-line. Precisa de alguém para fazer seu imposto de renda? Nos EUA, o escritório de contabilidade da esquina passa o trabalho pesado para (novamente) indianos. Graças ao fuso horário, o contador americano acorda e tem seu trabalho pronto, feito e enviado pelo indiano. Sem falar na vantagem dos salários mais baixos.

Com esses e outros exemplos, Friedman conclui que o mundo está se achatando, que a economia torna virtualmente colados os principais centros de negócios do planeta. A Internet corta custos, beneficia países em desenvolvimento, está criando ciclos virtuosos e vamos todos ser ricos e felizes. Aham.

Soltei O Mundo é Plano por um tempo para pegar O Afeganistão, de Mohsen Makhmalbaf. ANTES da guerra de 2002, o autor descreve um país que mal saiu da idade da pedra, governado pelos fundamentalistas religiosos que todo mundo conhece, onde a Internet só deve chegar depois que houver coisas mais banais, tipo saneamento básico, saúde pública, empresas e perspectivas de sobrevivência.

Quando eu estava bem armado para reclamar da cegueira do Thomas Friedman, ele enfim reconhece, quase no final do livro, que existe um "mundo não-plano" BEM maior que o plano. Ok, finalmente o subtítulo Uma breve história do século XXI começa a valer. Ele chega até a fazer comentários sobre ativistas anti-globalização, que vou falar no Rodapé, e entra no tema da geopolítica. Mas empaca em uma hipótese que eu não sei dizer se é cruelmente real ou excessivamente Pollyanna: de que dois países com fortes laços de negócios e aproveitamento mútuo de oportunidades empresariais não entrarão em guerra, e só têm a crescer em conjunto. De novo, vamos todos ser ricos e felizes - SE fizermos negócios com os EUA.

Pode ser difícil concordar com todo esse deslumbre do Friedman, mas pegar essas 450 páginas nas minhas férias valeu a pena. O melhor do livro é que, para um cara próximo do desemprego, é um baú cheio de idéias (se bem que até a mancha da parede tem me dado idéias sobre emprego nesses últimos dias). Boa leitura.

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Esse Friedman tava na Oprah ontem falando sobre terrorismo. :O

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This page contains a single entry by Érico Assis published on febrúar 22, 2006 9:47 FH.

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