Zeitgeist

Depois de muita insistência de um aluno, ontem assisti Zeitgeist. Dei uma pesquisada antes, e descobri que o filme foi meio que um fenômeno internético a partir do meio do ano passado. Ganhou legendas em português (dos próprios produtores) acho que recentemente, e começa a ser comentado no Brasil.

É um documentário de duas horas que aborda três assuntos: como Jesus Cristo é uma criação plagiada de todos os deuses da Antigüidade, como o 11 de setembro não tem nada a ver com terrorismo internacional (foi armado pelo governo dos EUA e grandes corporações) e, por fim, o plano de "grandes banqueiros internacionais" para criar um governo único no planeta.

A documentação que eles apresentam é do tipo que te deixa sem chão. As provas de vigas estruturais cortadas e explosivos no World Trade Center são a parte mais chocante.

Já a parte da conspiração dos banqueiros internacionais é uma discussão que dá um vôo alto, meio maluco, na parte final. Não vou contar aqui porque prefiro que você assista.

Desde que resolvi pesquisar mais sobre aquele terrível filmezinho Quem Somos Nós e descobri que ele é propaganda de uma seita, tenho um interesse Dana Scully-ístico de descobrir quem paga por estes documentários e com que propósito. "Follow the money trail", versão investigação jornalgooglelística.

Zeitgeist, afinal, está disponível de graça na Internet, foi legendado pelos próprios produtores em nove idiomas, disseminando-se através de fóruns, assinaturas no MSN, blogs e exibições públicas. A única fonte de renda parece ser as vendas do DVD.

Fui no BoingBoing, onde descobri que há uma discussão quanto à autoria do documentário. O filme em si não é assinado por ninguém, e começou a ser disseminado por um tal de "Peter J.", depois chamado de "Peter Joseph" no site oficial. Não há registro de outros produtores, editores, locutores, animadores... nem no IMDB.

Na verdade, é até possível fazer um filme desses sozinho. São quase somente imagens e áudios de arquivo, com algumas poucas animações inseridas no meio. No mais, há algumas entrevistas e filmagens de palestras, sem crédito ou data.

Acabei chegando em zeitgeistmovieisfake.com, um site que denuncia o filme como um embuste deste Peter Joseph - que na verdade seria pseudônimo de um tal de James Coyman - que manipula a audiência com mentiras para ganhar dinheiro (com os DVDs, diz o site).

Enfim, não dá para saber em quem acreditar. Mas vou continuar pesquisando.

A teoria maluca que me surgiu algumas horas depois de assistir é que ele seria um viral publicitário "de grande porte", quem sabe para um outro filme. Ou para alguma marca metida a besta - estou lembrando do que o ARG da Antarctica acabou provocando esses dias. Zeitgeist não é uma produção cara, e dissemina-se de um jeito muito parecido com o das campanhas virais de filmes. Dentro dessa lógica, até o zeitgeistmovieisfake.com seria um parte da campanha (vale notar como o site é mal-feito, com vários links quebrados... intencionalmente?).

Tirando essas dúvidas de lado, até que o filme é bem interessante. Já vi a tese dos "banqueiros internacionais" trabalhada em outros lugares, de forma um pouco mais plausível: é a "doutrina do choque" da Naomi Klein (aliás, o livro está para sair em versão nacional e é maravilhoso) e a tese principal de outro documentário que comentei aqui esses tempos, The Power of Nightmares and the Rise of he Politics of Fear. A mensagem final, sobre abrir os olhos para a cultura de entretenimento e mentiras que não nos deixa ver os poderosos tomando decisões sobre nosso mundo sempre foi e sempre será válida.

O paradoxo é que a mensagem serve para a gente duvidar do próprio Zeitgeist.

(Aliás, você também não sabe se eu faço parte da campanha e se estou sendo pago para escrever sobre o filme. Mas a hipótese mais plausível é que faço parte da campanha sem saber.)