Novedades en la categoría Divagações

fevereiro 1, 2007

Por que dormimos?

Interessante artigo sobre o porquê de dormirmos. Mas o mais interessante é um comentário em uma seção wiki de Grandes Perguntas da Wired - talvez a pergunta seja "por que acordamos". Dormir é um estado de baixa utilização de energia e talvez seja o estado padrão de todas coisas vivas. E responder esta última pergunta é mais fácil: acordamos por que temos que fazer coisas como comer e reproduzir.

É um insight interessante e nunca tinha pensado dessa forma. Faz sentido. A parte de reprodução pode ser problemática, no entanto, já que é compreensível que tenhamos que buscar energias e, portanto, temos que acordar, mas antes disso teríamos que já ter desenvolvido uma maneira de reproduzir sem precisar acordar, como as plantas fazem (do contrário, sem reprodução, não existiríamos de maneira alguma). Mas mesmo isso poderia ser explicado em simples termos evolutivos - readaptamos a reprodução para aproveitar os momentos em que estamos buscando comida. É uma clara vantagem evolutiva, já que permite a escolha de parceiros.

É curioso que artigos científicos (como o citado no primeiro link) não tenham abordado o problema dessa forma. Resolve muitos problemas. Por exemplo, sabe-se que tempo de sono é inversamente proporcional ao tamanho do animal. Elefantes dormem apenas 3 a 4 horas diárias. Oras, isto é simplesmente devido ao fato de que quanto maior a criatura, mais comida ela necessita e, portanto, mais tempo acordada ela precisa ficar. A natureza parece tentar reduzir ao máximo o tempo em que um animal fica acordado. O que leva a questão de por que, afinal, animais tão grandes existem (ou pior, por que dinossauros sobreviveram por tanto tempo). A resposta provavelmente é que animais grandes conseguem comida mais facilmente, ainda que precisem mais dela.

No fim, plantas é que parecem ser os seres mais evoluídos. Conseguem energia e se reproduzem sem nunca precisar acordar.

novembro 19, 2006

Tráfego sem sinalização

Interessante matéria na Spiegel sobre experimentos em cidades européias onde estão tentando desregulamentar o tráfego urbano. As cidades modelo não possuem qualquer tipo de sinalização ou sequer calçadas. Semáforos deram lugar a rótulas e apenas duas regras são válidas: "a direita tem preferencial" e "atrapalhe alguém e será guinchado".

A idéia por trás dos experimentos é a de que regulamentação isenta responsabilidade. Quanto mais sinalizações e obrigações o motorista enfrenta, menos ele se sente responsável por suas ações e a liberdade tolhida é convertida em ressentimento - se ele tem que parar nas placas de Pare, então não vai sequer considerar tomar cuidado nos sinais verdes (ou amarelos).

Algumas cidades já apontam com uma queda drástica no número de acidentes utilizando essa estratégia. Mas ainda é cedo para tirar conclusões. Em primeiro lugar, reduzir o número de acidentes não é a única coisa que desejamos com o tráfego. Se realmente quisermos reduzir acidentes, basta todos andarmos a pé. Também desejamos chegar rápido a lugares distantes. Não está claro se a velocidade do tráfego não é drasticamente reduzida também.

Ainda há o problema de adaptação. O sistema sem sinalização é recente, a redução de acidentes pode ser fruto da cautela dos motoristas antes acostumados com regras. A medida que os motoristas adaptam-se uns aos outros, normas informais vão certamente surgir e depois de certo tempo vão ser tão ou mais fortes quanto quaisquer regras formais. Isso poderá trazer de volta os problemas das regras anteriormente existentes. Ou não, já que as normas serão "bottom-up" e não impostas de cima para baixo.

Seja como for, é interessante ver que cidades estão tentando estratégias radicalmente diferentes das atuais para resolver o problema do tráfego urbano, que é um dos problemas mais graves (depois da violência) do crescimento de qualquer cidade.

setembro 5, 2006

Anúncios e Linguagem

Uma coisa é certa, ninguém que não fale "axim" aguenta quem fala. O tal "internetês" é uma moda antiga, pré-internet, com origens na tentativa de se digitar mais rápido. Hoje, é uma moda sem função (qual moda tem função?) - o internetês atual leva tanto tempo para ser digitado quanto a escrita "correta".

A grande intenção do internetês é escrever de uma maneira diferente. Quanto mais exótico, melhor. A arte é se tornar *quase* incompreensível, mas nunca totalmente incompreensível. O problema surge quando se tenta escrever para um grupo específico, os amigos mais chegados por exemplo, onde o que é quase incompreensível para estes é apenas um monte de caracteres aleatórios para outro grupo. Ao contrário da linguagem formal, essas bolhas de dialeto não possuem uma estrutura ou sintaxe comum e não é compartilhada por todos, praticamente por definição.

É interessante observar o quanto essa tendência é essencialmente incompativel com a forma que o conteúdo na internet está se organizando. Com a crescente supremacia de blogs, wikipedia e outras fontes de conteúdo dos próprios usuários da internet (a tal "web 2.0"), aliada com a total dependência nos mecanismos de busca para encontrar informações e com o sistema de anúncios distribuídos, como o AdSense, temos uma situação em que escrever diferente do que todo mundo escreve faz pouco sentido.

A medida que se pode ganhar dinheiro com conteúdo, através de anúncios fornecidos por terceiros, deseja-se tornar o conteúdo o mais acessível possível. E o principal meio de acesso é através de mecanismos de busca. Agora, enquanto existe uma única forma correta de se escrever uma palavra, existem zilhares de maneiras diferentes para escrevê-la errada. Mesmo considerando a burrice alheia, a probabilidade do seu conteúdo ser encontrado é maximizada ao se escrever correto. Isso por que a linguagem formal é compartilhada por todos, enquanto qualquer dialeto, por definição, é compartilhado por poucos.

Portanto, a medida que os anúncios se tornam mais populares, a tendência é termos blogs escritos de forma o mais correta possível, pelo menos no que diz respeito à sintaxe.

Ou assim espero.

julho 19, 2006

Pesadelo

São coisas como essa que não me deixam dormir a noite.

Parece-me possível usar o fenômeno das fendas duplas no nível quântico para testar algoritmos de criptografia ou pelo menos funções de "uma mão". Grava-se a informação, criptografa-se os dados e verifica-se se há ou não franjas. Se há franjas, o algoritmo funciona, caso contrário não. Seria uma prova tão forte quanto uma prova teórica...

Ou não. Se acreditarmos que tal prova é uma prova realmente forte, então ela realmente será - pois jamais tentaremos quebrar a criptografia e ler os resultados. Mesmo se a criptografia for fraca. As franjas apareceriam se o algoritmo for correto OU se acreditarmos que o algoritmo é correto. Pior. É necessário que todos os seres humanos ou seres pensantes que vierem a existir e ter acesso aos dados acreditem que é um algoritmo correto e não tentem quebrar o código. A presença de franjas seria a garantia de que nunca ninguém irá conseguir quebrar o código, seja por incapacidade ou por nunca tentar, o que na prática é o mesmo que ter um excelente algoritmo de criptografia.

Que diabos. Podemos fazer melhor. Criptografamos com um algoritmo reconhecidamente forte, que necessite uma senha (reconhecido talvez pelo experimento anterior, utilizando inicialmente senhas aleatórias devidamente apagadas após o processo). Enviamos a senha para o espaço, literalmente, para uma galáxia distante. Se não houverem franjas, significa que um dia conseguiremos rehaver a senha - isto é, conseguiremos alcançar a chave. Ou algo pensante alcançará a chave e virá à Terra obter os dados criptografados. De qualquer forma, teremos contato no futuro com galáxias distantes. E se enviarmos a chave usando ondas eletromagnéticas, em princípio JAMAIS alcançaremos a chave - mas se não houverem franjas, então deve haver vida inteligente para onde apontamos a senha, pois teríamos que viajar mais rápido que a luz para que nós mesmos pudessemos alcançar a senha. E saberemos que teremos construído um registro muito durável dos dados. Assim, o experimento da dupla fenda no nível quântico é uma bola de cristal se bem usado.

Bicho-papão nada. No meu armário tem uma fenda dupla. Minha esperança é que daqui a 50 anos iremos rir desse experimento dizendo algo como "haha e aí o cara esqueceu de tirar os óculos, o que causava a refração haha cientistas dessa época eram tão estúpidos".

julho 1, 2006

Futebol e Ciência

O post logo após a derrota do Brasil pela França nas quartas-de-finais é coincidência até onde eu sei. Mas pode ser que filosofia exija alguma dose de sobriedade que só a saída de uma Copa do Mundo permite.

Já foi dito que a Copa do Mundo adora odiar tecnologia, exceto nas transmissões das imagens. Mas se em algum nível as narrações e comentários dos principais canais de televisão refletem o pensamento comum dos técnicos das seleções, é possível que o futebol (brasileiro) também adore odiar ciência em geral.

Em uma entrevista coletiva recente, o técnico de Portugal, o brasileiro Luiz "Felipão" Scolari, afirmou ser um técnico da moda antiga. O que me fez perguntar o que é ser um técnico moderno exatamente. A primeira imagem de técnico moderno que me vem a mente é imprecisa: uma foto de Telê Santana como técnico do São Paulo (acho eu, os fãs que me corrijam) e com um notebook na mão durante um treino. Nunca soube o que ele via naquela tela e hoje temo que não fosse mais que um Paint onde ele rabiscava esquemas táticos. Ou um jogo de Paciência.

O economista Brian Arthur, no início da sua carreira, comentou com seu orientador que seu desejo era trazer a Economia (a ciência) para o século XXI. Seu orientador respondeu que, antes disso, a Economia tinha que alcançar o século XVIII. Do futebol tenho essa impressão também - mal podemos falar em um futebol atual se sequer temos um futebol moderno para nos basear.

O que seria um futebol moderno? Eu imagino algo mais próximo do baseball americano. Os jogadores têm estatísticas bem definidas que são acumuladas durante a carreira e são escolhidos e rejeitados com base nessas estatísticas, e não na potencialidade de jogadas milagrosas. O técnico não precisa ficar se justificando, os números falam por si só. Hoje, me parece, isso é feito de forma apenas implícita e de forma imperfeita. Uma análise mais quantitativa das diversas qualidades dos jogadores disponíveis permitiria decisões mais objetivas e eficientes. O futebol moderno também seria estratégico e não apenas tático, usando Teoria dos Jogos para tentar modelar possíveis resultados de diferentes estratégias. Hoje, cada time tenta se adaptar ao jogo do outro mas duvido muito que considerem que cada time está se adaptando um ao outro e que isso pode ser explorado para ou quebrar a expectativa comum ou para, pelo menos, equilibrar o jogo.

E o futebol do futuro? O futebol do futuro deixaria de ver uma partida como um jogo onde dois times parecem jogar sozinhos. Hoje é comum mencionar como um time está ruim em uma partida ou como em outra partida estava melhor, como se o adversário não fizesse a menor diferença para a qualidade do time. Um time só é bom ou ruim em relação a outro. Reconhecer o jogo como um sistema complexo onde a interação entre os times gera nichos e possibilidades de adaptação é um primeiro passo. Um segundo passo é livrar-se de esquemas táticos fixos e treinar o time para se adaptar sozinho ao outro time durante o jogo - aprender a ver possibilidades e falhas e aproveitá-las. Isso é o que ficamos o jogo todo esperando dos "gênios", que fazem isso implicitamente, mas sem conhecimento. Sistematizar esses momentos de genialidade é o passo crucial para um futebol realmente moderno.

Um futebol com essa abordagem passa a ser muito mais tático e assume que jogadores hábeis estão disponíveis e cujas habilidades sejam bem quantificadas. E passa a exigir muito mais cérebro desses jogadores. E dos técnicos. Assim, talvez o futebol se torne um esporte interessante e não apenas emocionante.

maio 29, 2006

Firefox e Internet Explorer

Tenho pensado e estudado sobre dinâmica de mercados, na minha luta por encontrar um tema para minha tese de doutorado, e um conceito interessante é o que economistas chamam de "market lock-in", ou travamento de mercado, que é quando um mercado opta por um único produto em detrimento de outros.

A idéia é facilmente ilustrada pelo fenômeno orkut no Brasil, ou MySpace nos EUA. O fato dos seus amigos estarem no orkut é um incentivo para você estar no orkut, e não em outro produto, e você estando no orkut é um incentivo para seus amigos permanecerem no orkut, o que gera um incentivo para outros amigos também entrarem. Ainda que possam existir outros software melhores tecnicamente, nenhum faz sentido se não houver ninguém utilizando-o. Travamentos de mercado ocorrem exatamente quando a escolha por um produto passa a fazer mais sentido a medida que mais pessoas optam por ele.

Não é um fenômeno de redes sociais unicamente. A briga por VHS e Betamax gerou um travamento de mercado. Uma vez que o VHS obteve uma pequena vantagem na escolha dos consumidores, as lojas passaram a estocar mais fitas VHS, o que gera um incentivo para que se compre mais videocassetes VHS, o que leva as lojas a estocarem mais... até que o Betamax é empurrado para fora do mercado. É um ciclo mais indireto que o caso do orkut, mas é forte o suficiente para ter garantido o monopólio do VHS.

E o que diabos isso tem a ver com o título deste post? Minha teoria é que é um erro estratégico o Firefox estar se adaptando aos padrões da W3C, ainda que seja muito bonito da parte deles. Isto por que a Microsoft não tem interesse em seguir os padrões da W3C, ou qualquer padrão aliás. Ela só pode garantir o travamento de mercado se garantir que a escolha pelo IE seja dependente da escolha das outras pessoas, como é o caso atualmente. Quanto maior a fatia de mercado do IE, mais sentido faz para os produtores de websites gerar código que rode bem no IE, em detrimento dos demais navegadores. Com isso, mais sentido faz para usuários optarem pelo IE, pois os sites são produzidos para ele. E assim por diante. E a MS tem o incentivo de manter o IE essencialmente incompatível com os demais navegadores.

Digamos que a MS opte por simplesmente seguir os padrões da W3C, assim como o Opera e Firefox. Nesse caso, é indiferente (em termos de visualização de sites) o navegador que se utiliza, não importando a fatia de mercado que cada um têm. O fato de mais pessoas usarem o IE não seria um incentivo para que outras pessoas o utilizem. Assim, a escolha se daria em função de outros fatores, como qualidade técnica, segurança, etc. Não estou dizendo que o IE não é ou não será tecnicamente bom, mas sim que esse é um modo muito mais difícil e instável de reter um mercado.

O Firefox, se tem esperanças de atrair grande número de usuários do IE, deve se adaptar ao IE e não aos padrões da W3C. Assim, quebra-se o ciclo que garante o travamento de mercado - passa a ser indiferente em termos de navegação o navegador que se utiliza. Só então passará a fazer sentido para os usuários mudarem de navegador.

Do outro lado, a melhor estratégia para a MS é permanecer incompatível com os demais navegadores, possivelmente aumentando a diferença para evitar que outros comecem a simplesmente emular o IE. De fato, o ActiveX é o carro chefe da incompatibilidade no IE, algo que nem pode ser copiado por outros. Suspeito que isso esteve na mente do Bill Gates ao introduzir a tecnologia.

O resultado é que não é uma tarefa fácil tirar mercado do IE. A única ajuda externa parece estar vindo dos desenvolvedores, tentando criar códigos cross-browser. Mas a menos que isso se torne extremamente simples para qualquer programador, é improvável que seja uma medida a ser adotada pela maioria. O Firefox se aproximando do IE garantirá esse efeito.

Isso tudo é para dizer que não é minha culpa que este blog aparece quebrado para o IE7. Ele foi feito seguindo o padrão W3C. É culpa do mercado.

dezembro 10, 2005

Mundo velho, afinal

O mundo, nos era prometido, seria um mundo cooperativo e livre. A força das massas seria canalizado para criar informação, produtos e ferramentas para as próprias massas, pelas próprias massas. Começou com o Software Livre, mas o melhor exemplo é (ou era) a Wikipedia.

Com as notícias do aperto nas restrições de edição na Wikipedia, começa-se a observar novamente que um mundo cooperativo não vive muito tempo sem a ação de cheaters. E cheaters, no mundo da informação, são pessoas que se aproveitam da confiança depositada no meio para espalhar inverdades, ou verdades parciais. É certamente um dos motivos por trás de terem dado a exclusividade à escrita de notícias a jornalistas apenas - jornalismo (e no caso, informação enciclopédica) não é para qualquer um.

Espero que a Wikipedia consiga se manter viva e ativa com as novas restrições, é uma fonte de consulta inigualável mesmo se a partir de hoje nunca ninguém mais escrever nela. Acho que estão certos em adotar tais restrições, o alcance e confiabilidade da Wikipedia trazem também certas responsabilidades - não é mais tolerável que certas informações falsas circulem sem considerações pelas suas conseqüências ainda que no limite elas sejam corrigidas pela equipe ou usuários.

O outro exemplo moderno de cooperação é o Software Livre, e mesmo esse já está mostrando seus limites. É claro que são (possíveis) limites de modelos atuais, que estão longe de serem fixos. O futuro parece promissor desde que as pessoas continuem devidamente motivadas. Imagino que isto deva continuar até o fim da Microsoft. Não teremos coragem de querer desbancar a Apple quando ela dominar o mercado, lá por 2110.

Seja como for, cooperação entre seres não muito altruístas é mais complicado do que ideologicamente queremos acreditar. Já dizia o sr. Axelrod.

outubro 20, 2005

Armas

Aparentemente o maior efeito desse plebiscito pela venda de armas está sendo criar uma cultura de armas inexistente no país. Se antes as pessoas sequer consideravem ter uma arma, hoje já pensam no assunto. O aumento explosivo de venda de munições nas últimas semanas é prova disso - as lojas estão ficando sem estoque já.

Esse é o problema com sociedades. Ao contrário do ditado popular, às vezes não pensar em um problema faz o problema desaparecer. Mas quando não desaparece, é melhor que as pessoas se informem sobre o assunto. Mas informação gera cultura e criar uma cultura sobre armas pode não ser o que um país deseja.

Acho que deviam adiar o plebiscito. Tivemos um aumento de venda de armas e munições, deveríamos esperar três meses e verificar o que acontece com a criminalidade. Se a teoria de que mais armas é bom, veremos uma redução no crescimento de crimes. E então poderemos tomar uma decisão realmente informada.

outubro 11, 2005

Cegueira de escolhas

Um interessante artigo sobre um fenômeno chamado "Cegueira de Escolha". O artigo relata um experimento onde aos sujeitos são mostradas duas fotos de rostos e solicita-se que se faça a escolha por um dos dois. Após feita a escolha, mostra-se a foto escolhida novamente e pede-se que a pessoa justifique sua escolha.

O truque é que a foto que é mostrada para que a pessoa justifique não é de fato a foto escolhida. Ela é trocada antes de ser mostrada novamente. Ainda assim, as pessoas justificam sua escolha como se tivessem realmente escolhido aquela foto. Observam na jusitificativa, inclusive, detalhes que não estavam na foto original, como brincos. Apenas 1/5 das pessoas se dão conta de que houve uma troca.

Os pesquisadores chamam isso de cegueira de escolha: uma vez feita uma escolha, a pessoa se apega a ela mesmo que as circunstâncias mudem. O cérebro parece tornar a pessoa cega às mudanças nos fatores da escolha e racionaliza para encaixar o novo fato à decisão já feita.

Evolutivamente, consigo entender como algo assim pode surgir. Tomar decisões é custoso e em geral o mundo não sofre mudanças drásticas, de forma que é uma melhor estratégia, após ter tomado uma decisão, se ater a ela. A suposição é que se a decisão pareceu boa no passado recente, ela provavelmente continua sendo boa - o mundo não é feito de pesquisadores sacanas. Para evitar que a pessoa se paralize com dúvidas, nosso cérebro ameniza as mudanças do ambiente, causando tal cegueira.

Mesmo que tal característica seja justificada pelo nosso passado evolutivo, hoje provavelmente é algo danoso. Acabamos não reavaliando nossas escolhas durante a vida e mudando nossas justificativas apenas para não ter que mudar a decisão. E o pior é que nem nos damos conta disso.

outubro 7, 2005

Dilema do Prisioneiro

Tenho recebido com freqüência um certo spam sobre o desarmamento que acaba com algo parecido com isso: "no dia em que o poder público puder oferecer segurança ao cidadão, serei o primeiro a levantar a bandeira do desarmamento. Mas quero ter certeza que serei o último a entregar as armas."

Isso me fez pensar que o desarmamento é como o dilema do prisioneiro. O dilema do prisioneiro é um jogo amplamente estudado na Teoria dos Jogos e é ilustrado como segue. Dois bandidos são presos pela polícia, colocados em salas separadas e são oferecidas as opções de delatar o parceiro ou não dizer nada (cooperar). Se um deles delatar e o outro não, o que não delatou se dá muito mal, pois é indiciado sozinho pelo crime (pega, digamos, 10 anos de cadeia) e o delator sai livre. Se ambos delatarem um ao outro, ambos se dão um pouco mal mas não tanto (pegam 5 anos de cadeia). Se nenhum dos dois falar nada, são indiciados por um crime menor e pegam algo como 1 ano de cadeia.

O dilema é o que deve cada prisioneiro fazer. O ideal seria ambos não falarem nada, pois ambos pegam uma pena leve. Mas se eu pensar assim e resolver cooperar, meu parceiro pode pensar "ah, ele vai cooperar; se eu delatar saio livre". Assim, o medo de que o parceiro delate impede que qualquer um dos dois coopere e ambos acabam delatando e essa é a escolha mais racional. É o medo da possibilidade de pagar um preço alto que impede que se consiga atingir a melhor das alternativas.

O desarmamento é análogo. Todo mundo pensa que entregaria as armas se houvessem garantias de que todo mundo vai entregar as suas (bandidos inclusive). Mas todo mundo quer ser o último. Ter uma arma quando ninguém mais tem é bom; não ter quando o vizinho tem é muito ruim; ninguém ter é muito bom. Mas é difícil cooperar (entregar as armas) quando há a possibilidade dos nossos parceiros delatarem (não entregarem as armas).

O dilema do prisioneiro, quando jogado na realidade, dá resultados que a teoria dos jogos não prevê e a cooperação ocorre com freqüência. Isso é devido a uma vontade inata, exceto talvez em políticos, de cooperar com o próximo ou pelo menos não fazê-lo se dar muito mal com nossos ganhos. Entregar as armas sabendo que há a possibilidade de que ninguém mais entregue é um exercício extremo de cooperação e confiança que bem pode ser fútil e irracional, para não dizer idiota e fatal, mas é a única maneira de tentar imaginar um mundo melhor no futuro.

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