| 3 Comments

A coisa mais bizarra, mais idiota, mais infantil e mais engraçada do nosso mundinho contemporâneo são as reações às autobiografias falsas.

Já falei do James Frey aqui. Esta semana teve dois outros exemplos. Margaret B. Jones, uma autora norte-americana que escreveu uma "autobiografia" sobre sua vida pobre nas gangues de Los Angeles. Ela admitiu que foi tudo inventado.

Da matéria: "O selo Riverhead Books, do grupo Penguin, que publicou o livro, vai devolver através das livrarias o dinheiro das pessoas que compraram o livro e se sentiram lesadas, disse Margaret Ducksworth, porta-voz da editora."

As pessoas vão dizer o que exatamente? "Eu gostei muito do livro... mas vocês mentiram pra mim!"?

A outra história é a mais engraçada. A septuagenária Misha Defonseca admitiu que sua "autobiografia" sobre a infância como judia durante o Holocausto foi inventada. O livro conta que, depois que seus pais foram deportados da Polônia, ela foi adotada por lobos que a protegiam dos nazistas.

Lobos.

Aí os jornais publicam seus artigos destacando que "Defonseca não é nem judia".

Sou da teoria do Todd Solondz: o que você coloca no papel vira ficção. Quando você conta uma história, ela vira um drama muito maior do que o que outra pessoa pode ter percebido do mesmo fato. Nossas percepções são individuais, nossas narrativas são ainda mais individuais, e a leitura da audiência é outra coisa individual. Eu contar que passei a tarde numa sala preparando aula é tão ficção quanto dizer que passei a tarde tocando guitarra com a banda do Elvis em Marte.

O que interessa é como as narrativas nos comovem. Ponto. Se um livro (ou um filme, ou uma letra de música, ou uma história de pescador) é ou não "a verdade verdadeira" não devia ser critério para avaliar se ele é bom ou não. E muito menos motivo para pedir seu dinheiro de volta.

3 Comments

concordo muito. pra mim nem faz muita diferença se o fato aconteceu ou não. parece que está rolando uma polêmica semelhante em torno de persépolis. ja assistiu?

Já não teve uma discussão (aqui mesmo, inclusive) sobre esse mesmo assunto envolvendo outra biografia? Ou estou tendo um déjà-vu?

Samanta: sim, eu escrevi algo sobre isso no Omelete. Mas alguém abafou o assunto - ou era tudo intriga criada pelos iranianos.

Ricardo: sim, do James Frey. Mas eu não consigo fazer links para posts individuais, então não linkei.

Categories

Monthly Archives

Tradutor

Powered by Movable Type 5.13-en

Tradutor

About this Entry

This page contains a single entry by Érico Assis published on mars 7, 2008 8:40 EH.

was the previous entry in this blog.

is the next entry in this blog.

Find recent content on the main index or look in the archives to find all content.